DIVISIONISMO DE SERRA SOBRE
AÉCIO PREJUDICA PSDB
Tucanos têm lição de casa urgente para cumprir; resultados do Datafolha mostram que falta de sintonia entre senador Aécio Neves e ex-governador José Serra prejudica diretamente desempenho da legenda na briga contra o PT; Serra menos, e Aécio mais, perdem pontos entre outubro e novembro, enquanto presidente Dilma cresce; PSDB precisa, antes que seja tarde demais, definir qual luta quer travar: a interna e fratricida, como ocorre agora, ou contra os petistas, para retomar o poder em 2014
1 DE DEZEMBRO DE 2013 ÀS 15:31
Brasil 247 – O PSDB está dando mostras do quanto pode custar a um partido político a divisão interna entre seus principais quadros. Por mais que o presidente da legenda e senador Aécio Neves procure, em seus constantes giros nacionais, costurar a unidade partidária, uma peça se recusa a se encaixar. É a que está na mão do ex-governador José Serra, que aposta no recall que seu nome desperta no público, em razão de suas duas campanhas presidenciais anteriores, para insistir, persistir e resistir numa posição personalista e exclusivista.
Aécio, é claro, atua a favor de seu próprio nome para candidato a presidente em 2014, mas, registre-se, tem tomado o cuidado de recusar todo e qualquer lançamento de sua própria candidatura até agora. Desde que, no final do ano passado, ele foi lançado formalmente pelo ex-presidente Fernando Henrique, Aécio não aceita dizer, claramente, o sim que muitos querem ouvir. Trata-se de um 'talvez' bastante proposital. Aluno e admirador da escola de conciliação praticada por seu avô Tancredo Neves, o presidenciável mineiro procura, corretamente, não fechar as portas para uma alternativa ao seu nome. Até mesmo se esse nome for o de José Serra.
O problema é que Serra não sabe praticar esse jogo. Conciliação, como se observa no histórico político dele, é uma palavra que não faz parte de seu dicionário. Imposição, sim. Por mais que Aécio deixe, agora, a porta aberta para uma convivência pacífica e produtiva entre ambos, Serra se recusa a passar por ela, preferindo manter-se numa posição de isolamento em relação ao conjunto da direção partidária. Essa postura pode custar-lhe caro no futuro próximo. Sem controle sobre a máquina partidária, que passou para as mãos de Aécio, o ex-governador paulista se arrisca a levar um troco dos mais fortes no momento em pleitear uma posição para si.
Em outras palavras, a falta de sintonia entre Aécio e Serra, provocada muito mais pelo paulista do que pelo mineiro, pode, ainda, rachar de uma vez o partido e espatifar as chances de uma vitória em 2014.
Os reflexos negativos dessa divisão já aparecem nitidamente nas pesquisas. No Datafolha de novembro, divulgado ontem, Serra surgiu à frente de Aécio tanto no cenário que inclui Marina Silva como candidata do PSB como no que foi feito com o governador Eduardo Campos. Com 19% no primeiro caso e 22% no segundo, ele superou Aécio, que marcou 15% na hipótese de Marina concorrer e 19% na simulação com Campos.
Para ambos – Serra e Aécio –, porém, o problema é que nenhum dos percentuais é suficiente para levar qualquer um deles ao segundo turno. Está claro que somente um entendimento real entre eles, a ser feito antes mesmo da definição formal do nome do candidato, poderá alavancar o PSDB para patamares mais sólidas na disputa contra sua maior adversária, a presidente Dilma Rousseff. Enquanto estiverem, na prática, divididos, os dois ex-governadores tendem a patinar no estágio atual, que é insuficiente para despertar a torcida do próprio partido.
O quadro ideal para os tucanos seria o de ter Serra não praticando atitudes fratricidas, como a de não comparecer, no mês passado, ao encontro nacional da legenda em Poços de Caldas. Ter comparecido, do ponto de vista de Serra, seria como dar aval à candidatura de Aécio a presidente. Porém, com números agora melhores que o do mineiro nas pesquisas, Serra teria mais a ganhar se estivesse lá para se mostrar como alternativa, em lugar de ausentar-se como um adversário.
Se hoje Aécio precisa dele, amanhã quem pode precisar de Aécio é o próprio Serra. E a política de distanciamento atual tem tudo para abrir cicatrizes difíceis de curar. Com um virado de costas para o outro, o PSDB corre o sério risco de ter dois presidenciáveis fortes mas, na prática, não ter nenhum deles com chance concreta de chegar ao segundo turno. Está na hora de alguém avisar que essa luta interna entre tucanos só prejudica os próprios tucanos.
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