12 de Novembro de 2017
por Jean Willis, deputado federal do PSOL, do Rio de Janeiro.
A solidariedade corporativa de parte da
elite branca, rica e reacionária brasileira com o jornalista William Waack
deveria ser estudada um dia nas universidades. E eu espero que seja em
universidades com mais negros, mais alunos oriundos das periferias e das escolas
públicas, mais pessoas trans, mais povo. A maneira em que o caso de racismo
envolvendo o jornalista da Globo tirou muitos outros racistas do armário põe em
evidência o que se conhece como “pacto narcísico” entre brancos, que está
sempre implícita e se expressa quando os privilégios da elite branca são
atacados, ou quando a prática do racismo é questionada na esfera pública.
Waack disse o que disse achando que a câmera estava
desligada, porque ele sabia que não poderia fazer aquele comentário ao vivo,
mas agora que tudo veio à tona e ele foi suspenso da emissora, toda uma casta
se sente na obrigação “moral” de defendê-lo abertamente, como se fosse uma
questão de princípios.
É o mesmo que já aconteceu tantas vezes a partir de
expressões públicas de homofobia que, ao ser expostas e questionadas por parte
da sociedade, provocaram a reação do pacto narcísico heterossexual.
Nos últimos dias, jornalistas, políticos e até um
juiz do Supremo — não podia ser outro, claro — alçaram a voz nas redes sociais
e nos veículos de comunicação em defesa do racista. Não é por acaso que tanto
Waack quanto seus defensores tenham sido apoiadores do golpe! Eles fazem
questão de serem ouvidos, desafiantes, orgulhosos, com uma cínica noção do que
seja a coragem. “Como assim já não é permitido falar que algo é 'coisa de
preto'? Que correção política é essa?”, reclamam, indignados, com o orgulho de
classe ferido.
Esses dias serão lembrados e estudados no futuro,
porque a máscara de muita gente caiu e está aí, descoberta, evidente, a cara do
Brasil que fingimos não ver, que juramos ter superado, mas continua vivo na
distribuição de renda, no mapa da fome, na divisão de classes, na
empregabilidade, na matrícula universitária, nas estatísticas de homicídios e
do sistema carcerário, nas favelas, na abordagem policial, nos autos de
resistência, na cara do telejornal, nos papéis da novela, na composição do
ministério, do Congresso, do judiciário, e agora também, sem autocensura, nas
manifestações de solidariedade de uma elite branca que continua achando que os
problemas do país são "coisa de preto".
Felizmente, também há uma reação muito forte de uma
ampla parcela da sociedade brasileira que quer acabar com tudo isso — não
apenas com o racismo verbal ou simbólico, mas também com o material, esse que
atinge mais forte e com mais violência a maioria preta e parda da nossa
sociedade desde a época da escravatura.
Nenhum comentário:
Postar um comentário