sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

São Paulo faz 460 anos. Nós do Vale ajudamos a construir esta cidade

 São Paulo, lugar mágico e enigmático
esperança de vida e despedida
de realização e ilusão

São Paulo faz 460 anos
Nós, do Vale do Jequitinhonha, temos muito a ver com isso
Deixamos muito sangue e suor na Paulicéia,
 vivemos muitos sonhos,
de trabalho e riqueza,
de alegria e de tristeza
São Paulo foi e continua sendo um lugar mágico pro povo do Vale
De realização ou ilusão.

São Paulo sempre foi um enigma na minha vida. Nunca consegui decifrá-lo.
Mas, sempre soube que não queria morar lá, embora muitos amigos de infância, parentes, conterrâneos, vizinhos e conhecidos fizessem, desde pequeninhos, planos de ir para sumpaulo, o lugar mágico dos moradores do Vale do Jequitinhonha, no nordeste de Minas Gerais.

Cresci em Berilo e Minas Novas,  no nordeste de Minas, ouvindo histórias e estórias de progresso e mudanças de civilização de quem ia pra lá. E muitos acreditavam que estavam mudando de vida, e para melhor. Ainda criança, ficava encabulado com os sotaques carregados de arrastado paulista, puxado nos errrrrrrrrrrrrrrrrrrres, de porrrrrrrrrrrrrrta, carrrrrrrne, por migrantes que voltavam apaulistados.. Além das tentativas de falar como o português oficial ensina. Vocêêê, em vez de ocê.

Empregadas domésticas e trabalhadores braçais iam para São Paulo para trabalhar na construção civil, comércio e indústria, e voltavam totalmente modificados, com um comportamento de gente de cidade grande.

Alguns faziam patrimônio, voltavam para a terra natal e colocavam um comércio de qualquer coisa: mercearia, bar, sorveteria, loja de roupas...Ou compravam uma terrinha, ou investia na dos pais.
E isso mudou a cara da cidade.

Muitos dos migrantes, ex-moradores da zona rural, começaram a povoar as pequenas cidades, casando com moças e rapazes de famílias tradicionais, mudando o panorama sócio-familiar, sócio-político do interior do Vale.
Ficando tudo junto e misturado.

Os defensores das tradições de família mais velhos ficavam chocados com as mudanças e as transformações e mudanças políticas e econômicas.

Hoje, migrantes vão para o corte de cana, colheita do café, laranja e morango, venda de produtos de praia. Outros mais ousados arrendam cantinas de colégios particulares ou se tornam empresários das comunicações, dos varejos e atacados da 25 de março, morando em barracos ou pensões do Pari, nas casas de classe média da Mooca, da Casa Verde, Santana...

Muitos jovens vão trabalhar e estudar nas escolas da periferia universitária, da inciativa privada, com baixo nível de ensino. Poucos entram nas universidades públicas, USP, UNICAMP... Mas, o mais importante é o diploma que dá oportunidades de emprego nas escolas públicas ou em serviços técnicos das Prefeituras.

As rodas de canto e dança denunciam:
“O dinheiro de Sum Paulo
É um dinheiro excomungado
O dinheiro de Sum Paulo
que roubou meu namorado”.

E era um vai-e-vem danado. E ainda é. Muita gente indo e ficando, deixando famílias e amores pra trás. Outros voltando, não aguentando a vida dura de trabalho de 12 horas/dia, com 4 horas de transporte, de ida e volta, nas latas de sardinha do louco trânsito urbano e metrô.

Neste 25 de janeiro, a cidade de São Paulo faz 460 anos.

Destes anos seculares, há mais de meio século, nós, moradores do Vale já tomamos conta de muitos bairros da metrópole, do Brás, da Barra Funda, do Tatuapé, do Jaçanã, da Freguesia do Ó...
Não só da periferia. Também do bairro Santana, da região dos Jardins, Higienópolis...
Do Centro, da Praça da Sé, do Memorial da América Latina, dos grandes forrós nordestinos...
E dos Estádios de futebol.
A torcida do Corinthians só perde para a do Cruzeiro, em cidades do Vale do Jequitinhonha.

Nós, do Vale, temos um pouco de vida deixada nas engrenagens do capital de São Paulo.
Somos também responsáveis “pela feia fumaça que sobe apagando as estrelas e da força da grana que ergue e destrói coisas belas”.

As músicas Sampa, de Caetano Veloso; Saudosa Maloca e Trem das Onze, de Adoniran Barbosa, e Ronda, de Paulo Vanzolim, sempre me tocaram e me formaram, de uma forma ou de outra, um coração paulistano. Como também São, São Paulo, de Tom Zé e Fim de Semana no Parque, dos Racionais'Mcs.

“Alguma coisa acontece no meu coração, só quando cruzo a Ipiranga e a Avenida São João/ É que quando eu cheguei por aqui, eu nada entendi// da dura poesia concreta de tuas esquinas// da deselegância discreta de tuas meninas”.

Vivi alguns meses, em 1976, indo e vindo de BH para São Paulo. Todos os dias. Como bancário do Banco Real, levava malotes dos movimentos das agências de Minas para o Centro de Computação de São Paulo. Conheci a cidade, aos pedaços, meio esquizofrência. Principalmente, a área central, região da  Avenida São João, onde me hospedava. Ou o Pari, Brás...
Ficava assustado com a cidade e a noite que não dormia.

São Paulo continua sendo um enigma. 
Sempre que surge a oportunidade de lá ir morar, trabalhar, me assusto com a possível aridez da vida, da garoa e “feia fumaça” que escurece as coisas, da violência forjada pela disputa do dindim, trabalhando muito, sendo explorado mais ainda, lazer inexistente, vivendo muito pouco.

São, São Paulo, lugar de trabalhar, de pouco ficar, de ir e voltar, grande trecho da vida do povo do Vale.
Meu também, no imaginário.

Algumas músicas que falam e me lembram de São Paulo:

São São Paulo", Tom Zé
Apesar de nascido na Bahia, Tom Zé compôs 18 músicas sobre a capital paulista. A mais famosa é "São São Paulo". A música homenageia a cidade, mas não deixa de ver seus problemas. "Em Brasília é veraneio / No Rio é banho de mar / O país todo de férias / E aqui é só trabalhar / Porém com todo defeito / Te carrego no meu peito", diz a letra.



Fim de Semana no Parque", Racionais MCs
Poucos compositores retrataram tão bem a periferia de São Paulo quanto Mano Brown, líder dos Racionais MCs. Um bom exemplo é "Fim de Semana no Parque": dedicada a "toda comunidade pobre da Zona Sul", acompanha os contrastes entre os finais de semana dos manos e os dos playboys.

"Trem das Onze", Adoniran Barbosa
Obra mais famosa do mais famoso dos compositores de São Paulo, "Trem das Onze" é talvez o grande clássico entre as canções que homenageiam a cidade - sua principal rival é outra música de Adoniran, "Samba do Arnesto". A faixa tornou o Jaçanã, bairro da zona norte, conhecido até por quem nunca passou perto de lá.
  1. Adoniran Barbosa - O trem das onze - YouTube

    www.youtube.com/watch?v=ceBdGz3eTFg

    30/04/2008 - Vídeo enviado por birma99
    Adoniran Barbosa - O trem das onze. birma99·2 videos ....Adoniran Barbosa - Trem das onze (1964 ...
"Sampa", Caetano Veloso
Tom Zé não é o único baiano a celebrar São Paulo. Caetano Veloso pode não ter feito muitas músicas para a cidade, mas quando fez acertou em cheio: por causa dos versos iniciais de "Sampa", o encontro das avenidas Ipiranga e São João ganhou o título de "a esquina mais famosa do Brasil".
  1. Sampa - Caetano Veloso - YouTube

    www.youtube.com/watch?v=d4RhNvjk4YI

    23/08/2010 - Vídeo enviado por BrunoLiziero
    Uma linda homenagem à São Paulo - SP em HD, na voz de Caetano Veloso.



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