26 de outubro de 2014 | 08:06 Autor: Fernando Brito
Hoje é um dia raro, raríssimo: o dia em que somos iguais.
Essa igualdade que a história humana há milênios nega e que há tantos outros milhares de anos os homens procuram.
O carrão de luxo e o tênis velho e surrado levarão, cada um, apenas um voto para a urna.
Deus sabe o quanto se remoem de ódio deste dia aqueles que se consideram melhores, mais capazes, que se julgam donos das coisas, das pessoas, do país.
Os homens do “mérito” não conseguem compreender que são, como qualquer um de nós, apenas seres humanos miúdos e insuficientes, que sucumbiria de fome, sede e frio se não fosse parte de uma coletividade, onde produzem o que come, trazem-lhe água e tecem suas roupas.
Que os carros, os apartamentos, os bens são seus, mas as pessoas não lhes pertencem.
E que a vida só pode ser boa para um se for boa para todos, pois o contrário traz o conflito, o rancor, a brutalidade, a violência.
Tentaram, até o último minuto, transformar este dia no dia do ódio.
Quando perceberam o fracasso, redobraram a dose de ódio.
Um ódio sem fome: nem de comida, nem de justiça.
Ódio apenas a que todos tenham o que comer e que possam sonhar com justiça para seus filhos.
Não aceitar que o mundo e a vida sejam feitos de ódio, mas de generosidade, é como isso pode ser derrotado.
Há mais de 70 anos, no lindo discurso final de O Grande Ditador, Charles Chaplin parecia ver o que aconteceu, nestes dias, no Brasil:
” O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma dos homens… levantou no mundo as muralhas do ódio… e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.”
Eu vou desligar agora meu computador.
Vou para a rua, para urna.
Do mesmo jeito que irá meu irmão e minha irmã mais pobres, do mesmo jeito que irá meu irmão e minha irmã mais ricos.
Com a mesma certeza e as mesmas apreensões de quem me lê, que vai fazer igual.
Vamos, então.
Por mim, por meus filhos, por você e os seus, por todos os seres humanos, meus iguais, seus iguais.
O país não está dividido, senão por aquelas muralhas do ódio.
O povo brasileiro, na sua simplicidade, há de desmanchá-las hoje, ainda que amanhã, teimosamente, eles tentem reconstruí-las.
Mas hoje, não.
Hoje é um dia raro, raríssimo: o dia em que somos iguais e irmãos.
O dia em que somos donos dos destinos do Brasil.
Publicado por Fernando Brito, no Tijolaço
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