Chapada do Norte
Olímpio Soares: “A vida da gente é um laço. É uma história muito prolongada”
Fernanda Salvador, em http://fazedoresdonossochao.com/
Olímpio no engenho de sua roça: é nele que ele colhe vida
Terra pode ser poeira, solo, chão, pátria, o “meu lugar”, mundo: são muitos os seus sentidos. Nela produzimos nosso alimento e garantimos o sustento do nosso corpo.
Por outro lado, é através dela que sepultamos a existência que ela mesma ajudou a manter. Muitos sentidos brotam da terra, mas é pelo mesmo caminho que todos transitam: o da vida.
Não é apenas no alimento produzido pelo chão que a vida se faz presente. Da relação entre homem e terra nasce um modo de viver, uma cultura.
Foi na realidade da roça que Olímpio Rodrigues Soares se construiu e se diplomou alguém. Nascido no município de Chapada do Norte (Médio Jequitinhonha – MG) no ano de 1937, ele conhece o dia-a-dia da lavoura desde bem cedo. “Eu comecei a trabalhar de pequeno e fui continuando”, conta.
Olímpio aprendeu a semear sua existência no mundo quando ainda era menino. Para sobreviver, não teve escolha: precisou transformar a realidade que o castigava em sua aliada, fazer da vivência sua matéria-prima de conhecimento. Sobre a experiência de viver, ele conclui:
“A prática engole a teoria, se não tiver a prática. Então, a escola do mundo eu acho que seria a melhor, além do estudo, porque precisa ter, mas a do mundo é boa também”.
Quando Olímpio fala do que a realidade de seu dia-a-dia o fez aprender se refere, também, ao que sua mãe lhe ensinou: “Eu não tinha pai, minha mãe que criou nós. Era bastante filho e ela deu conta de nós tudo criado. Então, a gente deve essa obrigação aos criadores da gente que souberam, no sofrimento, amar a vida”.
Mais tarde, na condição de pai, Olímpio pôde prolongar o saber que fez sua mãe encontrar uma maneira de colher solução de um chão de impossibilidades: “Meus filhos foram criados um ajudando o outro, um socorrendo o outro. Isso vem desde esse começo: minha mãe criou nós fazendo do mesmo jeitinho, um vestindo a roupa do outro”, lembra.
Os impedimentos do dia-a-dia, no Vale do Jequitinhonha, entrelaçam a vida de cada um e inspiram em todos a vocação do convívio. “A vida da gente é um laço, é uma boia. É uma história muito prolongada”.
Mas não foi somente o modo de viver de sua terra que inspirou seus caminhos na vida. Olímpio precisou reconstruir referências que esse modo de viver ainda não enxergava. Ele percebeu que era preciso, em alguns casos, enveredar suas percepções a uma direção diferente da que já estava traçada.
A ele, quando jovem, foi ensinado que, em qualquer situação, era dever ser respeitoso: “Na minha criação, o velho falava e só o novo é que tinha que respeitar, eles não lembravam que o velho tinha que dar respeito, era o novo que tinha que respeitar, sempre era o novo que faltava respeito”.
Foi justamente por desconsiderar esse modo de agir dos mais antigos que Olímpio encontrou uma maneira de fazer valer o que lhe era exigido: “O velho tem que dar respeito primeiro para o novo porque se eu não te respeitar, você não vai me respeitar, então eu tenho que começar primeiro a respeitar a pessoa. E esse respeito é que faz crescer e faz amizade e firmeza na vida da família, porque um respeitando o outro, o pai tem respeito ao filho”, diz.
Fundação do Sindicato
A necessidade de desbravar caminhos em terras ainda inexploradas se impôs como um incessante trabalho para Olímpio, sem garantia de férias, folga, salário. Porém, foi à custa dessa renúncia que ele criou o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Chapada do Norte e conquistou outros direitos que lhe pareciam irrenunciáveis.
A participação de Olímpio no sindicato, atualmente, é de associado, mas sua permanência na diretoria durou quase duas décadas. “Nesses 18 anos que eu fiquei nesse movimento da sociedade, não tinha nada que eu fazia por dinheiro, eu não tinha salário, minha mulher mais os meus meninos é que trabalhavam, é que faziam a roça. Às vezes eu chegava, ajudava um, dois dias, daqui a pouco ligava um telefone: ‘você tem que tá em Brasília tal dia, você tem que tá em Belo Horizonte tal dia’ e eu nunca senti, pra falar assim: eu tomei prejuízo”, lembra.
A decisão de fundar o sindicato partiu da dificuldade que, certa vez, encontrou para conseguir atendimento médico em Belo Horizonte para uma irmã. No hospital, Olímpio apresentou à funcionária uma comprovação de sua contribuição ao sindicato patronal, acreditando que facilitaria a liberação na internação. Mas o documento produziu um efeito oposto do que ele esperava. A funcionária deduziu que, por Olímpio estar registrado naquele sindicato, era o patrão de sua irmã e, portanto, ela não poderia receber o atendimento. Não fosse Olímpio ter levado seu atestado de pobreza e o número do telefone de um médico que confirmou a carência deles e que eram trabalhadores rurais, a funcionária não teria liberado a internação. Ele reproduz o diálogo com ela: “Por que você paga esse sindicato? Lá não tem trabalhador não? Uai, falei: ‘tem sim’! E por que você paga esse sindicato? Cê tem que ter um sindicato seu: Sindicato do Trabalhador Rural”. A partir daí, deu início à peleja: “Aí eu arregacei a manga da camisa, achei muita ajuda, tinha um padre aqui que ajudou, bispo me ajudou, muitos companheiros me ajudaram”, conta.
Leia o restante da história do sr. Olímpio no site http://fazedoresdonossochao.com/
Olímpio Soares: “A vida da gente é um laço. É uma história muito prolongada”
Fernanda Salvador, em http://fazedoresdonossochao.com/
Olímpio no engenho de sua roça: é nele que ele colhe vida
Terra pode ser poeira, solo, chão, pátria, o “meu lugar”, mundo: são muitos os seus sentidos. Nela produzimos nosso alimento e garantimos o sustento do nosso corpo.
Por outro lado, é através dela que sepultamos a existência que ela mesma ajudou a manter. Muitos sentidos brotam da terra, mas é pelo mesmo caminho que todos transitam: o da vida.
Não é apenas no alimento produzido pelo chão que a vida se faz presente. Da relação entre homem e terra nasce um modo de viver, uma cultura.
Foi na realidade da roça que Olímpio Rodrigues Soares se construiu e se diplomou alguém. Nascido no município de Chapada do Norte (Médio Jequitinhonha – MG) no ano de 1937, ele conhece o dia-a-dia da lavoura desde bem cedo. “Eu comecei a trabalhar de pequeno e fui continuando”, conta.
Olímpio aprendeu a semear sua existência no mundo quando ainda era menino. Para sobreviver, não teve escolha: precisou transformar a realidade que o castigava em sua aliada, fazer da vivência sua matéria-prima de conhecimento. Sobre a experiência de viver, ele conclui:
“A prática engole a teoria, se não tiver a prática. Então, a escola do mundo eu acho que seria a melhor, além do estudo, porque precisa ter, mas a do mundo é boa também”.
Quando Olímpio fala do que a realidade de seu dia-a-dia o fez aprender se refere, também, ao que sua mãe lhe ensinou: “Eu não tinha pai, minha mãe que criou nós. Era bastante filho e ela deu conta de nós tudo criado. Então, a gente deve essa obrigação aos criadores da gente que souberam, no sofrimento, amar a vida”.
Mais tarde, na condição de pai, Olímpio pôde prolongar o saber que fez sua mãe encontrar uma maneira de colher solução de um chão de impossibilidades: “Meus filhos foram criados um ajudando o outro, um socorrendo o outro. Isso vem desde esse começo: minha mãe criou nós fazendo do mesmo jeitinho, um vestindo a roupa do outro”, lembra.
Os impedimentos do dia-a-dia, no Vale do Jequitinhonha, entrelaçam a vida de cada um e inspiram em todos a vocação do convívio. “A vida da gente é um laço, é uma boia. É uma história muito prolongada”.
Mas não foi somente o modo de viver de sua terra que inspirou seus caminhos na vida. Olímpio precisou reconstruir referências que esse modo de viver ainda não enxergava. Ele percebeu que era preciso, em alguns casos, enveredar suas percepções a uma direção diferente da que já estava traçada.
A ele, quando jovem, foi ensinado que, em qualquer situação, era dever ser respeitoso: “Na minha criação, o velho falava e só o novo é que tinha que respeitar, eles não lembravam que o velho tinha que dar respeito, era o novo que tinha que respeitar, sempre era o novo que faltava respeito”.
Foi justamente por desconsiderar esse modo de agir dos mais antigos que Olímpio encontrou uma maneira de fazer valer o que lhe era exigido: “O velho tem que dar respeito primeiro para o novo porque se eu não te respeitar, você não vai me respeitar, então eu tenho que começar primeiro a respeitar a pessoa. E esse respeito é que faz crescer e faz amizade e firmeza na vida da família, porque um respeitando o outro, o pai tem respeito ao filho”, diz.
Fundação do Sindicato
A necessidade de desbravar caminhos em terras ainda inexploradas se impôs como um incessante trabalho para Olímpio, sem garantia de férias, folga, salário. Porém, foi à custa dessa renúncia que ele criou o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Chapada do Norte e conquistou outros direitos que lhe pareciam irrenunciáveis.
A participação de Olímpio no sindicato, atualmente, é de associado, mas sua permanência na diretoria durou quase duas décadas. “Nesses 18 anos que eu fiquei nesse movimento da sociedade, não tinha nada que eu fazia por dinheiro, eu não tinha salário, minha mulher mais os meus meninos é que trabalhavam, é que faziam a roça. Às vezes eu chegava, ajudava um, dois dias, daqui a pouco ligava um telefone: ‘você tem que tá em Brasília tal dia, você tem que tá em Belo Horizonte tal dia’ e eu nunca senti, pra falar assim: eu tomei prejuízo”, lembra.
A decisão de fundar o sindicato partiu da dificuldade que, certa vez, encontrou para conseguir atendimento médico em Belo Horizonte para uma irmã. No hospital, Olímpio apresentou à funcionária uma comprovação de sua contribuição ao sindicato patronal, acreditando que facilitaria a liberação na internação. Mas o documento produziu um efeito oposto do que ele esperava. A funcionária deduziu que, por Olímpio estar registrado naquele sindicato, era o patrão de sua irmã e, portanto, ela não poderia receber o atendimento. Não fosse Olímpio ter levado seu atestado de pobreza e o número do telefone de um médico que confirmou a carência deles e que eram trabalhadores rurais, a funcionária não teria liberado a internação. Ele reproduz o diálogo com ela: “Por que você paga esse sindicato? Lá não tem trabalhador não? Uai, falei: ‘tem sim’! E por que você paga esse sindicato? Cê tem que ter um sindicato seu: Sindicato do Trabalhador Rural”. A partir daí, deu início à peleja: “Aí eu arregacei a manga da camisa, achei muita ajuda, tinha um padre aqui que ajudou, bispo me ajudou, muitos companheiros me ajudaram”, conta.
Leia o restante da história do sr. Olímpio no site http://fazedoresdonossochao.com/
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