sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Morre músico Flávio Henrique

Flávio Henrique Alves de Oliveira, de 49 anos, teria contraído a febre em sítio no município de Brumadinho e começou a sentir os sintomas, na quinta-feira da semana passada.
Parentes e amigos de Flávio Henrique suspeitam que o compositor, um dos principais responsáveis pelo renascimento do carnaval de rua na capital, tenha sido infectado em Casa Branca, região de Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte. Ele adquiriu uma casa na região e frequentou cachoeiras nos últimos dias nas proximidades da propriedade.
Flávio começou a sentir os sintomas da febre amarela na quinta-feira, dia 11. Amigos contaram que ele reclamou que não estava bem e ‘com o corpo estranho’. Na sexta-feira, ele deu entrada no Hospital Mater Dei, onde permaneceu internado.

Além da doença, os médicos chegaram a suspeitar de dengue. Pessoas próximas do compositor afirmam que ele não sabia se era vacinado, mesmo tendo saído recentemente do país. 

O corpo do cantor e compositor Flávio Henrique foi enterrado, na sexta-feira, 19.01.17, no Cemitério Parque da Colina, no Bairro Nova Cintra, Região Oeste de BH. 
Durante o velório de Flávio, amigos, fãs e familiares prestaram as últimas homenagens ao músico. 

O velório começou às 16h de ontem, no Hall da Sala Minas Gerais, que fica na Rua Tenente Brito de Melo, 1.090, no Barro Preto, Região Centro-Sul de BH. Foi aberto ao público a partir das 17h30, mas a imprensa não foi autorizada a entrar.
Amigos e personalidades lamentam morte de Flávio Henrique
Victor Santana, músico e amigo de Flávio Henrique, contou que os amigos e familiares passaram a virada do ano no sítio em Brumadinho, na Grande BH – onde foi o provável local que Flávio teria contraído a doença. “Fica na Aldeia Cachoeira da Serras. Havia 40 dias que ele tinha comprado a casa. Era a casa dos sonhos, com um grande piano. Já estávamos com plano de gravar discos ali."
O rapper Flávio Renegado também foi prestar as últimas homenagens. “Grande parceiro, amigo. Fica o sentimento de tristeza. Em pleno século 21, você ter febre amarela matando as pessoas. É um negócio inconcebível”, contou. Eles trabalharam juntos há quatro anos e “gostaria de ter feito outros com ele”.


Flávio Henrique, Kadu Vianna, Pedro Morais e Mariana Nunes, componentes do Cobra Coral.
Pedro Morais, amigo e parceiro de Flávio Henrique, fala da grande perda
Colega de banda, do Cobra Coral,  e amigo de longa data de Flávio Henrique, o músico Pedro Morais deu um relato emocionado no fim da manhã de quinta-feira (18.01), em frente ao Hospital Mater Dei, onde o colega faleceu mais cedo em decorrência da febre amarela. Ele contou que foi um dos últimos a conversar com ele, e que ouviu do próprio músico que ele não havia tomado a vacina. Além disso, existe a possibilidade dele ter contraído a doença em Casa Branca, distrito de Brumadinho, na região metropolitana de BH, onde ele recém adquiriu uma casa próxima de uma região de mata. 
"Isso é um alerta para toda a população se vacinar, ele não vacinou, isso acontece, ele confirmou que não vacinou e isso pode acontecer com qualquer um de nós, é uma fatalidade. (...) Ele foi para fora do país, duas vezes à Cuba, alguns anos atrás. E disse que não lembrava se tinha vacinado. Quando você já está infectado, o que fazer? Ele assumiu que não vacinou, alertou a todos nós. O fato disso acontecer com ele, com essa comoção popular neste momento, será importante para ajudar a alertar as pessoas a terem um pouco mais de consciência e se preocupar com suas vidas, se proteger, porque a prevenção é sempre um caminho mais seguro", alertou Morais com a voz embargada. 
Questionado sobre a informação de que Flávio Henrique teria pegado a doença no distrito de Casa Branca, Pedro respondeu dizendo que o amigo estava em uma fase muito feliz. "Casou recentemente com a Cris, estava muito feliz, e esta casa foi uma realização de vida. Ele estava esperando o momento oportuno para comprar uma casa em um local tão bonito, cercado de mata. Mas como tudo na vida, tem todos os riscos", lamentou o músico. 





   Pedro Morais ainda lembrou que já chegou a morar com Flávio, que inclusive produziu seu primeiro disco. "A gente está desolado, porque você imaginar que um mosquito, uma coisa tão pequena fez isso, é a prova de que a vida é muito frágil. O Flávio é um cara extremamente generoso, meu parceiro de trabalho, produtor do meu primeiro disco, meu amigo, moramos juntos, somos muito irmãos e imaginar que ele não vai estar mais aqui é uma perda enorme para todo mundo (...) Músico como poucos, tinha uma necessidade de compor o tempo inteiro. Quando moramos juntos, eu acordava com ele tocando piano, me chamando para tocar junto. Um cara extremamente sensível e eu acho que vai fazer muita falta, porque a gente está vivendo um tempo de intolerância muito grande, onde toda demonstração de amor e sensibilidade é necessária para a gente evoluir juntos e dar um passo rumo ao crescimento espiritual, energético", disse. 
Ouça o relato emocionado completo: 
O amigo disse ainda que, na noite de quarta-feira (17.01), eles saíram felizes e otimistas do hospital, uma vez que ele estava bem assistido e vivia uma fase bem fisicamente. "Ele tinha parado de fumar, estava fazendo exercícios. A gente acreditava que, pela idade, ele tinha condição total de se recuperar, superar essa doença terrível. Anteontem, começamos uma campanha de doação de sangue e, ontem (quarta) tinha uma fila na rua do local. Foram mais de 120 doadores. Em meio a uma epidemia, o Flávio sai de cena ajudando a encher os bancos de sangue para ajudar outras pessoas. 

Mensagens de despedida

A morte de Flávio Henrique gerou comoção entre personalidades dos meios político e cultural do estado. Nas redes sociais, o governador Fernando Pimentel publicou vídeo prestando solidariedade à família e lembrou com carinho do cantor. “Flávio Henrique era um amigo querido, um grande homem, um grande artista. Hoje é um dia triste para Minas Gerais”, disse. O músico Lô Borges, que dividiu palcos e canções com Flávio, também se manifestou no Twitter sobre a morte: “Quanta tristeza. Vá em paz, Flávio Henrique. Nossos sinceros sentimentos à família e aos amigos queridos.”
Flávio Henrique era presidente da Rádio Inconfidência e TV Rede Minas.
O arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo, também divulgou mensagem de pesar. “Nossa solidariedade aos familiares, amigos, colegas do Flávio Henrique, presidente da Empresa Mineira de Comunicação. Em oração, peço a Deus que conforte o coração de todos e acolha, em sua infinita misericórdia, nosso irmão Flávio Henrique”, publicou em seu perfil no Twitter.


O músico Vitor Velloso, um dos integrantes da Orquestra Royal, ressaltou que Flávio Henrique foi um dos que iniciaram o movimento de retomada do carnaval de BH. É dele a marchinha que se tornou o primeiro hit da folia, Na coxinha da madrasta, interpretada por Juliana Perdigão. A música venceu o Concurso Mestre Jonas de 2012. “Além de amigo, um músico excepcional, referência para todo mundo, foi ele quem deu o start nessa história toda. Na coxinha da madrasta foi a primeira pedrada nesse vidro. A gente tocou o barco, mas foi o Flávio quem o colocou na água”, comentou.

Em nota, a Rede Minas e a Rádio Inconfidência lamentaram a morte do gestor. “Seu sorriso, seu jeito carinhoso, sua dignidade e sua música ficam marcadas em nossa memória e em nossos corações. O governo de Minas Gerais, a Secretaria de Estado de Cultura e todo o Sistema estadual de Cultura lamentam essa imensa perda e enviam condolências a familiares e amigos”.


Flávio Henrique com Juliana Perdigão no Concurso de Marchinhas, defendendo "A coxinha da Madrasta".


O jornalista Tutti Maravilha, além de ter convivido com Flávio Henrique durante anos como músico, passou a ter uma experiência nova recentemente: Flávio se tornou seu ‘chefe’, já que assumiu a presidência da Rádio Inconfidência, onde Tutti trabalha, e da Rede Minas. “Sua gestão estava sendo muito bacana; ele era um homem de sensibilidade.” O último encontro entre eles foi na quinta-feira, dia 11, véspera da internação. “Ele estava superbronzeado, feliz, tinha passado uns dias em Casa Branca, mas comentou que estava sentindo uma coisa estranha e não sabia o que era. Já eram os sintomas da febre amarela. Uma grande perda”, comentou.


A presidente do Sindicato dos Artistas e Técnicos de Espetáculos de Minas Gerais (Sated/MG), Magdalena Rodrigues, manifestou pesar pela morte de Flávio Henrique. “Gratidão ao músico/compositor Flávio Henrique Alves por ter aliviado a alma e embelezado a vida com sua arte. Pessoa leal e digna, que o som da sua música seja a trilha sonora da sua passagem! Vai com Deus!”, lamentou por meio de nota. 


Compositor plural
A música de Flávio Henrique era plural. Prolífico em parceiros, o cantor, compositor e instrumentista construiu uma obra que dialogou com diferentes gerações da música mineira. E uma obra extensa: compôs 180 músicas. O ofício ele aprendeu em casa, por meio da mãe, Delza Cecília Alves de Oliveira, professora. “Ela exerceu a profissão de musicista até quando eu tinha uns 10 anos. Curiosamente, foi depois que ela largou a música que eu comecei a minha carreira”, disse ele em depoimento ao site do Museu Clube da Esquina.

Um dos discos responsáveis por sua formação foi de Toninho Horta, que muitos anos mais tarde se tornaria seu parceiro. Um dia, sua mãe chegou em casa com um álbum do violonista, gravado em 1984. Flávio, então mal entrado na adolescência, não tocava nenhum instrumento.

“Esse disco branco do Toninho Horta foi a primeira coisa com essa cara forte daqui de Belo Horizonte que chegou e eu gostei de cara. Engraçado que era uma música difícil”, disse.

Com muitos instrumentos em casa, graças à mãe professora, Flávio se tornou autodidata. Aprendeu piano, cavaquinho e violão. O primeiro grupo nasceu também na escola. Em 1994, já aluno da Rede Pitágoras, matriculado na mesma turma que Robertinho Brant, Flávio passou a integrar o grupo Candeia. O disco de estreia viria logo depois. Lançado pelo selo Velas em 1995, Primeiras estórias trazia no repertório as faixas Caçada da onça e Carro de boi inspiradas, respectivamente, nos contos Meu tio Iauaretê e Conversa de bois, ambos do livro Sagarana, de Guimarães Rosa. O disco o fez trocar o bar pelos estúdios, especializando-se na composição de canções para artistas como Paulinho Pedra Azul e Ana Cristina, entre outros. Cinco anos depois, Ney Matogrosso batizaria o elogiado Olhos de farol, em que dava mais uma guinada na carreira solo, com a canção de Flávio, que, a essa altura, já chamava a atenção de produtores como Ronaldo Bastos.


Flávio Henrique ao lado de Paulinho Pedra Azul e do poeta Murilo Antunes na gravação do filme Murilo Antunes: como se a vida fosse música


INDEPENDENTE 

Em 2000, Flávio ficou em quarto lugar na categoria compositor no Prêmio Visa de Música. Marina Machado e o Trio Amaranto (formado pelas irmãs Flávia, Marina e Lúcia Ferraz) seriam os companheiros de palco na performance. A parceria no palco gerou mais um disco, Aos olhos de Guignard. “Foi o disco independente de maior tiragem (6 mil cópias) feito na cidade”, disse ele, em 2012.


Já em 2002, Flávio Henrique gravou em parceria com Chico Amaral o disco Livramento, cujo repertório reúne músicas cantadas e instrumentais. Milton Nascimento participou deste trabalho na canção Nossa Senhora do Livramento, e Ed Motta em Hotel Maravilha. Vale lembrar que Flávio e Chico foram os produtores de Baile das pulgas (1999), primeiro álbum solo de Marina Machado. Na sequência ele faria os discos Sol a girar (2005) e Pássaro pênsil (2008). 



O primeiro álbum foi um ensaio do que viria a se tornar o quarteto Cobra Coral. 

Ouça e veja uma entrevista do Flávio Henrique, Pedro Morais, Kadu Vianna e Mariana Nunes, na Rádio Inconfidência, em 2016:

Resultados da pesquisa

A HORA DO IMPROVISO - Thiago Delegado convida Cobra Coral ...

https://www.youtube.com/watch?v=XC0CAi3Ym4k
21 de mar de 2016 - Vídeo enviado por Thiago Delegado
Hora do Improviso, é o talk show da Inconfidência Fm, 100,9, veiculado todas as quintas 22hs ...
Em 2012, o quarteto lançou o trabalho de estreia. E em 2015, o segundo.

Fontes: Estado de Minas, OTEMPO, Rádio Inconfidência

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