Sabugo de milho em Araçuaí Trabalhei algum tempo na Prefeitura Municipal de Araçuaí no Governo Municipal de Maria do Carmo Ferreira da Silva, nossa querida Cacá.
Todas a vezes que eu visitava uma escola pública em Araçuaí, e até mesmo nas minhas andanças pelas montanhas rurais do Vale do Jequitinhonha, dizia para todos: A França, um dos berços das liberdades individuais, berço da liberdade, igualdade e fraternidade, tem em seu hino uma frase que diz: "vamos filhos da pátria, o dia de glória chegou".
Com esta frase, eu queria dizer aos estudantes e ao povo que somente eles poderiam criar uma nova era de glória e cidadania. Somente com o voto consciente, mudaríamos estruturas obsoletas e seculares de administrações públicas que nunca tiveram a participação popular. Era possível criar uma pátria mais justa e igualitária para todos os brasileiros; e era aquilo que pretendíamos para todos, naquela região esquecida pelos poderes públicos.
Lembro-me que quando meu pai Tim Garrocho estava preso no DOPS, na época da ditadura militar, meu tio Nilton (Nenzinho) foi até a casa de um conhecido deputado federal pedir ajuda em prol do meu pai. Na verdade, a ajuda (quanta humilhação!) era para que não o espancassem tanto como estavam fazendo nos porões da ditadura militar.
Alguém, que sabia do meu pai preso e conhecia meu tio, atendeu e disse que o tal deputado não estava em casa. Meu tio Nilton afastou-se um pouco e, minutos depois, o tal deputado federal saiu de casa num luxuoso carro oficial. Aquele deputado, como muitos, só conhecia meu pai e o povo de quatro em quatro anos.
Alguém, que sabia do meu pai preso e conhecia meu tio, atendeu e disse que o tal deputado não estava em casa. Meu tio Nilton afastou-se um pouco e, minutos depois, o tal deputado federal saiu de casa num luxuoso carro oficial. Aquele deputado, como muitos, só conhecia meu pai e o povo de quatro em quatro anos.
Nos vales do Mucuri e Jequitinhonha, mesmo após o regime de opressão, o povo continuou, e acredito que em grande parte dos municípios, ainda continua sem assistência dos governos públicos em todas as esferas, ocasionando a proliferação de políticos que só voltam de quatro em quatro anos e que sempre viveram às custas da miséria, em todos os sentidos, do povo.
Quando da minha visita àquela longínqua região do Vale do Jequitinhonha pude constatar que as raízes da ditadura militar, com seus péssimos políticos e bajuladores, ainda estavam presentes.
Visitei uma escola pública municipal onde as crianças estavam estudando em uma pequena igrejinha de fé onde não existia carteiras escolares. Eles escreviam praticamente curvados em bancos próprios para igrejas e outras reuniões. Não havia filtro de água. As crianças tomavam água de uma botija, conhecida por talha, que não filtrava a água. Não havia material escolar e nem livros.
Visitei uma escola pública municipal onde as crianças estavam estudando em uma pequena igrejinha de fé onde não existia carteiras escolares. Eles escreviam praticamente curvados em bancos próprios para igrejas e outras reuniões. Não havia filtro de água. As crianças tomavam água de uma botija, conhecida por talha, que não filtrava a água. Não havia material escolar e nem livros.
O apagador era um SABUGO DE MILHO.
Quando perguntei à professora onde estava o "quadro negro", ela me mostrou um velho e sujo latão de zinco enfumaçado e pendurado nas paredes da pequena igreja. O que mais me entristeceu naquele momento, era que sobre o latão sujo de zinco onde funcionava o "quadro negro", estava pendurado um grande calendário com uma foto sorridente de um conhecido político deputado federal com os seguintes dizeres: "Ele faz por você".
O sorriso e a saúde do deputado na foto contrastavam com a tristeza dos olhos daquelas humildes e sofridas crianças.
Entendi tudo e, para alegria daquela comunidade, das crianças, dos pais e da professora, levamos todos os materiais básicos que faltavam à escola para seu funcionamento digno. Foi uma festa e nem precisamos levar ninguém para fazer discurso político.
Entendi tudo e, para alegria daquela comunidade, das crianças, dos pais e da professora, levamos todos os materiais básicos que faltavam à escola para seu funcionamento digno. Foi uma festa e nem precisamos levar ninguém para fazer discurso político.
Em tempo, arrancamos com palmas o retrato do deputado federal que ali só voltava de quatro em quatro anos.
O " dia de glória chegou..."
Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho), do livro Retalhos da Tortura, do autor, Páginas 137, 138, 139, e editado em 2006. Téo é de Teófilo Otoni, mora em Barbacena, perto de Juiz de fora, na Zona da Mata mineira.
Este texto foi publicado no Blog do Téo Garrocho
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