Eu andava cansado de viver, sem competência! Tamanho era o sofrimento.
Assim falava o Zé da Silva na beira do rio.Falava para si mesmo.
Saudades dos velhos tempos!
Sou como um jequitibá maduro, mas vim endurecendo as pressas sem perder a ternura. Enquanto existir os arvoredos, as florestas, as mãos boas para cuidar da terra, enquanto existir águas cristalinas para passarinho molhar o bico e eu lavar minhas precatas. Enquanto existir sentimento de justiça e amor no coração dos brasileiros eu vou vivendo. Nunca levo desaforo para casa. Não abaixo a cacunda pra ninguém.
A dor é como um relâmpago que alumia os caminhos.
Corre o rio desde sempre dando vida aos vales. Eu que sou mineiro só conheço os rios, não foi me dado o mar, mas o rio Jequitinhonha tenho a mais natural e maior intimidade com ele. Eu percebo que ele corre dentro de mim. Meu rio tá doente e sujo. Não é mais o rio da minha infância.
Enquanto falava sozinho Zé da Silva ouviu um grito amargurado vindo de dentro das águas.
Sou eu Zé, sou eu! Eu tenho vergonha, eu tenho vergonha. Estou todo sujo, imundo, Estou doente. O que fizeram comigo Zé!
Ao ouvir o grito do rio, o velho se entristeceu mais ainda.
E de repente surge de dentro do seu peito uma vontade enorme de lutar com todas as armas para salvar o rio.
A arte de sonhar falou mais alto.
Deus fez os rios e as cachoeiras límpidas e cristalinas, cheio de peixes.
Não é justo que o homem mate a sua criação.
(Zé da Silva, texto e personagem interpretado por Saulo Laranjeira)
Deyse Magalhães é filósofa, agente cultural, promotora de eventos, coordenadora de Bloco de Carnaval, em Minas Novas, no Alto Jequitinhonha, nordeste de Minas. Vive há décadas em BH, às margens do Ypiranga.
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