PUBLICADO EM 30/11/16 - 03h00
Um incêndio florestal – considerado um dos piores desastres ambientais da história do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais – pode ter sido criminoso e, mesmo assim, corre o risco de ficar sem esclarecimentos. O fogo consumiu cerca de 2.500 hectares (o equivalente a 2.500 campos de futebol) de vegetação de Mata Atlântica e Cerrado em uma fazenda entre as cidades de Coronel Murta e Itinga, há mais de um mês. Até o momento, as investigações sobre a autoria das chamas, que foram combatidas pelos bombeiros, não avançaram.
Segundo um servidor da delegacia de Polícia Civil de Araçuaí, na mesma região, que pediu para não ser identificado, o caso nem sequer foi encaminhado para ser investigado pela corporação. Já a assessoria do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) – que teria recebido uma denúncia do caso – informou que a promotoria de Araçuaí também não teve conhecimento do incêndio.
De acordo com o chefe do Departamento Municipal do Meio Ambiente de Coronel Murta, Vital Moutinho, as chamas atingiram um local de difícil acesso, que era refúgio da fauna nativa da região. “A área estava preservada há muito tempo, tinha árvores como perobas e aroeiras, além de aves e animais como tatus, veados campeiros, pacas e até onça parda. É uma pena”, disse.
Na opinião da superintendente executiva da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda), Dalce Ricas, a falta de investigação dos incêndios florestais é um incentivo para que eles continuem ocorrendo no Estado.
“Estimamos que 95% desses incêndios não sejam investigados. Raramente se consegue estabelecer uma relação direta entre a pessoa que inicia as chamas e o desastre ambiental, a não ser que ocorra um flagrante”, detalhou.
Para Dalce, um avanço na apuração dos casos poderia intimidar os proprietários rurais que têm as queimadas como prática corriqueira. “É comum que um lugar pegue fogo e que o dono não chame os bombeiros, porque ele mesmo que ateou. Só quando sai do controle é que ele pede socorro. Uma investigação mais profunda seria positiva para fazer eles pensarem duas vezes”, afirmou.
NÚMEROS
Fiscalização. A equipe de fiscalização da Semad é composta por 565 técnicos. Já a equipe da Superintendência de Estratégia em Fiscalização Ambiental (Segis) tem 80 fiscais, que atendem urgências.
Resposta. A reportagem procurou o Instituto Estadual de Florestas (IEF) nessa terça, mas nenhum responsável do órgão foi localizado. Na manhã desta quarta-feira (30), o IEF informou que não foi comunicado sobre o incêndio e, por isso, não poderia se pronunciar sobre o ocorrido.
Área não poderá ter plantação
O avanço da cultura do eucalipto na região do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, pode ter motivado o incêndio que devastou os 2.500 hectares, na opinião do chefe do Departamento Municipal do Meio Ambiente de Coronel Murta, Vital Moutinho, já que o terreno devastado fica próximo a uma plantação da árvore.
“O desmatamento na região tem se agravado bastante com essa nova cultura. Imaginamos que tenham incendiado o terreno para plantar eucaliptos depois”, avaliou Moutinho.
Avaliação. Porém, segundo a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais (Semad), uma área de mata que tenha sido queimada não pode abrigar uma plantação. “Áreas degradadas devem ser recuperadas e não podem ser utilizadas para outras atividades”, afirmou a Semad, por meio de nota.
Fonte: OTEMPO
Nenhum comentário:
Postar um comentário