domingo, 9 de janeiro de 2011

Barragem de Irapé acaba com praia do rio Jequitinhonha

Barragem de Irapé acaba com praia do rio Jequitinhonha
Coronel Murta quer compensações pela perda do seu cartão postal
Um monte de lama e pedras, na antiga praia de Coronel Murta, uma das consequências da Barragem de Irapé
A comunidade de Coronel Murta, no Médio Jequitinhonha, no nordeste de Minas, está disposta ir à luta e recuperar os prejuízos que teve com a construção da Hidrelétrica de Irapé que praticamente acabou com uma de suas maiores belezas naturais.
A bela praia de Coronel Murta era o cartão postal da cidade.

Além de local de lazer, ela era motivo de orgulho para os moradores do município.

No entanto, após a construção da Usina Hidrelétrica de Irapé, a praia desapareceu dando lugar a pedras, lama e matagal.

A reclamação é geral. Os freqüentadores das peladas na praia falam das mudanças bem como a maioria da população que relembra do lugar com saudades.

Na tentativa de sensibilizar a população, o ambientalista Saulo Murta, de Coronel Murta, postou um documentário na internet com o título “ Antes e depois de Irapé”.

“ É só digitar o titulo e postar um comentário. Queremos atingir a marca dos mil comentários.
Esta é uma foto da praia do rio Jequitinhonha, em Coronel Murta, antes da construção da Barragem de Irapé

A partir daí estamospensando em realizar uma audiência pública para decidir as ações que tomaremos contra a Cemig para recompor as perdas que tivemos”, diz o ambientalista.

O historiador e funcionário público Jairson Kleber diz que o movimento é válido, mas que estas reivindicações deveriam ser feitas durante o processo de construção.

Barragens não são únicas vilãsO rio Jequitinhonha nasce no lugarejo de Milho Verde próximo à cidade do Serro. Passa por várias cidades do Vale e deságua no mar no município baiano de Belmonte, próximo a Porto Seguro.

Já foi celeiro de grandes riquezas como o ouro e o diamante que alimentaram as pompas da coroa portuguesa. É alvo há muitos anos de uma exploração desenfreada, principalmente pela prática do garimpo que teve início no século 18.
Draga no leito do rio, em busca de explotação do ouro e diamante, na região de Diamantina
“A draga tem sede de ouro, o rio tem sede de água”Depois de 30 anos exposto à ação de garimpeiros, sem nenhuma fiscalização ou controle dos órgãos governamentais a visão que se tem hoje é lamentável.
No trecho compreendido entre os distritos de Mendanha, a 40 km de Diamantina e Terra Branca a 80 km de Bocaiúva, o rio é quase um filete de água.

A maior vilã, segundo a FEAM (Fundação Estadual do Meio Ambiente) é a Mineração Tejucana, primeira a ocupar o leito do rio no Alto Jequitinhonha. Essa área está assoreada, dando lugar a montes de areia, com o curso do rio desviado e suas águas se confundindo com o óleo das dragas.
Uma delas é um verdadeiro monstrengo, da altura de um prédio de cinco andares, pertencente à Mineração Rio Novo que tem a concessão de lavra num raio de 27 km do rio.

Em dezembro de 1995, durante a “Operação Jequitinhonha” ela foi interditada por estar atuando sem Licença de Operação. Na blitz foram apreendidas oito bombas de sucção clandestinas, pertencentes à Mineração Tejucana que recebeu uma multa de R$ 2.500 reais aplicada pelo IBAMA.
A imagem das dragas encravadas nas lagoas formadas pelas barragens mostra a destruição e a agressão ao meio ambiente. Por muitos anos moradores conviveram com as águas turvas e sem vida do rio que já foi navegável.

Compensação ambientalA Mineração Rio Novo diz que vem desenvolvendo um programa de revitalização das áreas afetadas, chamadas de aluvião.

Placa da Cemig alertando sobre as cheias do rio Jequitinhonha, mesmo em períodos de seca
O Projeto Alternativo da mineradora existe há 16 anos e promove o reflorestamento das matas ciliares, utilizando espécies nativas cultivadas em um viveiro. O trabalho, segundo Armando Ramos das Mercês responsável pelo programa foi iniciado após as dragas abandonarem o trecho desmatado. O viveiro disponibiliza, a cada estação chuvosa, cerca de 70 mil mudas para serem plantadas nas margens do Jequitinhonha.

“Com o tempo, vamos recuperar o estrago”, acredita Armando Ramos.

A Mineração Tejucana teve suas atividades suspensas depois que a FEAM alegou que ela estaria garimpando em áreas não permitidas. Os novos donos da Tejucana, Hildebrando Pereira, José Rocha e Adauto Lopes são antigos garimpeiros da região e adquiriram a mineradora de um grupo belga em 1995.


Ela tem autorização para explorar 100 km do leito do rio. De acordo com Caracciolo, advogado da empresa, o Relatório de Impacto Ambiental da Tejucana está em dia e que ela cumpre as leis ambientais. Ele disse ainda que não cabe aos novos donos assumir o passivo ambiental, ou seja, a degradação causada pelos donos anteriores.

O Rio Jequitinhonha nasce na cidade do Serro, atravessa o nordeste de Minas Gerais e deságua no Oceano Atlântico, em Belmonte no estado da Bahia. Tem 1.090 quilômetros de comprimento e perto de sua nascente fica a cidade de Diamantina.
O ambientalista Saulo Murta faz campanha na internet pela compensação de perda da praia da cidade de Coronel Murta
Outras cidades e municípios banhados pelo rio são Couto Maglahães de Minas, Carbonita, Olhos Dágua, Bocaiúva, Turmalina, Leme do Prado, Botumirim, Cristália, Grão Mogol, José Gonçalves de Minas, Berilo, Virgem da Lapa, Araçuaí, Coronel Murta, Itinga, Itaobim, Jequitinhonha, Almenara, Jacinto e Salto da Divisa.

O nome Jequitinhonha, na linguagem indígena quer dizer no Jequi tem onha ou seja, no jequi tem peixe, usados pelos índios botocudos, que habitaram a região, na confluência do rio São Miguel.
No período colonial ( séculos 15 e 16 ) o rio era conhecido como rio das Virgens. Atualmente foram construídas no rio Jequitinhonha duas grandes barragens, a de Itapebi, no sul da Bahia e fronteira com o município de Salto da Divisa e Irapé, no município de Berilo, com 208 metros de altura e considerada a mais alta do país.

Texto e fotos do Jornal Gazeta de Araçuaí, de novembro de 2010.

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