Experiências de Leme do Prado, Porteirinha, Janaúba e Verdelândia produzem alimentos saudáveis, sem veneno.
Alimentação dos moradores do Vale do Jequitinhonha e do Norte de Minas melhorou com a implantação do projeto – Foto: Jair Mendes / Divulgação Epaming
Os alimentos fresquinhos, colhidos na hora, fizeram a diferença, por exemplo, na comunidade de Posses, em Leme do Prado, no Vale do Jequitinhonha. Na horta comunitária, instalada na Associação Mãos de Fadas, são cultivadas hortaliças como alface, couve, couve-flor, jiló, quiabo, beterraba, cenoura, abobrinha, moranga e outros. Na época de chuva, são realizados os plantios de grandes culturas, como feijão, milho e mandioca.
Segundo a pesquisadora e chefe-geral da Epamig Norte, Polyanna Oliveira, o projeto, que conta com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig), começou em 2014 nos municípios de Porteirinha, Janaúba e Verdelândia, no Norte, além de Leme do Prado. “Os moradores não tinham acesso à verduras de qualidade, pois estão longe dos centros comerciais, em locais de difícil acesso e com escassez de água. Tudo que vinha da Ceasa já chegava ruim. Assim, queríamos fazer a diferença nessas comunidades”, explica.
A ideia, porém, surgiu a partir de um projeto implantado anteriormente pela Epamig em 2009 dentro das próprias unidades em Montes Claros, Jaíba, Mocambinho, Nova Porteirinha e no Campo Experimental de Acauã, em Leme do Prado. Nas últimas duas, a horta comunitária foi mantida pelos funcionários, que repartem entre si tudo o que é produzido. “Este projeto anterior havia sido aprovado pelo CNPQ e teve duração de dois anos. Mesmo assim, os colaboradores resolveram manter a horta comunitária nestas duas unidades, pois a alimentação de suas famílias ficou muito melhor”, diz Polyanna.
Em 2014, surgiu a nova versão do projeto, desta vez voltado para as comunidades e com a implantação do sistema de captação de água da chuva. O técnico da Epamig no Campo Experimental de Acauã, Jair Mendes, acompanhou a implantação das hortas e conta que foram adotadas práticas agrícolas que garantem a qualidade do que é colhido, como a rotação de culturas e o controle de pragas e doenças sem uso de agrotóxicos. Além disso, a horta foi construída no formato circular, que permite maior aproveitamento da água e melhor dinâmica das plantas.
Para a irrigação é utilizada a água da chuva, que é captada do telhado por calhas de zinco e armazenada em um reservatório de ferro-cimento. “Em Posses, o reservatório de 52 mil litros transbordou no mês de janeiro, com a captação de 600 mm/mês de água. A média anual na região é 800mm/ano”, comemora o técnico.
Mudança de vida
A Associação Mãos de Fadas, na comunidade de Posses, divide a produção da horta entre as associadas e ainda comercializa o excedente. A verba obtida é utilizada para a compra de sementes e outros materiais. No período de seca, a prefeitura da cidade fornece água por meio de caminhão-pipa, e, em contrapartida, as associadas doam os produtos para as cantinas da escola municipal e da creche.
Vice-presidente da Associação, Eva Maria Castro afirma que a horta foi fundamental em sua vida. “Fiquei dois anos desempregada, mas mesmo assim sempre tive muita fartura em casa para os meus três filhos. A Associação também ficou mais unida. Quando vamos cuidar das plantinhas, é o momento que temos para jogar conversa fora, rir e fazer o que gostamos, pois aprendemos a amar isso aqui”, relata.
A pesquisadora e chefe-geral da Epamig Norte, Polyanna Oliveira, diz que o projeto resultou também na diminuição do consumo geral de água nas comunidades. “Muitas vezes, os moradores tinham uma pequena hortinha em casa, e faziam irrigação sem controle. Como juntou tudo na horta comunitária e ainda é captada água de chuva, o consumo reduziu”, conclui.
Cultivo diferente
Uma das novidades do projeto de hortas agroecológicas é o cultivo de hortaliças e legumes em áreas circulares, que funciona como uma curva de nível. “A água tem mais tempo para infiltrar no solo e é mais bem aproveitada”, explica o técnico da Epamig Jair Mendes. Além disso, o sistema permite a criação de peixes ou frangos no centro da horta, o que, por sua vez, contribuem para sua manutenção.
No caso da criação de peixes, a água contribui para melhor fertilização das lavouras e possibilita às famílias a manutenção de uma fonte alimentar rica em proteínas. Já os produtores que optarem pela criação de frangos podem usar o esterco para a manutenção de canteiros, além de garantirem a produção de ovos e de carne para subsistência e comercializarem o excedente.
Outra possibilidade é instalar a chamada espiral de ervas no centro da horta, com espécies como hortelã, boldo, erva-cidreira, puejo, dipirona, entre outras plantas medicinais. Além de serem utilizadas para consumo próprio, elas acabam virando repelentes naturais contra insetos.
Serviço
Os moradores da região que tenham interesse podem procurar a Epamig para ajudar na implantação da horta, recebendo consultoria e capacitação dos técnicos. “Um terreno com 10x10m já possibilita a montagem de uma pequena horta circular”, diz Mendes.
A partir do projeto desenvolvido no Norte de Minas e no Vale do Jequitinhonha, a Epamig publicou a cartilha “Hortas no sistema agroecológico com captação de água de chuva”, que tem os passos para construção da horta. O material está disponível no site www.epamig.br.
Fotos
Fonte: Agência Minas
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