Trata-se de uma das mais luxuosas e imponentes sedes de poder legislativo dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, regiões conhecidas pelo Baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
Foto: Gazeta de Araçuai
O prédio de 3 andares tem vidros fumê, elevador panorâmico e gabinetes individuais para os 11 vereadores.
No momento em que o país atravessa uma das suas piores crises política e econômica, vereadores de Araçuai, município com cerca de 37.300 habitantes, no Vale do Jequitinhonha (MG), caminham na contramão da história.
Depois de reajustar os próprios salários que chegam a cerca de R$ 6 mil mensais, neste domingo, 12 de junho, eles participam de uma mega festa para inaugurar o novo prédio para a Câmara, que custou aos cofres públicos, a bagatela de R$ 1,4 mi ( Um milhão e quatrocentos mil reais ).
Durante a festa, serão concedidos títulos de cidadão honorário de Araçuai a 15 personalidades, sendo 10 delas ligadas à forças de segurança, um dos setores mais criticados pela sociedade local, em decorrência do aumento da violência, a impunidade de criminosos e o não esclarecimento de crimes violentos ocorridos no município.
Um suplente de deputado estadual, e um deputado federal investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF),por crime contra a administração pública, também receberão título de cidadão honorário.
Manifestantes prometem protesto em frente à Câmara. A festa começa às 20 horas e um carro de som, que circula na cidade desde o início da semana, convoca a população.
Nas redes sociais, pipocam críticas de internautas à gastança que inclui R$ 12 mil para o show do Grupo Garganta de Ouro e R$ 6.500 reais para montagem do palco. Muitos defenderam que o ideal seria investir o recurso na Saúde e no hospital da cidade que passa por dificuldades financeiras.
“Uma vergonha. Não fazem nada. Criaram um elefante branco, ao invés de algo para a segurança da população”, postou no facebook a professora e promoteur, Silvana da Cunha Melo.
Elefante branco é uma expressão idiomática para uma posse valiosa da qual seu proprietário não pode se livrar e cujo custo (em especial o de manutenção) é desproporcional à sua utilidade ou valor.
No convite para a festa, entregue pelos Correios à autoridades e instituições, consta que o prédio ao lado, de dois andares, que foi utilizado nos últimos anos como sede da Câmara, será repassado para a prefeitura de Araçuai, em regime de comodato.
" Estou pensando em levar o arquivo e o almoxarifado para lá”, disse o prefeito Armando Paixão (PT) informando que paga R$ 8 mil de aluguel do prédio onde atualmente funciona parte do centro administrativo municipal, como o gabinete, assessoria de comunicação, setor de tesouraria, entre outros.
No entanto, o vereador André Carvalho (PT) informou que foi aprovado um projeto de lei, determinando que o antigo prédio deverá ser ocupado pela sede da prefeitura ou alguma secretaria.
O prefeito informou ainda que repassa em torno de R$ 200 mil mensais para a Câmara.
TAPA NA CARA
A construção do novo prédio teve início em meados de 2011 sob a tutela do vereador Carlindo Dourado, então presidente da casa, que se reelegeu para o cargo.
Em um vídeo de 12 minutos, postado ano passado, na página da Câmara no facebook , o vereador Dourado, chegou a justificar a obra, afirmando que o atual prédio de dois andares, com elevador, plenário e salão administrativo, era um casebre.
Em janeiro de 2014, ele processou o cabeleireiro Sebastião Romie que exigiu a prestação de contas das obras. “ Eu queria saber também para onde foram levadas as telhas e as madeiras do prédio anterior, que segundo consta, foram parar em uma obra do reduto eleitoral do vereador”, lembrou o cabeleireiro.
O vereador e eventual presidente da Câmara, entrou com uma ação de danos, exigindo R$ 28 mil de indenização do cabeleireiro.
“ Ele argumentou que eu o chamei de ladrão e desequilibrado. Mas eu estava no meu direito de cidadão, de ter as informações. Se ele é tão honesto como prega, que tornasse pública a prestação de contas “, destacou Romie.
Em maio deste ano, o Juiz da Comarca julgou improcedente o pedido do vereador e arquivou a ação.
Para o cabeleireiro, o novo prédio é uma bofetada na cara do cidadão que contribui com o pagamento de impostos.
“Trata-se de um verdadeiro desperdício de dinheiro público que poderia ser melhor utilizado em obras de calçamento de ruas ou até mesmo na construção de casas populares. Não havia necessidade desta obra. O prédio anterior era novo e estava em excelentes condições.”, arrematou o cabeleireiro. Ele quer se promover com esta festa e com esta obra, já que é provável candidato a prefeito”, acredita o cabeleireiro.
“ Quando soube que o prédio era da Câmara, achei de bom gosto. Se fosse uma bitaca, todo mundo ia criticar mais ainda. Araçuai merece este destaque”, escreveu em sua conta no facebook, o advogado Rafael Amaral Filho, residente em Belo Horizonte e filho de Araçuai.
POLÊMICAS
A construção da sede própria da Câmara sempre foi cercada de polêmicas.
Durante a gestão do então presidente Iano Maioline (PT) em meados do ano 2000, erros de engenharia da Construtora que venceu a licitação, levou a parte principal do prédio ao desabamento. Foram necessários novos gastos para construir vigas no salão central.
Por considerar o prédio um casebre, o então vereador Carlindo Dourado (PP) decidiu usar sobras de recursos repassados pelo executivo, para iniciar sua obra faraônica.
Segundo fontes que não quiseram se identificar, a iniciativa era o resultado de um rompimento com o então prefeito, Aécio Jardim ( 2008-2012), antigo aliado do vereador.
A Constrar Engenharia foi a vencedora da licitação que recebeu os pagamentos de forma parcelada. A construção chegou a ficar 6 meses em compasso de tartaruga.
Somente para adequação e finalização da fachada, foram gastos R$ 216.464,00. A fachada é de vidro fumê.
Com compra e instalação de um elevador foram gastos R$ 156.115,00, conforme dados publicados pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE).
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