sexta-feira, 3 de outubro de 2014

No último debate, candidatos fazem disputa mais quente

Discussão teve até dedo em riste, falas fora de hora e ironias
03/10/14 - 01H24
Depois de encontros mornos nas ocasiões anteriores, sete candidatos a presidente da República fizeram um debate quente na última oportunidade que tiveram de se encontrar, nesta quinta-feira, na TV Globo. Com ataques e respostas duras, Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (PSB), Aécio Neves (PSDB), Luciana Genro (PSOL), Eduardo Jorge (PV) e Levy Fidelix (PRTB) trocaram farpas. Só Pastor Everaldo (PSC) optou por uma postura distinta, usando suas perguntas para levantar assuntos que ajudassem Aécio a bater no governo. Ele só levantava a voz para criticar Dilma, nunca em perguntas diretas a ela.
O clima esteve pesado nas duas extremidades apontadas pelas pesquisas. Enquanto Dilma, Aécio e Marina se acusavam, Eduardo Jorge e Luciana Genro faziam uma batalha contra Levy Fidelix, que respondia na mesma moeda.
Brigando ponto a ponto pelo segundo turno, Aécio e Marina preferiram mirar mais em Dilma Rousseff, que lidera a disputa, de acordo com as pesquisas. Receberam, além das respostas da candidata, os ataques de Eduardo Jorge e, sobretudo, Luciana Genro, que também alfinetaram a presidente. Enquanto a candidata do PSOL usava todas as suas intervenções com opiniões ácidas, Eduardo Jorge esperava as tréplicas para cutucar sem ouvir nada de volta.
Com ânimos exaltados, expressões pouco comuns em debates modernos ganharam espaço. Levy Fidelix chamou Eduardo Jorge de "cara", mandou ele "virar essa boca para lá". Luciana Genro exigiu que Aécio não levantasse o dedo para ela. Marina falou mesmo sem ter direito a resposta, ao ficar indignada com uma fala de Dilma.
Também houve momentos que provocaram risadas, como quando Pastor Everaldo tentou driblar o tema definido em previdência para tratar de obras do PAC e foi vetado por William Bonner, mediador do programa. Aécio brincou por não poder chamar Dilma para responder e Levy Fidelix disse que elevaria o nível ao conversar com Pastor Everaldo, depois de dizer que iria "enquadrar Luciana Genro".
Em relação a propostas, Dilma destacou seus pontos para melhorar o combate à corrupção. Aécio defendeu melhorar o Bolsa Família em algumas faixas de renda, enquanto Marina propôs um 13º para o benefício. Enquanto Eduardo Jorge defendeu uma reforma tributária com imposto único, Pastor Everaldo voltou a falar em estado mínimo e Luciana Genro defendeu o fim da atual política de repressão às drogas com empenho policial nas favelas.
OS EMBATES
DILMA X MARINA
O primeiro duelo entre as duas líderes nas pesquisas se deu justamente no tema que causou mais celeuma na propaganda eleitoral: a independência do Banco Central. Na pergunta, Marina Silva apontou que Dilma teria uma posição no governo e outra na campanha. A presidente acusou a socialista de confundir propositalmente autonomia, que ela afirma defender, e independência, como estaria no programa de Marina. "Sugiro que a senhora leia o seu programa", atacou a petista. "Está falando a Dilma das eleições, que não tem experiência política e nunca foi nem vereadora", rebateu Marina na réplica. "Essa é a nova política? Que acha que só quem foi deputado e senador pode ser presidente?", indagou a presidente na tréplica.
Em pergunta de tema livre, Marina afirmou que Dilma não cumpriu suas propostas da última eleição. A presidente discordou e afirmou que Marina não conseguiria fazer melhor os programas sociais que o atual governo implementou. Marina acusou Dilma de varrer a corrupção para debaixo do tapete. "Você não regulamentou a lei de combate à corrupção. E a saída do diretor de abastecimento da Petrobras foi uma negociação premiada", acusou a socialista. Dilma então atacou a ex-ministra do Meio Ambiente do governo Lula, do qual também participou. "Seu diretor de fiscalização no Ministério do Meio Ambiente foi afastado no meu governo por crime de desvio de recursos e nem por isso eu saí por aí dizendo que você conhecia a corrupção". Mesmo sem direito a outra intervenção, Marina falou, com o dedo em riste, reclamando da postura da presidente.
DILMA X AÉCIO
Na disputa entre a petista e o tucano, o primeiro tiro foi dado por Dilma. Na pergunta sobre o papel das estatais, ela questionou o candidato sobre posturas dele em favor de privatizações, acusando-o de cogitar fazer o mesmo com a Petrobras. Aécio contestou a palavra de Dilma sobre a demissão de Paulo Roberto Costa na empresa. "Faltou a senhora dizer qual foram os relevantes serviços prestados, como consta na ata da saída dele", disse, para depois defender as privatizações realizadas no governo Fernando Henrique Cardoso. A presidente afirmou que os tucanos deixaram o Banco do Brasil e o Caixa em situação precária e apontou irresponsabilidade nas concessões do governo FHC. Aécio afirmou que "a organização criminosa que tomou conta da Petrobras é a marca do governo do PT".
Em outra pergunta, Aécio afirmou que Dilma fracassou na política econômica e no controle da inflação. Dilma então comparou seus dados com os do governo anterior. "O governo do seu partido quebrou o país, praticou inflação acima da meta. Vocês desempregaram 12,5%. As taxas de juros bateram todos os recordes na gestão do Armínio Fraga (ministro já anunciado em um eventual governo Aécio). Vocês colocaram o Brasil de joelhos diante do FMI", atacou a presidente. "Nem a competência do seu marqueteiro é capaz de reescrever a história. O governo FHC pegou a inflação em 916% e deixou em 7%, com um pico de 12%", rebateu Aécio. Dilma ainda afirmou que Aécio faz propostas que já estão em vigor, como remédios gratuitos para aposentados.
AÉCIO X MARINA
Na disputa entre os dois candidatos que tentam chegar ao segundo turno com a presidente, de acordo com as pesquisas, Aécio Neves quis saber sobre a presença de Marina no PT durante o período do mensalão e perguntou onde ficava a nova política naquela época. Marina foi ao ataque: "Vossa excelência esteve em um partido que praticou o mensalão. Foi ali que começou, com a emenda da reeleição. E o senhor também ficou no partido. Eu nunca vi o senhor fazer uma crítica a essa origem do mensalão". Aécio reagiu citando ex-companheiros petistas derrotados em eleições que ganharam cargo no Ministério do Meio Ambiente. "Nada mais antigo que isso", acusou. Marina então questionou se os derrotados de seu partido também serão considerados velha política.
Aécio quis saber se Marina Silva iria mexer na legislação trabalhista. Ela negou e atacou o que considerou incoerência de Aécio no que diz respeito ao fator previdenciário. Aécio rebateu: "Não coloque palavras na minha boca. Aqui quem muda de posição a todo momento não sou eu", afirmou. Marina lembrou que Aécio não apresentou programa de governo, em sua tréplica.
NANICOS X GRANDÕES
Eduardo Jorge e Luciana Genro foram ao ataque contra o três líderes da pesquisa. Luciana, por exemplo, voltou a dizer que Aécio, quando critica Dilma, faz o papel "do sujo falando do mal lavado". O tucano disse que tinha um programa pronto, ao contrário da candidata do PSOL, que reagiu: "O senhor anda de jatinho e recebe alto salário. O teu economista chegou a falar que o salário-mínimo aumentou demais e que desemprego é necessário. E o senhor é tão fanático da corrupção e da privatização que fez um aeroporto com dinheiro público e entregou a chave para o seu tio". Na tréplica de Aécio, ele acusou Luciana de mentir. "Não seja leviana", disse, colocando o dedo em riste. Ela reagiu pedindo: "não levante o dedo para mim".
Na discussão sobre “Custo Brasil”, Eduardo Jorge acusou Aécio, Marina e Dilma de não ter propostas para reforma política. "Votar nele, na Dilma e na Marina é dar um cheque em branco sobre a área tributária". Na discussão com Dilma sobre saneamento, ele criticou os índices alcançados pela presidente e afirmou que ela tem uma postura "imperial". A petista disse que "cumpre a Constituição". Já no embate com Luciana Genro, a presidente teve que ouvir que o tesoureiro do PT está envolvido no caso das denúncias na Petrobras, após dizer que tem propostas concretas contra a corrupção. Luciana ainda acusou o PSDB de usar os mesmos métodos de alianças, que geram casos de corrupção. Dilma afirmou que "não são as alianças que definem corruptos. Corruptos há em todos os lugares".
Marina Silva também foi alvo de Luciana Genro. Em pergunta sobre segurança, ela migrou sua opinião para a área econômica e acusou a candidata do PSB de ter políticas que trariam cortes e arrochos para o trabalhador. Depois, afirmou que Marina jogou fora seu programa de governo por críticas do pastor Silas Malafaia. "Na verdade meu plano é melhor que o da Dilma e do Aécio e parecido com o seu. Você faz críticas por conveniência", respondeu Marina.

EDUARDO E LUCIANA X LEVY FIDELIX
Após as declarações homofóbicas que geraram polêmica no debate da Record, Levy Fidelix trocou duras acusações com Eduardo Jorge e Luciana Genro. O primeiro a tocar no ponto foi o candidato do PV. "Na última vez, o senhor extrapolou e agrediu a população LGBT. O senhor ofendeu 99,9% dos brasileiros. Eu proponho que o senhor peça perdão", disse Eduardo Jorge. A reação foi imediata: "Você não tem moral para falar disso. Você, acima de tudo, propõe que o jovem consuma maconha, o que é crime. Você faz apologia ao aborto, apologia a crime", atacou. O candidato do PV desafiou Fidelix a processá-lo como seu partido está fazendo com o nome do PRTB. "Me envergonha você, cara, me desafiar. Vire sua boca para lá", afirmou.
Logo na sequência, Levy Fidelix continuou em evidência. Ele questionou Luciana Genro, afirmando que o marido da candidata lhe procurou no último debate para pedir que ele perguntasse a ela, para que ela pudesse questionar Marina. "A senhora não tem palavra", disse. "Nunca rompi minha palavra. Mas o senhor apavorou, chocou e ofendeu milhares de pessoas com um discurso homofóbico. O senhor incitou o direito de uma suposta maioria enfrentar uma minoria. Isso já ocorreu no passado. Assim se deu com a escravidão, o genocídio, o holocausto. Seu discurso de ódio foi o dos nazistas contra os judeus, dos racistas contra os negros. Se a homofobia fosse crime o senhor sairia daquele debate algemado", respondeu Luciana Genro. "Mentira sua. Eu não fiz apologia. Não pedi que as pessoas atacassem ninguém. Apenas defendi a família e você turbinou nas redes sociais para me incriminar", reclamou Levy Fidelix. 

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