segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Projeto de mineração no Vale do Jequitinhonha começa a sair do papel

Publicado decreto de utilidade pública de áreas a serem desapropriadas, em 9 municípios, por causa do projeto de extração de minério de ferro.

Foto: arquivoProjeto de mineração no Vale do Jequitinhonha começa a sair do papel
Povoado de Vale das Cancelas, em Grão Mogol, à margem esquerda do rio Jequitinhonha, no norte de Minas.
Começou a sair do papel o maior projeto de mineração no Norte de Minas e Vale do Jequitinhonha, com investimentos previstos em US$ 3 bilhões.

O empreendimento tem como sócios a Sul Americana de Metais (SAM), empresa do Grupo Votorantim criada em 2006, e a chinesa Honbridge Holding. O diário oficial do Estado publicou decreto do governador Antonio Anastasia declarando de utilidade pública áreas em nove municípios (Grão Mogol, Josenópolis, Padre Carvalho, Salinas e outros),  a serem desapropriadas por causa do projeto: 

Mas não convém comemorar investimentos tão grandes numa região pobre de Minas antes que algumas questões sejam esclarecidas.

Muito já se disse sobre a inconveniência do transporte por mineroduto, em vez de ferrovia, numa região em que a água é escassa. Mas as empresas insistem que, devido ao baixo teor de ferro no minério da região, só compensaria investir se esse fosse o meio de transporte.

Anuncia-se então a construção de um mineroduto de 482 quilômetros entre a usina de beneficiamento, em Grão Mogol, no Vale do Jequitinhonha e um porto em Ilhéus, no Sul da Bahia.

Quando diretores da SAM compareceram, no dia 5 de dezembro de 2012, à audiência pública da Assembleia Legislativa de Minas para defender a construção do mineroduto, eles informaram que, como medida compensatória, seriam construídas duas barragens.

Uma no córrego do Vale, com investimentos previstos de R$ 6 milhões, e outra no rio Vacaria, entre Grão Mogol e Virgem da Lapa, de R$ 46 milhões.

A primeira com o objetivo exclusivo de atender à comunidade do Vale das Cancelas, em Grão Mogol A segunda teria 40% do volume de água destinado à população das cidades do entorno. E que 12 milhões de metros cúbicos de água seriam consumidos anualmente pelo mineroduto, num prazo mínimo de 25 anos.

No noticiário divulgado agora, essas barragens sumiram. 
O motivo: a SAM conseguiu junto à Agência Nacional de Águas (Ana) outorga para captação de 6.200 metros cúbicos de água por hora na represa de Irapé, no município de Berilo, no Médio Jequitinhonha, nordeste de Minas.

Não é a mesma represa construída pela Cemig para abastecer a Usina Hidrelétrica de Irapé, inaugurada em junho de 2006, com capacidade de geração de 360 MW? Imagina-se que a estatal mineira tenha concordado com isso, pois terá o empreendimento da SAM como grande cliente.

Mas, e a população local, que esperava a construção das duas barragens? No site da SAM, a única promessa que persiste, conforme o vídeo institucional, é que com a recuperação ambiental da mina, quando ela se esgotar, daqui a pelo menos 25 anos, será formado na sua cava um grande lago “que poderá ter uso voltado para a população”.


O projeto, compreendendo a mina, o mineroduto e o porto, está em fase de licenciamento ambiental pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Há tempo, portanto, para uma resposta aos questionamentos. 

Fone: Hoje em Dia

Nenhum comentário:

Postar um comentário