Agora é Dilma?
A pesquisa Datafolha dá o tom do “momento Dilma”. Ultrapassa a popularidade de Lula no primeiro ano de governo (tanto na primeira, quanto na segunda gestão). E atropela todos outros Presidentes da República, desde o fim da ditadura militar.
O que sustenta seu nome para a reeleição, embora a sombra de Lula (vide a sua presença na posse de Mercadante, hoje, em Brasília) continue sendo a mesma de um sombreiro. Esta sombra, aliás, é o principal fator da popularidade de Dilma: a herança do consumo interno, de massa. Em seguida, o apoio da grande imprensa, que por motivos distintos (moralismo histórico, de tipo udenista ou motivação partidária, anti-lulista, procurando diminuir os espaços do criador). A soma da inclusão pelo consumo com apoio da grande imprensa gera a boa avaliação.
De minha parte, prefiro Lula à Dilma. Explico. Lula repõe e valoriza a política como elemento central da gestão pública. Dilma é gerencial, mais próxima da cartilha tucana (que não é programaticamente distinta do lulismo, mas se diferencia da prática ou modus operandi - forma pedante de dizer a mesma coisa). O jeito Dilma de governar atrai a grande imprensa, mas afasta o grande público da política. O que diminui as chances de criação de mecanismos de controle social. Os controles criados por Dilma são todos internos, de tipo empresarial. Não são políticos, de confrontação de saberes, valores e intenções. Como fui da equipe de Paulo Freire e trabalhei minha vida toda no sentido da construção da autonomia política dos não profissionais da política, não me conforta o estilo Dilma de governar. É muito pouco para o país que pensamos redemocratizado.
Por outro lado, temo que Lula crie um poder intransponível, um bloco no poder ou uma estrutura política hegemônica que diminua até o limite os espaços da oposição o que, convenhamos, desidrataria a democracia brasileira. Seria algo no estilo chinês, com a ginga tupiniquim. Mesmo assim, pelos compromissos históricos ou até mesmo pela manutenção da aura popular e um fio de esquerda, Lula sempre deixa brechas para se avançar no rumo da democracia deliberativa. Não muitas brechas, é verdade. Com Dilma, não há nenhuma possibilidade ou promessa da sociedade civil participar ou interferir diretamente. Com Dilma, ocorre um aggiornamento do Estado brasileiro, que se fortalece e se torna autóctone e profissional. Com Dilma, nos aproximamos dos modelos anglo-saxões de gestão. Muita gestão e pouca política.
Texto do cientista político Rudá Ricci, no Blog de Esquerda em Esquerda
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