O colunista Gustavo Conde analisa o cenário eleitoral e o pânico que a democracia causa em certos setores da sociedade brasileira. ele diz: "o problema é que o PT não é um partido político nos moldes dessa avacalhação partidária brasileira. O PT é um fenômeno social, é o partido que abalou as estruturas conservadoras do país, é o partido que governou o país por 13 anos, que incluiu 40 milhões de pessoas no universo do consumo e que só saiu com um golpe (porque no voto estava difícil)"
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O PT assusta. De novo
Gustavo Conde*
O movimento "sufoca
PT" está forte. Muita gente embarcando sem saber.
É a
Globo querendo dividir o partido, é o PSB flertando com possível fusão com o
PCdoB (sob a alusão ridícula de "MDB de esquerda"), é a candidatura
Boulos-Erundina (que é maravilhosa) tomando a emocionalidade de setores
progressistas que fazem ignorar completamente as articulações do PT em São
Paulo (que, gostemos ou não, existem, são democráticas e representam grande
massa eleitoral na capital).
Muita gente, afinal, querendo
que o PT apoie Boulos de cara. Ingenuidade atroz. Se o PT fizer isso, pode até
prejudicar a candidatura de Boulos (vide Freixo no Rio).
É muita impulsividade, muito
trauma e muita aposta errada na hora errada.
O que se vê, concretamente,
neste momento, é um movimento geral de sufocamento do PT.
O PT é muito grande para as
pretensões gerais nesse esfacelamento partidário, político, econômico,
sanitário, histórico e ideológico pelo qual o país passa.
Eles
querem que o Brasil volte a ser Brasil do PT sem o PT.
O PT foi - é e sempre será - o
partido mais agredido, perseguido e odiado por nossas elites. Ele ocupa essa
posição porque incomoda de fato. Essas elites, com seu discurso fajuto de
conciliação, seduzem até parte da esquerda a continuar proscrevendo o PT - já
que ele ocupa o maior espaço dentro da esquerda.
O problema é que o PT não é um
partido político nos moldes dessa avacalhação partidária brasileira. O PT é um
fenômeno social, é o partido que abalou as estruturas conservadoras do país, é
o partido que governou o país por 13 anos, que incluiu 40 milhões de pessoas no
universo do consumo e que só saiu com um golpe (porque no voto estava difícil).
O PT
deveria ter o apoio geral e irrestrito da população brasileira progressista que
se dá ao respeito. O partido sofreu a mais impressionante violência já
registrada a partidos políticos: golpe contra uma presidenta eleita e prisão do
melhor e mais popular presidente da nossa história.
O PT sabe "apanhar".
Passou a vida apanhando e não reclamando. Pelo contrário: optou por fazer,
ganhando, perdendo, aceitando derrotas eleitorais, entendendo as vitórias e
governando.
A Globo morre de medo de ter um
PT gigantesco de novo cafungando no cangote das elites, mas com a inteligência
de sempre - muita gente acha que o PT faz acordo com as elites; ledo engano: o
PT, enquanto instituição e "ideia", sabe lidar com essa gente podre,
sem sujar as mãos (haja vista o pânico que tais setores têm do partido).
Eis que o momento é esse: medo
do PT, de novo. Síndrome de Regina Duarte. Busque-se todas as alternativas
possíveis para se evitar o PT em São Paulo, no Rio, em Porto Alegre (Manuela
que se cuide, porque a irracionalidade política das militâncias que disputam o
mesmo espaço dentro da esquerda pode favorecer o adversário na hora do
"vamos ver" - anotem e rezem para eu estar errado).
Nós
ainda estamos injustos e egoístas com relação ao PT, todos nós - não só a elite
genocida.
A esquerda não petista quer
montar partidos novos? Quer ter seus candidatos puro-sangue novos? Quer
protagonizar?
Maravilha. Vão em frente,
inclusive com a ajuda do PT.
Mas, seria interessante não
ostentar ingratidão a níveis conhecidos de agressividade cirista, para citar um
exemplo de um falso pretenso líder de esquerda.
O Brasil não aguenta mais tanta
burrice.
Publicado no Brasil247.com
Gustavo Conde
Gustavo Conde é linguista.
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