Os políticos ficaram chatos
Rudá Ricci
Achei que por ser dia dos pais tinha o direito de pensar livre sobre o tema que escolhi como o da minha profissão: a política. Afinal, como diz a frase de Millôr que já é quase lugar comum, livre pensar é só pensar.
O meu, de hoje, é o quanto os políticos estão chatos. Acho que aí está o charme de Plínio de Arruda Sampaio desta campanha.
Ao contrário de outras que ele participou - eu fui coordenador da campanha dele ao governo de São Paulo, em 1990, e posso atestar - ele não está se levando tão à sério. E retomou aquele charme histriônico dos políticos de antes. Algo de Jânio Quadros, Ademar de Barros, Enéas e até mesmo Suplicy.
Collor, no meu modo de ver, já era a transição para o estilo Datafolha de ser: cheio de certezas e raiva contida (não muito contida, no caso dele, é verdade).
Os políticos de hoje são chatos e acreditam demasiadamente em si.
Este é, inclusive, o maior defeito de Marina: é muito contida, é muito igual à inspetora de educação, naquela sua certeza fundada em portarias e normas técnicas, no seu orgulho a respeito do rumo certo de se fazer as coisas. Marina leva jeito para ser humana e brasileira quando lê suas poesias, que não interessam ao eleitor, mas interessa ao mundo.
Dilma e Serra são o supra sumo da chatice e exemplo maior de onde chegamos nestes tempos de política como ciência exata. Parece que são candidatos a Deus: não podem errar, são juizes da Via Láctea, citam números e currículos como se fossem Pelé, Airton Senna, Mozart ou Einstein. Gênios da raça. Não entendo, ao ouvi-los, como ainda não foram indicados ao Prêmio Nobel.
Este é o traço de personalidade que vem judicializando a política tupiniquim.
Meu pai dizia que há três defeitos insuperáveis no ser humano: o mau hálito, a ingenuidade e a chatice. Sinto que quem vencer as eleições deste ano nos brindará com quatro anos de chatice, já que é um defeito insuperável, que já vem de fábrica e é apenas aperfeiçoado ao longo da vida.
Enfim, a política ficou chata como um jogo dirigido por Dunga. Aliás, citei o Datafolha como ato falho. O único jornal que atacou o lado histriônico de Plínio (cuja chance de vencer é exatamente proporcional à sua atual intenção de voto) foi a Folha de SPaulo. E o colunista Fernando Barros e Silva foi o porta estandarte desta falta de humor. O artigo comparando Plínio com Beckett foi a demonstração do grau de prepotência e ausência de humanidade da grande imprensa brasileira.
Eta tempos difíceis, sô!
Rudá Ricci é cientista político e responsável pelo http://www.rudaricci.blogspot.com/
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