Uma região, uma universidade e um drama
Por Douglas Lima twitter.com/douglasjlima Qual é o papel de uma universidade? Como ela deve se inserir junto à comunidade que vive no seu entorno? Quais os benefícios que esse tipo de instituição pode trazer para um lugar, um estado ou país? Resumindo, para que serve uma universidade?
A universidade já serviu a variados fins ao longo da história. No Brasil de hoje uma instituição de ensino superior é definida como universidade desde que ao menos um terço dos seus professores possua mestrado ou doutorado. Além disso, é necessário que um terço dos docentes se dedique à instituição em tempo integral. Essa é a definição legal, mas uma universidade vai muito além do que diz a legislação. Em um mundo com tantas divergências e tão plural ao mesmo tempo, a universidade pode subsidiar melhores formas de vivências para uma sociedade. O tripé ensino, pesquisa e extensão deve estar em constante diálogo com a comunidade que vive ao lado da instituição e que deposita esperanças e aspirações no seu potencial transformador.
Desde meados de Agosto desse ano a sociedade civil do Vale do Jequitinhonha acompanha com apreensão o desenrolar da discussão sobre a expansão da UFVJM (Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri). Pela Lei 11.173, de 6 de setembro de 2005, as Faculdades Federais Integradas de Diamantina foram transformadas em universidade. Resultado de um longo processo, essa nova instituição surgiu gerando expectativas na região.
Em seu estatuto aprovado pelo Conselho Universitário em 2009, a UFVJM é caracterizada como uma universidade multicampi, com ênfase nos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Entre seus vários objetivos elencados, um se destaca: contribuir para o processo de desenvolvimento dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri e do Brasil.
Atualmente a UVFJM está na iminência de se expandir para regiões fora do raio de atuação para o qual foi concebida. As cidades de Unaí e Janaúba foram indicadas pela Secretaria de Educação Superior do MEC para receber dois campi administrados pela UFVJM. São cidades importantes para a economia de Minas Gerais e com uma população conjunta de quase 150.000 habitantes. Entende-se a relevância desses municípios no contexto estadual e é inquestionável o fato de que merecem receber cursos superiores federais. No entanto, não tem a menor lógica dos pólos universitários dessas cidades ficarem sob a tutela da UFVJM.
Em primeiro lugar, cabe dizer que a própria Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri ainda passa por processo de estruturação. Não custa nada lembrar que a universidade completa apenas 6 anos agora em 2011. Diante disso, entendem-se as origens de alguns problemas e dificuldades pelos quais a universidade passa. O fato de a instituição ser multicampi é um complicador a mais. Só a toque de exemplo, há várias reclamações em relação ao campus de Teófilo Otoni. Então, antes mesmo da universidade se enraizar na região para a qual nasceu ela vai alçar vôo para distantes paragens. Unaí está a cerca de 700 quilômetros de Diamantina. É meio improvável que essa grande distância resulte em uma boa administração universitária.
Passamos agora para os perfis regionais das cidades envolvidas. Pra começar, as dinâmicas sociais, culturais e demográficas de Unaí e Janaúba são totalmente diferentes das percebidas nos Vales. Os interesses, conseqüentemente, não serão os mesmos. Caso a UFVJM tome a configuração que estão propondo, assistiremos ao surgimento de uma universidade sem identidade e extremamente pulverizada. Será, então, muito difícil colocar em prática a “Visão” da instituição, que atualmente é estar entre as melhores Instituições de Ensino Superior do Brasil, reconhecida e respeitada pela excelência do ensino, da pesquisa e da extensão, contribuindo para o desenvolvimento nacional, em especial dos Vales do Jequitinhonha e do Mucuri.
Nesse quadro extremamente dramático, o reitor da universidade surge com uma ideia no mínimo estranha: modificar o nome da instituição para Universidade Juscelino Kubitschek. Infelizmente, temos percebido que a população regional – que pela internet se articulou no movimento “A UFVJM é nossa” – está alijada de toda discussão. O princípio da gestão democrática – expresso no estatuto universitário – não foi colocado em prática ao longo do processo. Pelo que parece, a reitoria da universidade sente-se receosa de barrar a decisão do MEC-Sesu e posteriormente ter dificuldade para conseguir benefícios para a instituição.
Nessa peleja dos últimos dias fica perceptível como os Vales ainda são vistos apenas como regiões para fins eleitoreiros. Embora o número de eleitores não esteja entre os maiores de Minas, há deputados que só se elegeram porque tiveram votação expressiva no lugar. Vemos alguns representantes federais realizando jogo duplo, “sobe em palanque apoiando a instalação em Janaúba e Unaí e vem para o Vale dizer que esta "com o Vale nessa briga" – como muito bem resumiu Bernardo Vieira no Blog do Jequi.
Mas há um lado positivo nesse roteiro tragicômico, já que a sociedade civil do Vale do Jequitinhonha não aceitou passivamente a imposição e tem discutido – ainda que à margem da administração universitária – toda essa realidade. Pode até ser que saia derrotada nessa batalha, mas o grupo que luta em busca de uma região mais democrática, com preocupações em defender bandeiras sociais e ambientais sairá fortalecido e mais experiente.
Postado por Movimento Muda Capelinha!
Por Douglas Lima twitter.com/douglasjlima Qual é o papel de uma universidade? Como ela deve se inserir junto à comunidade que vive no seu entorno? Quais os benefícios que esse tipo de instituição pode trazer para um lugar, um estado ou país? Resumindo, para que serve uma universidade?
A universidade já serviu a variados fins ao longo da história. No Brasil de hoje uma instituição de ensino superior é definida como universidade desde que ao menos um terço dos seus professores possua mestrado ou doutorado. Além disso, é necessário que um terço dos docentes se dedique à instituição em tempo integral. Essa é a definição legal, mas uma universidade vai muito além do que diz a legislação. Em um mundo com tantas divergências e tão plural ao mesmo tempo, a universidade pode subsidiar melhores formas de vivências para uma sociedade. O tripé ensino, pesquisa e extensão deve estar em constante diálogo com a comunidade que vive ao lado da instituição e que deposita esperanças e aspirações no seu potencial transformador.
Desde meados de Agosto desse ano a sociedade civil do Vale do Jequitinhonha acompanha com apreensão o desenrolar da discussão sobre a expansão da UFVJM (Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri). Pela Lei 11.173, de 6 de setembro de 2005, as Faculdades Federais Integradas de Diamantina foram transformadas em universidade. Resultado de um longo processo, essa nova instituição surgiu gerando expectativas na região.
Em seu estatuto aprovado pelo Conselho Universitário em 2009, a UFVJM é caracterizada como uma universidade multicampi, com ênfase nos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Entre seus vários objetivos elencados, um se destaca: contribuir para o processo de desenvolvimento dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri e do Brasil.
Atualmente a UVFJM está na iminência de se expandir para regiões fora do raio de atuação para o qual foi concebida. As cidades de Unaí e Janaúba foram indicadas pela Secretaria de Educação Superior do MEC para receber dois campi administrados pela UFVJM. São cidades importantes para a economia de Minas Gerais e com uma população conjunta de quase 150.000 habitantes. Entende-se a relevância desses municípios no contexto estadual e é inquestionável o fato de que merecem receber cursos superiores federais. No entanto, não tem a menor lógica dos pólos universitários dessas cidades ficarem sob a tutela da UFVJM.
Em primeiro lugar, cabe dizer que a própria Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri ainda passa por processo de estruturação. Não custa nada lembrar que a universidade completa apenas 6 anos agora em 2011. Diante disso, entendem-se as origens de alguns problemas e dificuldades pelos quais a universidade passa. O fato de a instituição ser multicampi é um complicador a mais. Só a toque de exemplo, há várias reclamações em relação ao campus de Teófilo Otoni. Então, antes mesmo da universidade se enraizar na região para a qual nasceu ela vai alçar vôo para distantes paragens. Unaí está a cerca de 700 quilômetros de Diamantina. É meio improvável que essa grande distância resulte em uma boa administração universitária.
Passamos agora para os perfis regionais das cidades envolvidas. Pra começar, as dinâmicas sociais, culturais e demográficas de Unaí e Janaúba são totalmente diferentes das percebidas nos Vales. Os interesses, conseqüentemente, não serão os mesmos. Caso a UFVJM tome a configuração que estão propondo, assistiremos ao surgimento de uma universidade sem identidade e extremamente pulverizada. Será, então, muito difícil colocar em prática a “Visão” da instituição, que atualmente é estar entre as melhores Instituições de Ensino Superior do Brasil, reconhecida e respeitada pela excelência do ensino, da pesquisa e da extensão, contribuindo para o desenvolvimento nacional, em especial dos Vales do Jequitinhonha e do Mucuri.
Nesse quadro extremamente dramático, o reitor da universidade surge com uma ideia no mínimo estranha: modificar o nome da instituição para Universidade Juscelino Kubitschek. Infelizmente, temos percebido que a população regional – que pela internet se articulou no movimento “A UFVJM é nossa” – está alijada de toda discussão. O princípio da gestão democrática – expresso no estatuto universitário – não foi colocado em prática ao longo do processo. Pelo que parece, a reitoria da universidade sente-se receosa de barrar a decisão do MEC-Sesu e posteriormente ter dificuldade para conseguir benefícios para a instituição.
Nessa peleja dos últimos dias fica perceptível como os Vales ainda são vistos apenas como regiões para fins eleitoreiros. Embora o número de eleitores não esteja entre os maiores de Minas, há deputados que só se elegeram porque tiveram votação expressiva no lugar. Vemos alguns representantes federais realizando jogo duplo, “sobe em palanque apoiando a instalação em Janaúba e Unaí e vem para o Vale dizer que esta "com o Vale nessa briga" – como muito bem resumiu Bernardo Vieira no Blog do Jequi.
Mas há um lado positivo nesse roteiro tragicômico, já que a sociedade civil do Vale do Jequitinhonha não aceitou passivamente a imposição e tem discutido – ainda que à margem da administração universitária – toda essa realidade. Pode até ser que saia derrotada nessa batalha, mas o grupo que luta em busca de uma região mais democrática, com preocupações em defender bandeiras sociais e ambientais sairá fortalecido e mais experiente.
Postado por Movimento Muda Capelinha!
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