No 20º dia após os primeiros casos, Itália tinha 3 diagnósticos confirmados; Brasil soma 291 confirmações.
Folha de S.Paulo, 18.03.2020, às 12:09h.
Vinte dias após o primeiro paciente receber o diagnóstico de Covid-19 no Brasil, o país contabiliza 291 casos confirmados da doença causada pelo novo coronavírus.
Para comparação, no 20º dia após seus primeiros casos, Itália e Espanha tinham, respectivamente, 3 e 2 diagnósticos confirmados.
O salto da Itália foi rápido a partir do vigésimo dia —supõe-se que em grande parte devido a falhas em um hospital de Milão. Em 23 dias já eram 155 casos e três mortes; entre o 29º e o 30º dias, a epidemia explodiu e foram registrados mais de mil casos e 29 mortes. Hoje já há mais de 31 mil pessoas com Covid-19 no país de cerca de 60 milhões de habitantes.
Já a Espanha, com aproximadamente 47 milhões de pessoas, tem mais de 11 mil infecções confirmadas.
O número absoluto de casos faz bastante diferença em uma epidemia como a do coronavírus. Como o seu crescimento é exponencial, uma quantidade maior no dia 20 indica que o total tenderá a ser ainda maior passados mais alguns dias. Como consequência, também há uma tendência de mais casos graves e mais mortes.
O Irã, por outro lado, seguiu um ritmo distinto: tinha 8.000 confirmações no seu 20º dia, mas só dobrou esse número —hoje tem um total de mais de 16 mil.
Já a China ainda nem tinha uma quantificação oficial do surto 20 dias após o primeiro caso. Cientistas estimam que a primeira pessoa a contrair o Sars-Cov-2 (nome oficial do patógeno) tenha se infectado no final de novembro de 2019.
O vírus foi identificado somente no dia 7 de janeiro, e só após o dia 21 de janeiro, quando havia mais de 500 casos, é que os dados chineses começaram a ser sistematicamente disponibilizados.
Singapura e Coreia do Sul, exemplos positivos de como lidar com o coronavírus, não tinham tão poucos pacientes quanto os países europeus no 20º dia —58 e 28, respectivamente—, mas já adotavam medidas para conter a doença.
Singapura, em seu 20º dia, 12 de fevereiro, tinha um dos maiores números de infectados fora da China (que já somava na data quase 60 mil casos).
O número relativamente alto se devia ao programa de testes, que diagnosticou pessoas com sintomas leves.
A proibição à entrada de pessoas que passaram pela China aconteceu em 3 de fevereiro e a de quem tivesse passado pela Coreia do Sul veio depois, em 26 de fevereiro.
Da mesma forma, a Coreia do Sul testou o máximo possível de indivíduos suspeitos ou com relação com pessoas infectadas e se tornou referência para o mundo por seu modo de lidar com a epidemia.
Em seu 20º dia de epidemia, em 10 de fevereiro, o estágio de alerta era intermediário. Testes diagnósticos já eram distribuídos para postos de todo o país e todos os viajantes provenientes da China passaram a ser monitorados.
Depois de um pico no número de casos na Coreia do Sul (provavelmente causado por uma única pessoa que não foi adequadamente isolada e infectou centenas em uma igreja), o alerta subiu e a intensidade da resposta também.
Os indivíduos suspeitos passaram a ser monitorados, e os testes ganharam escala. Em 53 dias, o país de 51 milhões de habitantes já acumulou mais de 250 mil testes realizados.
No Brasil, que tem 209 milhões de habitantes, o número de testes realizados (entre suspeitos, confirmados e descartados) até esta terça (17) é de cerca de 11 mil, segundo o Ministério da Saúde. O teste tem sido feito apenas em pacientes mais graves.
Em entrevista à Folha publicada nesta quarta (18), Mariângela Simão, diretora-assistente da Organização Mundial de Saúde, afirmou que os brasileiros estão minimizando o risco da doença.
A Fiocruz está aumentando a produção de kits diagnósticos para suprir a necessidade do sistema público do país.
Até agora, cerca de 20 mil kits foram disponibilizados. O Ministério da Saúde disse que avaliaria a sugestão da Organização Mundial da Saúde de ampliar a testagem, apesar do custo —cada exame custa mais de R$ 100— e da necessidade de importação dos insumos. O setor privado também aumenta sua produção.
Um artigo publicado nesta semana na revista médica Jama argumenta que países de renda baixa e média (categoria na qual está o Brasil) podem ter maiores dificuldades para lidar com a pandemia.
A recomendação é que o diagnóstico clínico seja feito caso testes moleculares não sejam possíveis. Outra preocupação é manter altos os estoques de medicamentos e outros itens necessários em internações, como respiradores.
Os EUA também tinham menos casos que o Brasil em seu 20º dia —apenas 13—, mas o baixo número de testes pode ajudar a explicar.
Desde que começaram a circular as primeiras notícias sobre o vírus, no fim de janeiro, americanos encontram dificuldade para fazer o exame em diversas cidades do país.
As autoridades de saúde têm priorizado até agora pessoas que com os principais sintomas (febre e tosse seca) e que estiveram em contato direto com pacientes com diagnóstico.
Os problemas vão desde escassez no número de testes e material disponíveis até a morosidade dos protocolos.
Nenhum outro país, porém, teve um início de surto tão ruim quanto o Irã, que anunciou duas mortes já no primeiro dia de epidemia.
A falta de estrutura do sistema de saúde e até de material estão na raiz do problema. O país não impôs quarentenas e as autoridades de saúde têm entrado em conflito com as religiosas.
Até agora, o governo brasileiro não adotou medidas muito drásticas —o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) anunciou nessa terça-feira (17.03) que vai fechar a fronteira do Brasil apenas com a Venezuela.
Além disso, o isolamento para viajantes, de sete dias, só é recomendado para pessoas com diagnóstico confirmado e contatos próximos.
MORTES NA ITÁLIA SOBEM 16% EM 24 HORAS
O número de mortes na Itália subiu de 2.158 para 2.503 nas últimas 24 horas, um aumento de 16%.
O total de casos confirmados também aumentou —de 27.980 para 31.506 no mesmo período.
Neste momento, o país tem cerca de 600 mortes a menos do que a China, que vive o surto de Covid-19 desde o fim de 2019.
Fonte: Folha de S.Paulo
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