Principais lideranças de grupos que brigam, há 63 anos, se unem.
Dona Fia, do PSDB, é candidata a prefeita, com Rômulo Murta, do PMDB, como vice.
Aliança foi articulada pelo vereador Chico de Maurício, da Barra de Salinas.
As disputas eleitorais em municípios do Vale sofreram transformações nas últimas pelejas, em 2004, 2008, 2012 e agora em 2016.
Dona Fia, do PSDB, é candidata a prefeita, com Rômulo Murta, do PMDB, como vice.
Aliança foi articulada pelo vereador Chico de Maurício, da Barra de Salinas.
As disputas eleitorais em municípios do Vale sofreram transformações nas últimas pelejas, em 2004, 2008, 2012 e agora em 2016.
Em alguns municípios foram cristalizados alguns grupos de disputa, formando verdadeiros partidos municipais, com apelidos dados pelos adversários, de forma pejorativa. Ou cunhadas pelos próprios partidários com afirmação de uma identidade política.
Em Coronel Murta, os Porreta, do PSDB, se juntaram ao Catrevos, do PMDB. Em Medina, os Pé-de-Cachorro relutam em não dividir. Tem três candidatos. Os Cara-Preta, do PSDB, se mantém unidos. Cocá e Peru ainda mantém alguma unidade em Padre Paraíso. Em Chapada do Norte, já não existe mais Tampa e Balaio, devido ao trança-trança de de um grupo e outro.
Neste post, um breve relato de Coronel Murta. Nos próximos dias, publicaremos sobre Medina, Padre Paraíso e Chapada do Norte.
Em Coronel Murta, os Porreta, do PSDB, se juntaram ao Catrevos, do PMDB. Em Medina, os Pé-de-Cachorro relutam em não dividir. Tem três candidatos. Os Cara-Preta, do PSDB, se mantém unidos. Cocá e Peru ainda mantém alguma unidade em Padre Paraíso. Em Chapada do Norte, já não existe mais Tampa e Balaio, devido ao trança-trança de de um grupo e outro.
Neste post, um breve relato de Coronel Murta. Nos próximos dias, publicaremos sobre Medina, Padre Paraíso e Chapada do Norte.
Em Coronel Murta, misturou tudo: Porretas se juntam com Catrevos.
Nos dois grupos há muitos insatisfeitos: muitos indecisos e indicadores de migração de votos.
Em Coronel Murta, também no Médio Jequitinhonha, desde 1953, na primeira eleição municipal, após emancipação de Virgem da Lapa, o município tem dois grupos com disputa acirrada. O majoritário era formado pelas lideranças da família Murta e seus apoiadores. O da oposição era comandado por Miguel Pedro da Silva, um garimpeiro baiano, jeitoso e articulador, que chegou à antiga Itaporé, ainda na década de 30.
Letâncio Freire e Waldeir tentam a reeleição, em 2016. Aqui, em momento de convenção municipal de 2016. Foto de Sérgio Vasconcelos, da Gazeta de Araçuaí.
Na primeira eleição, o candidato da família Murta foi o fazendeiro de Araçuaí, Artur Fernandes, que derrotou Miguel Pedro. Em 1957, José Og Figueiredo Murta, pai do ex-prefeito Rômulo Murta, ganhou e consolidou o mando da família. Porém, Miguel Pedro, muito esperto, candidatou-se, de novo, em 1963, tendo como vice Cândido Murta, dividindo a família tradicional. O garimpeiro baiano Miguel Pedro ganhou e fez seu sucessor, em 1966, com Lô Barreto. Em 1970, o grupo dos Murta lançou Severo e derrotou Dodô, o candidato de Miguel Pedro. Em 1972, o fazendeiro Miguel Cardoso, de Ouro Fino, apoiado pelos Murta, venceu a peleja. Em 1976, Miguel Pedro voltou ao poder municipal. Faleceu em agosto de 1982, deixando o grupo sem uma liderança forte.
Rômulo Murta venceu em 1982 e Manoel Mutuca, em 1988, apoiado pelo grupo dos Murta.
A disputa acirrou-se, a partir de 1992, com a disputa entre dois Murtas. Aconteceu a eleição a prefeito de Inácio Murta contra Rômulo Murta, seu primo. Os dois grupos sempre xingaram um ao outro. Mas, foi a partir daí com Inácio se apropriando do espólio eleitoral de Miguel Pedro, que deram nome aos dois grupos. Por ser majoritariamente formado por baianos e outros não-nascidos em Coronel Murta, o grupo agora liderado por Inácio apelidou-se de Porreta. Antes, os Murtas chamavam o grupo de Cacaieiros, carregador de cacaio, alforge de couro, que não tinham nada, só uns cascalhos, lascas de pedras de lavras. Os adversários já eram chamados de Catrevo, nome pejorativo indicando corja, horda ou pessoas desqualificadas.
Daí pra cá, misturou a família Murta. Catrevos viraram aqueles ligados ao PMDB, comandado por Rômulo Murta e Letâncio Freire. Porreta os apoiadores do grupo de Inácio, do PP, DEM (ex-PFL) e PSDB, com o grupo dos antigos cacaieiros. Em 1997, Vânia Murta, esposa de Rômulo, venceu os Porreta contra Geraldo Aguilar, o Geraldo de Salvina. Em 2000, Inácio derrota Leno Moutinho, do PMDB. Em 2004, Inácio faz de Leno seu vice, dividindo o grupo opositor e misturando os dois grupos. Letâncio Freire se candidata com o apoio de Rômulo, mas perde pra Inácio Murta que consolida sua liderança histórica na política local. Em março de 2007, acontece a tragédia do assassinato do prefeito Inácio Murta. Crime não foi político como se suspeitou, no início. Leno Moutinho assume a prefeitura, sob desconfiança do grupo de Inácio. Ele não consegue substituir a antiga liderança. Mesmo assim, com Eliete da Abita como vice, Leno é o candidato a prefeito, em 2008, derrotando o seu ex-companheiro Letâncio Freire. Leno Moutinho veio a falecer, em janeiro de 2013.
Dona Fia, do PSDB, foi candidata em 2012, obtendo 2.010 votos. Volta a se candidatar a prefeita, neste ano, formando uma grande coligação, se aliando ao adversário histórico do seu grupo politico, Rômulo Murta, do PMDB, que será vice.
Após estar no poder, de 2001 a 2012, os Porretas foram apeados da Prefeitura. Lé, como é conhecido Eletâncio Freire, do PMN, elegeu-se prefeito, em 2012, trazendo seu vice Waldeir, do PP, do grupo dos Porreta. O lema foi "tudo junto e misturado". Houve uma verdadeira sangria eleitoral dos Porretas em apoio a Lé. Até mesmo a então vice-prefeita, Eliete da Abita, apoiou Lé, magoada por ter sido preterida pelo seu grupo original. Para segurar o grupo dos Porreta, Dona Fia candidatou-se pelo PSDB. Lé deu uma lavada de votos com 3.547 votos , contra 2.010 votos dados a Dona Fia, segurando alguma unidade do grupo. 1.537 votos de frente, sendo a maior diferença em toda a história das eleições municipais.
PSDB e PMDB juntos, depois de mais de 30 anos em disputas renhidas. A história é ainda mais antiga.
Se havia mistura antes, os grupos dos Porreta e Catrevo estão misturados de vez, em 2016. E procuram outros adjetivos para denominarem o que ainda não sabem o que é. As duas principais lideranças dos dois grupos historicamente opositores se juntaram. Dona Fia, do PSDB, é candidata a prefeita, com Rômulo Murta, do PMDB, como vice.
A candidatura de Rômulo Murta foi imposta pelo articulador da candidatura de Dona Fia, o vereador Chico de Maurício, sobrinho de Dozinho, esposo de Dona Fia. Chico faz parte da família que tem se empoderado economicamente com a mineração de pedras preciosas, no povoado de Barra de Salinas, nos últimos 10 anos.
Há insatisfações dos dois lados. Há muitos indecisos devido a esta mistura de água com óleo. Pesquisas pra consumo interno mostram há cerca de 25% de indecisos, que não decidiram em quem votar. Dos que decidiram, 40% demonstram disposição de mudar de candidato, até o dia das eleições.
A candidata pelo DEM, Eliete da Abita, desistiu da candidatura a prefeita e aliou-se a Dona Fia. Decisão solitária sem comunicar com os aliados do grupo. Seu grupo rachou com dissidências do vereador João Nery, candidato a vice; Dodoca, candidato a vereador; e o ex-vereador e motorista de táxi, Té Jardim. Eles se aproximam de Lé. O grupo de Eliete havia largado a administração de Lé, ainda em agosto de 2014, procurando rumo próprio.
Por outro lado, o prefeito Eletâncio Freire, o Lé, do PMN, candidato à reeleição, conta com uma boa avaliação da administração nas áreas de saúde e assistência social. Das três pesquisas realizadas, entre os dias 14 e 17 de julho, de oposição e situação, há uma avaliação positiva da atual administração. Lé diz que tem o que mostrar. Justifica que também fez obras como as construções de unidades de saúde e calçamentos de vias públicas. Garante que não fez perseguição política a adversários como sempre foi comum em todas as outras administrações anteriores.
Há dissidentes dos dois grupos, insatisfeitos com a aliança considerada esdrúxula. Como é de costume na política local, as lideranças decidiram sem fazer consulta aos dois grupos ou partidos aliados. Agora, tentam juntar os cacos, procurando os insatisfeitos dos dois lados. Acredita-se estar aí a maioria dos indecisos.
Qual o tipo de argumento será usado? Para ganhar, precisa fazer qualquer aliança? E depois? Como administrar com tantos interesses tão discrepantes? Quem será o candidato a prefeito, em 2020? Será um catrevo ou um porreta? Ou então, fica proibido tocar no assunto, pois o assunto é melindroso.
No último dia 20 de julho, no mesmo horário, 8 horas, as duas coligações realizaram suas convenções. Dona Fia e Rômulo Murta juntaram 6 partidos políticos e 28 candidatos a vereador. Letâncio e Waldeir formaram a chapa com três partidos e 23 candidatos a vereador.
Pode haver mudanças devido às candidaturas de mulheres que tem que ocupar 30% das vagas.
Os dois lados soltaram foguetes e cantaram vitória.
De toda forma, já não se pode mais falar que Catrevo está de um lado e Porreta de outro. Ficou tudo misturado, e estão juntos até as eleições de 2 de outubro. Depois, será uma disputa ferrenha pela busca de espaços de poder, buscando aliados dos seus grupos originais.
Em Coronel Murta, também no Médio Jequitinhonha, desde 1953, na primeira eleição municipal, após emancipação de Virgem da Lapa, o município tem dois grupos com disputa acirrada. O majoritário era formado pelas lideranças da família Murta e seus apoiadores. O da oposição era comandado por Miguel Pedro da Silva, um garimpeiro baiano, jeitoso e articulador, que chegou à antiga Itaporé, ainda na década de 30.
Letâncio Freire e Waldeir tentam a reeleição, em 2016. Aqui, em momento de convenção municipal de 2016. Foto de Sérgio Vasconcelos, da Gazeta de Araçuaí.
Na primeira eleição, o candidato da família Murta foi o fazendeiro de Araçuaí, Artur Fernandes, que derrotou Miguel Pedro. Em 1957, José Og Figueiredo Murta, pai do ex-prefeito Rômulo Murta, ganhou e consolidou o mando da família. Porém, Miguel Pedro, muito esperto, candidatou-se, de novo, em 1963, tendo como vice Cândido Murta, dividindo a família tradicional. O garimpeiro baiano Miguel Pedro ganhou e fez seu sucessor, em 1966, com Lô Barreto. Em 1970, o grupo dos Murta lançou Severo e derrotou Dodô, o candidato de Miguel Pedro. Em 1972, o fazendeiro Miguel Cardoso, de Ouro Fino, apoiado pelos Murta, venceu a peleja. Em 1976, Miguel Pedro voltou ao poder municipal. Faleceu em agosto de 1982, deixando o grupo sem uma liderança forte.
Rômulo Murta venceu em 1982 e Manoel Mutuca, em 1988, apoiado pelo grupo dos Murta.
A disputa acirrou-se, a partir de 1992, com a disputa entre dois Murtas. Aconteceu a eleição a prefeito de Inácio Murta contra Rômulo Murta, seu primo. Os dois grupos sempre xingaram um ao outro. Mas, foi a partir daí com Inácio se apropriando do espólio eleitoral de Miguel Pedro, que deram nome aos dois grupos. Por ser majoritariamente formado por baianos e outros não-nascidos em Coronel Murta, o grupo agora liderado por Inácio apelidou-se de Porreta. Antes, os Murtas chamavam o grupo de Cacaieiros, carregador de cacaio, alforge de couro, que não tinham nada, só uns cascalhos, lascas de pedras de lavras. Os adversários já eram chamados de Catrevo, nome pejorativo indicando corja, horda ou pessoas desqualificadas.
Daí pra cá, misturou a família Murta. Catrevos viraram aqueles ligados ao PMDB, comandado por Rômulo Murta e Letâncio Freire. Porreta os apoiadores do grupo de Inácio, do PP, DEM (ex-PFL) e PSDB, com o grupo dos antigos cacaieiros. Em 1997, Vânia Murta, esposa de Rômulo, venceu os Porreta contra Geraldo Aguilar, o Geraldo de Salvina. Em 2000, Inácio derrota Leno Moutinho, do PMDB. Em 2004, Inácio faz de Leno seu vice, dividindo o grupo opositor e misturando os dois grupos. Letâncio Freire se candidata com o apoio de Rômulo, mas perde pra Inácio Murta que consolida sua liderança histórica na política local. Em março de 2007, acontece a tragédia do assassinato do prefeito Inácio Murta. Crime não foi político como se suspeitou, no início. Leno Moutinho assume a prefeitura, sob desconfiança do grupo de Inácio. Ele não consegue substituir a antiga liderança. Mesmo assim, com Eliete da Abita como vice, Leno é o candidato a prefeito, em 2008, derrotando o seu ex-companheiro Letâncio Freire. Leno Moutinho veio a falecer, em janeiro de 2013.
Dona Fia, do PSDB, foi candidata em 2012, obtendo 2.010 votos. Volta a se candidatar a prefeita, neste ano, formando uma grande coligação, se aliando ao adversário histórico do seu grupo politico, Rômulo Murta, do PMDB, que será vice.
Após estar no poder, de 2001 a 2012, os Porretas foram apeados da Prefeitura. Lé, como é conhecido Eletâncio Freire, do PMN, elegeu-se prefeito, em 2012, trazendo seu vice Waldeir, do PP, do grupo dos Porreta. O lema foi "tudo junto e misturado". Houve uma verdadeira sangria eleitoral dos Porretas em apoio a Lé. Até mesmo a então vice-prefeita, Eliete da Abita, apoiou Lé, magoada por ter sido preterida pelo seu grupo original. Para segurar o grupo dos Porreta, Dona Fia candidatou-se pelo PSDB. Lé deu uma lavada de votos com 3.547 votos , contra 2.010 votos dados a Dona Fia, segurando alguma unidade do grupo. 1.537 votos de frente, sendo a maior diferença em toda a história das eleições municipais.
PSDB e PMDB juntos, depois de mais de 30 anos em disputas renhidas. A história é ainda mais antiga.
Se havia mistura antes, os grupos dos Porreta e Catrevo estão misturados de vez, em 2016. E procuram outros adjetivos para denominarem o que ainda não sabem o que é. As duas principais lideranças dos dois grupos historicamente opositores se juntaram. Dona Fia, do PSDB, é candidata a prefeita, com Rômulo Murta, do PMDB, como vice.
A candidatura de Rômulo Murta foi imposta pelo articulador da candidatura de Dona Fia, o vereador Chico de Maurício, sobrinho de Dozinho, esposo de Dona Fia. Chico faz parte da família que tem se empoderado economicamente com a mineração de pedras preciosas, no povoado de Barra de Salinas, nos últimos 10 anos.
Há insatisfações dos dois lados. Há muitos indecisos devido a esta mistura de água com óleo. Pesquisas pra consumo interno mostram há cerca de 25% de indecisos, que não decidiram em quem votar. Dos que decidiram, 40% demonstram disposição de mudar de candidato, até o dia das eleições.
A candidata pelo DEM, Eliete da Abita, desistiu da candidatura a prefeita e aliou-se a Dona Fia. Decisão solitária sem comunicar com os aliados do grupo. Seu grupo rachou com dissidências do vereador João Nery, candidato a vice; Dodoca, candidato a vereador; e o ex-vereador e motorista de táxi, Té Jardim. Eles se aproximam de Lé. O grupo de Eliete havia largado a administração de Lé, ainda em agosto de 2014, procurando rumo próprio.
Por outro lado, o prefeito Eletâncio Freire, o Lé, do PMN, candidato à reeleição, conta com uma boa avaliação da administração nas áreas de saúde e assistência social. Das três pesquisas realizadas, entre os dias 14 e 17 de julho, de oposição e situação, há uma avaliação positiva da atual administração. Lé diz que tem o que mostrar. Justifica que também fez obras como as construções de unidades de saúde e calçamentos de vias públicas. Garante que não fez perseguição política a adversários como sempre foi comum em todas as outras administrações anteriores.
Há dissidentes dos dois grupos, insatisfeitos com a aliança considerada esdrúxula. Como é de costume na política local, as lideranças decidiram sem fazer consulta aos dois grupos ou partidos aliados. Agora, tentam juntar os cacos, procurando os insatisfeitos dos dois lados. Acredita-se estar aí a maioria dos indecisos.
Qual o tipo de argumento será usado? Para ganhar, precisa fazer qualquer aliança? E depois? Como administrar com tantos interesses tão discrepantes? Quem será o candidato a prefeito, em 2020? Será um catrevo ou um porreta? Ou então, fica proibido tocar no assunto, pois o assunto é melindroso.
No último dia 20 de julho, no mesmo horário, 8 horas, as duas coligações realizaram suas convenções. Dona Fia e Rômulo Murta juntaram 6 partidos políticos e 28 candidatos a vereador. Letâncio e Waldeir formaram a chapa com três partidos e 23 candidatos a vereador.
Pode haver mudanças devido às candidaturas de mulheres que tem que ocupar 30% das vagas.
Os dois lados soltaram foguetes e cantaram vitória.
De toda forma, já não se pode mais falar que Catrevo está de um lado e Porreta de outro. Ficou tudo misturado, e estão juntos até as eleições de 2 de outubro. Depois, será uma disputa ferrenha pela busca de espaços de poder, buscando aliados dos seus grupos originais.
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