Viva Nossa Senhora do Rosário! Viva!
Saúda o povo a Nossa Senhora dos Homens Pretos
Minas Novas vive as festas dos pretos do Jequitinhonha
As festas dos Homens Negros de Nossa Senhora do Rosário são tradições em todo o Vale do Jequitinhonha, nordeste de Minas.
Deste mês de junho até outubro tem festa religiosa e profana em muitas cidades, principalmente naquelas que viveram o ciclo do ouro, no século XVIII. Umas são mais famosas como as de Minas Novas, Chapada do Norte e Serro. Juntam-se a elas Francisco Badaró, Araçuaí e Virgem da Lapa. Berilo tinha uma festa belíssima, mas acabou. Porém, o povo tem revivido sua fé e transformando-a na festa mais popular do lugar. A Igreja foi “tombada” literalmente, e a festa tinha ido com ela.
Coincidentemente, são estas cidades com maior população negra. Juntas elas possuem 75 comunidades quilombolas, das 105 de toda a região e 420 de Minas.
Na época da escravidão, as festas de Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito, eram chamadas de “Festas dos Negros”. Posteriormente, os brancos que foram perdendo seu poder econômico começaram a se infiltrar e a participar das festividades em homenagem a esses santos, tirando-lhes a conotação inicial. Foram organizadas desde o tempo da mineração do ouro quando também se deu o surgimento das Irmandades de Nossa Senhora do Rosário dos Negros.
"Esta dança aqui é de preto só, se branco entrar cai no cipó!", cantavam os congadeiros. Depois que os brancos se tornaram companheiros de luta e fé, mudou o verso para ..." se branco entrar fica mió!"
Durante o seu ciclo, acontece o chamado Reinado, que a cada ano é conduzido por um Rei e uma Rainha dos Rosários, eleitos no ano anterior, e sua corte. Nesta, as guardas estão representadas nos diversos folguedos que saem em cortejo pelas ruas da cidade. Estes grupos se apresentam distinguindo-se um dos outros pelas coreografias, indumentárias e pela música que executam durante o bailado.
O ciclo se desenvolve conforme a característica local e a figura do festeiro são importantes para a organização das manifestações culturais. Estas ainda são acrescidas por espetáculos pirotécnicos, levantamento de mastros com a bandeira de Nossa Senhora, ornamentação, culinária típica, música, dança e diversas apresentações dos folguedos. Destacam-se a Congada, Caiapós, Tapuiadas, Tamboril, Guardas do Congo, Guardas de Caboclo, Guerra de Mouros e Cristãos, e outros grupos característicos de cada região.
É o maior teatro popular em praça pública de toda a região.
Senhora do Rosário, padroeira de Minas Novas
Minas Novas, no Alto Jequitinhonha, é a primeira cidade a organizar os seus festejos. Começou na Quinta-feira do Angu, com a lavagem da Igreja do Rosário.
Minas Novas, no Alto Jequitinhonha, é a primeira cidade a organizar os seus festejos. Começou na Quinta-feira do Angu, com a lavagem da Igreja do Rosário.
Terão várias atividades até o dia 25 de junho.
24 de junho – 5 h – Alvorada Festiva pelas ruas;
8 h – Cortejo da Guarda de Honra para conduzir os reis velhos para assistirem à santa missa; 10 h - Missa Solene, cantada em latim, pelo Coral Imperial da Irmandade do Rosário; 11 h – Inicio do Reinado, com o cortejo imperial pelas ruas; 13 h - Banquete popular; 14 h - Procissão;
16 h - Bênçãos do ângelus e coroação dos novos reis .
25 de junho - Dia de Nossa Senhora do Rosário
Cortejo dos Reis para cerimônia de coletas ; parada marcial para a busca do cofre; abertura do cofre e conferência do tesouro; coleta dos anuários esmolas.
"Sinhô Rei, sinhora rainha,
guarda pra mim,
o sobrecu da galinha".
Os tamborzeiros dançam e cantam alegremente, jogando versos, diversos, anversos, transversos.
Leia abaixo, um texto de um pesquisador de Ouro Preto:
“Além do reinado, cujo cortejo é uma atração à parte, a festa em Minas Novas apresenta duas características que a distinguem das outras: a busca da imagem no rio Fanado, que banha a cidade, e o traslado do cofre, no qual se depositam as contribuições anuais dos irmãos e irmãs do Rosário.
A primeira solenidade dos três dias finais da festa que, na verdade, têm início com a lavagem da igreja e prossegue no dia 15 com o início da novena, é o traslado da imagem de Nossa Senhora do Rosário. Atrás dos reis do Rosário toda a comunidade se dirige ao Rio Fanado. A comitiva da festa, acompanhado dos grupos religiosos, de danças e cantos ligados às tradições da festa, atravessa o rio em busca da imagem que se encontra do outro lado, numa pedra. A imagem vem nos braços da comitiva e é entregue ao Padre, que a aguarda à margem direita do rio Fanado. Este profere uma prédica ao público e transfere a imagem ao povo que, daí em diante, a conduzirá à sua igreja. Praticamente todos os participantes fazem questão de carregá-la, nem que seja por alguns segundos.
O antigo e pesado cofre, em poder do tesoureiro da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Minas Novas, é trasladado para igreja no último dia da festa da mesma forma: carregado pelo povo, na cabeça. Na igreja, o cofre é aberto para se conferir o depósito e receber a contribuição dos irmãos.
No dia 24, dia do Reinado, após a missa solene, rei e rainha do Rosário procedem farta distribuição de doces e quitandas ao público. Primeiramente, duas mesas improvisadas com cerca de 5 a 10 metros de comprimento são postas com doces de diversos tipos, uma na frente da casa do rei e outra na casa da rainha. Vários pratinhos de cerâmica, guarnecidos por colherinhas de pau, mais outro tanto de vasos da mesma cerâmica com cerca de 10 a 15 quilos de doce, cada um, aguardam o momento da "corrida ao doce". À entrada da comitiva na casa é dado o sinal e, os mais espertos ultrapassam a corda de isolamento e pegam o que podem. Num piscar de olhos, todo o material desaparece da mesa. É o único momento em que se vê atropelo. Depois disso inicia-se a distribuição dos doces ao público.
“Além do reinado, cujo cortejo é uma atração à parte, a festa em Minas Novas apresenta duas características que a distinguem das outras: a busca da imagem no rio Fanado, que banha a cidade, e o traslado do cofre, no qual se depositam as contribuições anuais dos irmãos e irmãs do Rosário.
A primeira solenidade dos três dias finais da festa que, na verdade, têm início com a lavagem da igreja e prossegue no dia 15 com o início da novena, é o traslado da imagem de Nossa Senhora do Rosário. Atrás dos reis do Rosário toda a comunidade se dirige ao Rio Fanado. A comitiva da festa, acompanhado dos grupos religiosos, de danças e cantos ligados às tradições da festa, atravessa o rio em busca da imagem que se encontra do outro lado, numa pedra. A imagem vem nos braços da comitiva e é entregue ao Padre, que a aguarda à margem direita do rio Fanado. Este profere uma prédica ao público e transfere a imagem ao povo que, daí em diante, a conduzirá à sua igreja. Praticamente todos os participantes fazem questão de carregá-la, nem que seja por alguns segundos.
O antigo e pesado cofre, em poder do tesoureiro da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Minas Novas, é trasladado para igreja no último dia da festa da mesma forma: carregado pelo povo, na cabeça. Na igreja, o cofre é aberto para se conferir o depósito e receber a contribuição dos irmãos.
No dia 24, dia do Reinado, após a missa solene, rei e rainha do Rosário procedem farta distribuição de doces e quitandas ao público. Primeiramente, duas mesas improvisadas com cerca de 5 a 10 metros de comprimento são postas com doces de diversos tipos, uma na frente da casa do rei e outra na casa da rainha. Vários pratinhos de cerâmica, guarnecidos por colherinhas de pau, mais outro tanto de vasos da mesma cerâmica com cerca de 10 a 15 quilos de doce, cada um, aguardam o momento da "corrida ao doce". À entrada da comitiva na casa é dado o sinal e, os mais espertos ultrapassam a corda de isolamento e pegam o que podem. Num piscar de olhos, todo o material desaparece da mesa. É o único momento em que se vê atropelo. Depois disso inicia-se a distribuição dos doces ao público.
Não há filas e também não há confusão ou briga. Muitos braços se erguem ao alto para receber um potinho com doces, mas a mão que o alcança é respeitada. Ninguém avança sobre quem o apanha. Todos recebem sua porção de doce e muitos voltam para receber mais. Só na casa da rainha da festa cerca de 3 mil quilos de doces são feitos para distribuir.
A polícia nem é vista nas ruas. Não há necessidade. Não há brigas nem bêbados a perturbar o andamento da festa. Também não há o comércio ambulante que fareja festas. As ruas se mantêm limpas e ninguém vê o serviço de limpeza pública. Meia hora depois da distribuição de doces, passamos nos locais e tudo estava limpo, como se nada tivesse acontecido.
A polícia nem é vista nas ruas. Não há necessidade. Não há brigas nem bêbados a perturbar o andamento da festa. Também não há o comércio ambulante que fareja festas. As ruas se mantêm limpas e ninguém vê o serviço de limpeza pública. Meia hora depois da distribuição de doces, passamos nos locais e tudo estava limpo, como se nada tivesse acontecido.
Como muitas outras cidades do Jequitinhonha, Minas Novas é uma cidade pobre economicamente, porém com muito a ensinar a comunidades mais privilegiadas, como Ouro Preto, por exemplo.
Como os provedores da festa em Minas Minas Novas ressaltam em folheto explicativo sobre as tradições, foi em Ouro Preto que surgiu o reinado do Rosário pela iniciativa do negro forro Chico Rei. Entretanto, no município de Ouro Preto quase nada mais há sobre as antigas tradições.
Perdeu-se quase tudo e o restante está sendo enterrado agora por obra e graça de alguns padres avessos à cultura”.
Alguns padres, de mentalidade colonizadora e racista, se negam a celebrar as missas congas e combatem a festa dos negros como uma forma de destruir sua cultura, sua referência histórica e seus símbolos de identidade como pessoas, como povo e como raça.
Alguns padres, de mentalidade colonizadora e racista, se negam a celebrar as missas congas e combatem a festa dos negros como uma forma de destruir sua cultura, sua referência histórica e seus símbolos de identidade como pessoas, como povo e como raça.
Leia mais sobre a Festa do Rosário de Minas Novas, de 2011:
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