A escolha das 'massas' nas eleições.
A história mostra que em momentos de crise, eleitores tendem s fazer escolhas desastrosas: "Há boa dose de irracionalidade naqueles que votam contra isso ou aquilo, movidos pelo ódio e a sede de vingança. Quanto mais demonizam os adversários, mais mitificam o candidato preferido, como se a política prescindisse de instituições democráticas e dependesse apenas da vontade pessoal do eleito".
Foi assim com Bolsonaro, Hitler, Mussolini e outros.
Este artigo foi publicado no Brasil247 com o título "A escolha das "massas" nas eleições". O Globo publicou com o título "Pergunte à História". O Portal Vermelho foi também diferente: "Como se explica a eleição de Bolsonaro?". Frei Betto analisa a eleição de personagens autoritárias para o comando de nações, em países com diferentes culturas e estágios de evolução civilizatória. Afirma: "Eleitores nem sempre votam com a razão; muitos recorrem à emoção. É assim que adversários são demonizados enquanto o candidato preferido é alçado à condição de mito".
E conclui com o texto do austríaco Sigmund Freud, o criador da Psicanálise, que publicou o clássico "Psicologia das massas e análise do eu", de 1921. Parece que foi hoje tamanha a atualidade. Obra a ser lida, tão necessária quanto a "Psicologia de massas e do fascismo" do psicanalista-marxista alemão Wilhelm Reich, publicada em 1933 (escrita entre 1930-1933), no clima de nascimento e crescimento do fascismo e totalitarismo europeu.
Grátis: Wilhelm_Reich_-_A_Psicologia_de_Massas_do_Fascismo.pdf
Grátis: Wilhelm_Reich_-_A_Psicologia_de_Massas_do_Fascismo.pdf
Boa leitura do Frei Betto, do Freud e do Reich, o revolucionário!
Frei Betto*
Frei Betto*
Em
conferências na Europa, me perguntaram como se explica eleitores
brasileiros preferirem eleger presidente da República um homem
notoriamente defensor da tortura, da homofobia, das milícias, do
machismo e da ditadura. Como entender que a maioria tenha escolhido
um candidato que considera mais importante armar a população do que
reduzir a desigualdade social.
Por
que os eleitores não preferiram Haddad, Alckmin, Meirelles, Ciro
Gomes ou Álvaro Dias?
Minha resposta foi sempre “perguntem à história”. A ela recorro. Como foi possível, após 15 anos de Estado Novo (1930-1945), um regime ditatorial de dura repressão, censura à imprensa e promulgação, em 1937, de uma Constituição fascista, conhecida como “polaca”, Vargas ter sido democraticamente eleito presidente da República nas eleições de 1950?
Como explicar que a nação de Kant, Beethoven, Bach, Goethe e Einstein tenha escolhido um austríaco racista e genocida, Adolf Hitler, para comandá-la? E a Itália de Dante Alighieri, Maquiavel, Da Vinci e Michelangelo, um fascista como Mussolini?
Eleitores nem sempre votam com a razão. Muitos votam com a emoção. Insatisfeitos com o atual estado de coisas, optam pelo extremo oposto na esperança de que, num passe de mágica, tudo venha a melhorar. Muitas vezes, o voto não é propriamente a favor do candidato que amealha a preferência do eleitorado. É contra tudo que ele critica e promete combater, como na eleição de Jânio Quadros a presidente, em 1960. Ao brandir como símbolo de sua campanha a vassoura, prometeu varrer a corrupção e os corruptos do Brasil... Idem Collor, em 1989, ao ostentar o título de “caçador de marajás”.
Há boa dose de irracionalidade naqueles que votam contra isso ou aquilo, movidos pelo ódio e a sede de vingança. Quanto mais demonizam os adversários, mais mitificam o candidato preferido, como se a política prescindisse de instituições democráticas e dependesse apenas da vontade pessoal do eleito. Esses eleitores não votam a favor de um projeto de nação e propostas consistentes, e sim contra aqueles que, na opinião do avatar escolhido, representam o mal.
No Brasil, a redução do tempo de campanha política, as restrições a comícios e propagandas eleitorais fazem com que as candidaturas não favoreçam a educação eleitoral e política. Assim, o clima de revanche tende a suplantar a reflexão cívica, o debate democrático, a avaliação dos candidatos e de suas propostas.
Minha resposta foi sempre “perguntem à história”. A ela recorro. Como foi possível, após 15 anos de Estado Novo (1930-1945), um regime ditatorial de dura repressão, censura à imprensa e promulgação, em 1937, de uma Constituição fascista, conhecida como “polaca”, Vargas ter sido democraticamente eleito presidente da República nas eleições de 1950?
Como explicar que a nação de Kant, Beethoven, Bach, Goethe e Einstein tenha escolhido um austríaco racista e genocida, Adolf Hitler, para comandá-la? E a Itália de Dante Alighieri, Maquiavel, Da Vinci e Michelangelo, um fascista como Mussolini?
Eleitores nem sempre votam com a razão. Muitos votam com a emoção. Insatisfeitos com o atual estado de coisas, optam pelo extremo oposto na esperança de que, num passe de mágica, tudo venha a melhorar. Muitas vezes, o voto não é propriamente a favor do candidato que amealha a preferência do eleitorado. É contra tudo que ele critica e promete combater, como na eleição de Jânio Quadros a presidente, em 1960. Ao brandir como símbolo de sua campanha a vassoura, prometeu varrer a corrupção e os corruptos do Brasil... Idem Collor, em 1989, ao ostentar o título de “caçador de marajás”.
Há boa dose de irracionalidade naqueles que votam contra isso ou aquilo, movidos pelo ódio e a sede de vingança. Quanto mais demonizam os adversários, mais mitificam o candidato preferido, como se a política prescindisse de instituições democráticas e dependesse apenas da vontade pessoal do eleito. Esses eleitores não votam a favor de um projeto de nação e propostas consistentes, e sim contra aqueles que, na opinião do avatar escolhido, representam o mal.
No Brasil, a redução do tempo de campanha política, as restrições a comícios e propagandas eleitorais fazem com que as candidaturas não favoreçam a educação eleitoral e política. Assim, o clima de revanche tende a suplantar a reflexão cívica, o debate democrático, a avaliação dos candidatos e de suas propostas.
Perguntem
à história quem ganha eleições, e ela certamente responderá que
não são necessariamente os melhores, mas aqueles capazes de servir
de imã às insatisfações e frustrações da população. Em países
em crise, e cuja nação carece de consciência histórica, os
eleitores não buscam solução, buscam salvação. Já não são um
povo, formam uma massa.
“A
massa é extraordinariamente influenciável, crédula, acrítica; o
improvável não existe para ela.
Pensa
em imagens que evocam umas às outras associativamente, como no
indivíduo em estado
de
livre devaneio, e que não tem sua coincidência com a realidade
medida por instância razoável.
Os
sentimentos da massa são sempre muito simples e exaltados. Ela não
conhece dúvida,
nem
incerteza. Vai prontamente a extremos; a suspeita exteriorizada se
transforma
de
imediato em certeza indiscutível; um germe de antipatia se torna
ódio selvagem.”
“Quem
quiser influir sobre ela não necessita medir logicamente os
argumentos; deve pintar com
imagens
mais fortes, exagerar e sempre repetir a mesma fala. Como a massa não
tem dúvidas
quanto
ao que é verdadeiro ou falso, e tem consciência da sua enorme
força, ela é, ao mesmo
tempo,
intolerante e crente na autoridade. Respeita a força, e se deixa
influenciar apenas
moderadamente
pela bondade, para ela uma espécie de fraqueza. O que exige de seus
heróis é
fortaleza,
até mesmo violência. Quer ser dominada e oprimida, quer temer os
seus senhores.
No
fundo, inteiramente conservadora, tem profunda aversão a todos
os progressos e inovações,
e
ilimitada reverência pela tradição” (Freud, Psicologia das
massas e análise do eu –1921).
*Frei Betto é natural de Belo Horizonte. Mora há mais de 40 anos em São Paulo. Frei dominicano, é um dos principais defensores da Teologia da Libertação. Foi preso e torturado pela Ditadura Militar pela sua solidariedade aos defensores da democracia. Assessor de movimentos populares e escritor. Já publicou mais de 60 livros como "Fidel e a Religião", "Cartas da Prisão", "Batismo de Sangue", "Paraíso Perdido: Viagens ao mundo socialista", "O que são Comunidades Eclesiais de Base", "Felicidade, foi-se embora?", "A mosca azul", "Calendário do poder", "Oito vias para ser feliz", "Reiventar a vida", entre muitos.
Leia aqui neste Blog outras análises do Frei Betto sobre eleições, política, ditadura e fascismo:
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