Em estado de emergência por causa do caos nas contas públicas, Prefeitura de Diamantina teme não conseguir arcar com os custos da folia, que no ano passado ficaram em R$ 900 mil
Publicação: 12/01/2013 06:00 Atualização: 12/01/2013 09:30
Mais de 40 mil pessoas participam da folia na cidade, o que exige uma estrutura gigante para garantir shows, segurança e atendimento de saúde
Um dos carnavais mais famosos e tradicionais de Minas Gerais e do Brasil, o de Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, pode ser comprometido por dívidas estimadas em cerca de R$ 3,5 milhões e dificuldades deixadas pela gestão de Padre Gê (PMDB) à frente da prefeitura. O empresariado, o setor hoteleiro e o prefeito interino, Maurício Maia (PSDB), que assumiu o posto com a cassação do prefeito eleito, Paulo Célio (PSDB), se esforçam para garantir que a festa, que no ano passado custou R$ 900 mil aos cofres da cidade, aconteça mesmo assim. “A gente tem que ter pé no chão, porque fazer um carnaval de que ninguém vai gostar não vale a pena. Vamos trabalhar muito para que a cidade mantenha a sua festa tradicional, com seus blocos e vários shows”, afirma Maia, que na quinta feira assinou um decreto de estado de emergência que manterá a prefeitura fechada até o dia 18.
Uma reunião de urgência foi realizada na tarde dessa sexta-feira para discutir a situação do carnaval com representantes do setor de turismo da cidade, empresários, Corpo de Bombeiros e Polícia Militar e outra já está marcada para segunda-feira, quando, segundo a secretária de Cultura, Bya Betelli, “será batido o martelo”. Ela acredita que a saída será a realização de uma parceria público-privada envolvendo donos de pousadas e de restaurantes e comerciantes. “Diamantina tem uma importância enorme, nós não podemos deixar de fazer o carnaval. Os empresários da cidade sempre nos ajudaram, não tem por que eles não nos ajudarem agora”, completa.
Os tradicionais shows da Praça do Mercado, com as bandas Bartucada e Bat-caverna, que não são bancados pela administração municipal, e o Bloco do Biri-Biri estão garantidos. “O carnaval vai acontecer, mas não vai ser com toda a estrutura que teve no ano passado. Estamos correndo atrás para garantir uma festa de qualidade para o folião e estamos tentando viabilizar outros palcos espalhados pela cidade”, diz o produtor cultural Ricardo Luiz Santos, que trabalha na prefeitura.
No ano passado, além do palco principal, sete palcos espalhados pela cidade garantiram a diversão dos cerca de 40 mil turistas de todo o Brasil e de várias partes do mundo. Mesmo com toda a estrutura de um dos maiores carnavais do país, a cidade sofreu com lixo espalhado e com o mau cheiro de xixi. Este ano, a prefeitura pode ter dificuldades para garantir limpeza, segurança e conforto para quem vai visitar Diamantina. O número de ambulâncias e plantonistas que mantêm os hospitais em pleno funcionamento no período também é outra preocupação.
Presidente da Associação Diamantinense de Empresas Ligadas ao Turismo (Adeltur) e proprietária da Pausada do Garimpo, Mariana Pereira admite que a procura por hospedagem está um pouco abaixo do esperado para o feriado. Cármen Couto Nascimento, dona da Pousada Relíquias do Tempo e também diretora da entidade, afirma que a baixa procura é causada pela época do carnaval, no começo de fevereiro. “Quando ele é nesse período, as pessoas demoram mais para reservar hospedagem. Elas fazem isso depois que voltam das férias. Acredito que a cidade vai ter um carnaval muito bom, é uma festa muito tradicional e os diamantinenses não vão deixar que ela fique para trás”, afirma.
Vaivém na prefeitura
O prefeito eleito, Paulo Célio, foi impedido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de tomar posse, devido a irregularidades antigas do vice-prefeito eleito, Gustavo Botelho (PP), que já exerceu o cargo de prefeito, entre 2001 e 2008. O TSE impugnou a chapa. Com isso, quem assumiu foi o presidente da Câmara, Maurício Maia, do mesmo partido de Paulo Célio, mas novas eleições devem ser marcadas em breve pelo tribunal.
O prefeito interino herdou de Padre Gê uma prefeitura com graves problemas. Gê foi alvo de uma comissão parlamentar de inquérito na Câmara Municipal, concluída no fim do ano. Segundo o decreto de emergência de Maia, a prefeitura deve pouco mais de R$ 1 milhão só em salários de servidores, que não receberam os dedezembro. A quantia não foi nem empenhada na folha de pagamentos e a Câmara da cidade vai se reunir também na segunda-feira para autorizar o pagamento emergencial dos funcionários municipais. Além disso, o texto informa que o lixo acumulado é outro problema, já que, sem receber, os garis ameaçam fazer greve. O prefeito informou que a coleta de lixo será normalizada somente depois do dia 18, quando a prefeitura volta a funcionar.
Cancelado
A cidade de nome sugestivo e carnaval tradicional no Sul de Minas, Santa Rita do Sapucaí, anunciou na quinta-feira o cancelamento da festa por motivos semelhantes aos que preocupam os turistas que vão para Diamantina. A dívida do município chega a R$ 3 milhões, segundo informou o prefeito Jefferson Gonçalves (PR), e os gastos com a folia giram em torno de R$ 600 mil. Blocos e escolas de samba que já tinham tido gastos antecipados e comerciantes da cidade lamentam a situação.
Um comentário:
Pra construir estádios não tem crise néh??
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