Presidenta Dilma faz história: enquadra espião Tio Sam
O fato é um só, goste-se dele ou não: presidente do Brasil foi a primeira líder mundial a criticar dura e publicamente espionagem dos EUA.
Recuo de Barack Obama, nesta sexta 17.01, com promessa de não mais espionar aliados, é mérito, antes de outros, de Dilma Rousseff.
Foi ela quem mandou chamar embaixador ianque às falas, cancelou visita de Estado a Washington e abriu Assembleia Geral da ONU com denúncia humilhante contra invasão cibernética.
Depois do Brasil vieram Ângela Merkel, da Alemanha, também espionada, e outras reações de oposiçã.
Mídia familiar deve reduzir papel da presidente neste embate global, mas registre-se que Dilma acaba de entrar para a história como a mulher que topou e dobrou a arrogância do Tio Sam.
Como diz a 'doutrina' Chico Buarque, Brasil de hoje "nem fala grosso com a Bolívia nem fala fino com os Estados Unidos".
Brasil 247 - 17 DE JANEIRO DE 2014 ÀS 21:20
Qual foi mesmo o presidente brasileiro que topou de frente uma parada indigesta com os EUA e fez a nação mais poderosa do planeta recuar?
Não havia exemplo nenhum para responder essa questão, mas desde esta sexta-feira 17, quando o presidente americano Barack Obama disse diante do mundo que "os EUA não vão mais espionar aliados", agora o Brasil tem uma resposta: Dilma Rousseff.
Goste-se ou não, interprete-se à esquerda ou à direita, o fato é que Dilma foi a primeira chefe de Nação a reagir dura e publicamente à descoberta de que, primeiro, milhões de cidadãos nacionais haviam tido e-mails rastreados pela Agência Nacional de Segurança (NSA) americana e, segundo, parte do governo e ela própria haviam sido bisbilhotados.
As revelações, a partir das informações transmitidas pelo analista americano exilado na Rússia Edward Snowden, começaram a se dar na metade do ano. E de pronto Dilma levou o governo a retrucar à altura.
Com a escalada de revelações, ela cancelou a visita oficial que faria aos EUA, em outubro, onde, em Washington, na Casa Branca, seria recebida com honras de convidada de Estado.
Não adiantou os Estados Unidos tentarem, por todos os canais diplomáticos, demover Dilma da decisão de não viajar – o que iria caracterizar um gesto de profunda decepção do Brasil com o comportamento do Tio Sam e, ao mesmo tempo, uma forte reprimenda. Ela ficou no Brasil e ainda determinou ao chanceler Luiz Alberto Figueiredo, antes de anunciar o cancelamento, que chamasse o embaixador americano em Brasílias às falas.
Em Nova York, durante seu discurso de abertura da Assembleia Geral da ONU, em 24 de outubro, feito imediatamente antes de Obama ocupar o mesmo púlpito, Dilma enumerou as trampolinagens dos arapongas ianques:
- Dados pessoais de cidadãos foram indiscriminadamente objeto de interceptação. Informações empresariais – muitas vezes com alto valor econômico e mesmo estratégico – estiveram na mira da espionagem. Também representações diplomáticas brasileiras, entre elas a Missão Permanente junto às Nações Unidas e a própria Presidência da República do Brasil tiveram suas comunicações interceptadas", relatou a presidente brasileira diante do concerto das Nações.
Ela concluiu, sem conciliar com o poderio americano como, talvez, outros fizessem e, na prática, como já se fez muito ao longo da história do Brasil:
- Imiscuir-se dessa forma na vida dos outros países fere o direito internacional e afronta os princípios que devem reger as relações entre eles, sobretudo, entre nações amigas", ensinou Dilma.
A verdadeira lição de moral da presidente sobre o governo Obama -- repita-se, goste-se ou não, avalie-se à direita ou à esquerda --, deu todo o resultado esperado. Sucedida pela revelação sobre a espionagem ao telefone celular da chanceler alemã Ângela Merkel, a pregação de Dilma pelo recuo efetivo, na prática, da arapongagem americana, ganhou corpo na comunidade internacional.
Relembre-se: a presidente começou sozinha a reação à invasão cibernética americana e, durante a jornada, ganhou o apoio de novos fatos e de praticamente todos os países que contam, à exceção da Inglaterra.
Para completar, num gestão que foi interpretado até mesmo como retaliação econômica, Dilma levou o governo ao ponto de, em meio a esse debate estratégico, comprar aviões militares suecos, os Gripen NG, na maior concorrência militar do ano, na qual os americanos concorriam com seus F-18 A. Sem confiança, sem negócio, ela quis dizer.
O recuo de Obama e do Tio Sam nesta sexta-feira 17 foi resultado de muitas pressões. E a primeira pressão foi feita pela presidente do Brasil.
Abaixo, o discurso de Dilma na abertura da Assembleia Geral da ONU, em 24 de outubro:
COMENTÁRIOS
Bill Clinton, ex-presidente dos EUA
Clinton elogia Dilma e Lula e critica Obama 17.01.2014 às 22:54
Bill Clinton diz que não se deve espionar "um aliado" e rasga elogios aos programas de acesso ao ensino universitário "dos governos Lula e Dilma Rousseff" .
O presidente Barack Obama ganhou mais um adversário de peso em relação à posição dos EUA de realizarem espionagem sobre cidadãos, governos e empresas em diferentes partes do mundo, entre as quais o Brasil. É ninguém menos que o ex-presidente Bill Clinton, que está no Brasil para o primeiro encontro de sua ONG – a Fundação Clinton Global Initiative – na América Latina.
“Não deveríamos levantar informação econômica sobre o pretexto da segurança”, disse Clinton em entrevista ao jornal o Globo. No caso do Brasil, o incômodo maior foi com o acompanhamento das conversas telefônicas da presidente Rousseff. E também da Petrobras”, reconheceu.
“Não deveríamos levantar informação econômica sob o pretexto de segurança. Não com um aliado”. Clinton elogiou a economia brasileira – “achei importante vir ao Brasil pelo progresso que houve aqui” – e, também, a postura da presidente Dilma Rousseff diante das manifestações de massa em junho deste ano. “Tanto as manifestações quanto a maneira como o governo respondeu a elas são, a longo prazo, indícios positivos”, afirmou o ex-presidente.
Ele comparou as reações do presidente da Síria e da presidente brasileira sobre as reivindicações populares. “O presidente Bashar al-Assad enviou o exército e, de repente, tinha uma guerra civil com a qual lidar. A presidente Dilma Rousseff, por sua vez, disse ‘vocês têm razão, vamos tentar descobrir como resolver os problemas’”, sublinhou Clinton.
Em um forte elogio às administrações do PT, Clinton foi enfático na defesa dos programas de bolsas de estudo e financiamentos a alunos carentes para cursarem o ensino superior. “Os governos Lula e Rousseff tentam fazer algo que nós jamais tentamos: dar às universidades particulares incentivos fiscais proporcionais ao número de alunos de baixa-renda. Isso funciona porque, por um lado, aumenta o número de matrículas e, por outro, não incentiva o aumento das mensalidades.”, avaliou o democrata.
COMENTÁRIOS