Afinal, quem é o tal “mercado” que
precisa ser acalmado?
Assustada pelas manchetes dos principais meios de comunicação e com medo do que a tal “piora do mercado” pode ocasionar em suas vidas, a opinião pública se coloca prontamente contra tais medidas, numa defesa inequívoca do tal “mercado” que sequer conhece, mesmo que isto signifique abrir mão de condições mais dignas e justas para (sobre)viver.
Mas afinal de contas, quem é este tal
mercado a quem aprendemos a defender com unhas e dentes?
Em tese, a expressão deveria se referir ao mercado de capitais, ambiente
onde empresas e governos podem acessar investidores para buscar financiamento
para seus projetos através da emissão de dívidas e ações (estas últimas,
somente empresas). Em relação a este, não há dúvidas que deva ser saudável e
funcionar adequadamente. Isto é benéfico para a economia dado que ajuda
projetos a sair do papel, torna a economia mais competitiva e traz a atividade
das maiores empresas do país para as discussões da sociedade, dado que empresas
que participam do mercado (de capitais) precisam cumprir regras de governança e
informar suas atividades com transparência. Infelizmente, porém, não é a este
mercado que as notícias se referem, mesmo que as pessoas tenham dificuldade de
perceber este fato.
E a dica já vem na forma como as notícias são estruturadas. Percebam que
a manchete sempre se refere ao tal “mercado” de maneira personificada.
“Bolsonaro tenta acalmar o mercado e fala em independência do BC” (Exame, 22 de
fevereiro de 2021), “Como Bolsonaro usa a Eletrobrás para afagar o mercado”
(Nexo, 24 de fevereiro de 2021)… “A situação mudou de figura em junho, e o
mercado ficou nervoso com a possibilidade de o PT chegar ao poder” (Infomoney,
30 de novembro de 2020).
Um ambiente de negócios, uma plataforma ou um sistema jamais ficam
calmos ou nervosos, muito menos precisam ser afagados. As notícias não estão
falando do mercado de capitais. Estão falando de pessoas! Mais especificamente
de um punhado delas somente. São os donos de bancos, de corretoras e os maiores
gestores de fundos de investimento, que se auto intitulam “o mercado” e colocam
o país de joelhos como refém todas as vezes que se veem contrariados no
objetivo de aumentar seus – já estratosféricos – lucros.
Já é mais do que hora de entender que o mercado é somente o termômetro
de uma economia. O paciente – no caso brasileiro, o doente – é a economia em
si. As atividades de criação e transformação de riqueza que ocorrem em um país.
Cuidar da economia é outra coisa. É cuidar das pessoas, aquelas
esquecidas pela chantagem deste tal “mercado” de mentira.
Chega de acreditar na mentira repetida mil vezes de que temos de cuidar
do termômetro para o doente melhorar. Temos é de olhar para o doente e aí
inevitavelmente o termômetro refletirá esta melhora. Gostem ou não deste ou
daquele candidato, desta ou daquela medida. Basta lembrar que mesmo sendo
hostilizado pelo tal “mercado”, o presidente Lula ganhou as eleições em 2002 e
viu o índice da bolsa brasileira medido em dólares multiplicar seu valor por
quase 20 vezes em pouco mais de 6 anos, um fato inédito no país.
“Cuidar do mercado” é ter um mercado de capitais transparente, seguro,
regulado, moderno e acessível ao pequeno, médio e grande investidor. Este
cuidado é bem vindo.
Cuidar da economia é outra coisa. É cuidar das pessoas. Estas que estão esquecidas no país, por conta da chantagem deste tal “mercado” de mentira.
* Empresário, é engenheiro e ex-banqueiro de
investimentos
Comentário do Blog:
Esse tal mercado é o mesmo formado por pessoas que vivem de renda, de especulação financeira, que pouco investe na produção que gera trabalho, renda e movimenta a economia na produção e consumo de bens. Essas pessoas são chamadas de rentistas, aqueles que vivem de renda.
O mercado fica nervoso com as candidaturas de esquerda porque temem que suas aplicações financeiras, seus dividendos, sejam regulados e taxados, o que não ocorre hoje. Também teme que a prioridade do governo de esquerda seja a população mais pobre e não o pagamento da dívida pública acumulada por anos de rapina por esses mesmo rentistas e seus governos parceiros.
O teto de gastos é uma das suas principais ações. Assim, foram aprovadas as PEC 55 e 241, no Governo Temer com o apoio de Bolsonaro, que limitam os gastos do governo, por 20 anos, em programas de saúde, educação, desenvolvimento social, previdência social e outros programas que beneficiam a maioria da população. São verdadeiras PECs da Morte que proíbem investimentos públicos.
Tudo tem que ficar para o mercado tomar conta. A privatização de todos os serviços públicos, a proibição de aumento salarial de servidores e concurso público são algumas das propostas do tal mercado.
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