Depressão levou Tiago a sair da sua cidade natal e se transformar em andarilho.
Foto: divulgação
Tiago Melo com um tio (de chapéu) a mãe, um amigo e policiais de Itaobim
Tiago Melo Ferreira, 40 anos, nasceu em Ijuí, cidade de 84 mil habitantes, a 395 km de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.
Em 2014, uma depressão repentina levou Tiago, que é solteiro, a deixar a família e decidir viver como andarilho. Com poucos pertences, ele vagou por descampados, rodovias , cidades e lugarejos do país, até ser localizado no último dia 31 de janeiro, em Itaobim, no Vale do Jequitinhonha (MG).
Desde que desapareceu, a família procurava ter notícias dele, mas, durante todo o tempo que esteve longe de casa, não fez nenhum contato, nem deixou rastros.
Desesperada, a mãe chegou a criar uma página no facebook: “ Procura-se Tiago Melo Ferreira”.
Na última quarta-feira (31), a Polícia Militar de Itaobim foi acionada pela equipe de inteligência da instituição, que durante o serviço conseguiu localizar Tiago. Após ser identificado, ele foi levado para um hotel da cidade.
Policiais Militares fizeram contato com a mãe e ela quase não acreditou que o filho havia sido reencontrado. A mãe e um tio do rapaz se deslocaram até Itaobim para busca-lo. O mistério do desaparecimento, havia chegado ao fim. Tiago retornou com a mãe e o tio para a cidade natal dele.
Alma de cigano
“Os andarilhos vivem o espaço. O tempo praticamente não existe: ontem, hoje e amanhã estão fundidos na sua percepção. É como se eles não tivessem história: seu passado não está no seu presente , o antes não se conecta com o agora), não há um prolongamento, mas uma ruptura que o lança no vácuo temporal”, explica o professor de psicologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) José Sterza Justo, um dos maiores estudiosos do tema no Brasil
“O andarilho é um viajante contumaz. Ele apenas está de passagem pelos lugares e não se expõe a marcas de espaço algum. Não cria vínculos e não se detém nas coisas ou pessoas com as quais estabelece algum contato. O máximo que faz é carregar na memória algum registro de algo que possa ter deixado uma impressão mais forte. Quando os andarilhos se referem a algum lugar como sendo melhor para sobreviver, sabem que se trata de algo passageiro. Têm consciência de que alguma assistência mais diferenciada, prestada em alguma cidade, é provisória porque depende da política local, que muda frequentemente. Isso é que é viver sem projeto, lidar com referenciais móveis, voláteis e efêmeros”, explica o psicólogo.
Sérgio Vasconcelos, Repórter da Gazeta de Araçuaí
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