sábado, 7 de dezembro de 2013

Lula e Lacerda os Garrincha do futebol

José Dirceu é o Dunga entrando em campo

As analogias entre política e futebol não são novas no Brasil, mas Lula levou-as ao patamar de filosofia política. Tem lá seus encantos.
Se pegar carona neste atalho, poderia tentar montar uma comparação entre o político habilidoso e o linear. Qual jogador teria a inteligência capaz de se antecipar ou rapidamente se ajustar ao imprevisível? Penso que na história do Brasil o que melhor se encaixa é Garrincha. Aquele que, sabiamente, lembrou Feola, em 1958, que deveria combinar com os russos para suas teorias funcionarem a contento. Garrincha sabia que um jogo não se faz apenas na prancheta. É preciso compreender a situação, as condições de momento e a reação do adversário. Sem jogar de olho no adversário, o mundo terá que se encaixar na teoria. E isto nunca deu certo.
Do outro lado, quem seria duro como pedra na história do futebol tupiniquim? Dunga. Não tenho dúvidas. Este personagem personifica o não brasileiro, a rigidez germânica.
A melhor comparação fez Ney Matogrosso, com "A Cara do Brasil":

O Brasil é o homem que tem sede
ou quem vive da seca do sertão?
Ou será que o Brasil dos dois é o mesmo
o que vai é o que vem na contra-mão?
(...)
Brasil Mauro Silva, Dunga e Zinho
que é o Brasil zero a zero e campeão
ou o Brasil que parou pelo caminho:
Zico, Sócrates, Júnior e Falcão A gente é torto igual Garrincha e Aleijadinho... O Brasil é uma foto do Betinho

Na política, os melhores foram os que se aproximaram de Garrincha: Carlos Lacerda e Jânio, pela direita; Lula, pela esquerda. Humor, perspicácia, leitura rápida da situação, improvisação. A finta no esporte é esta capacidade de ler a partir de sinais minimalistas (um abrir de olhos mais acentuado, uma sobrancelha mais erguida que a outra) e contrariar o óbvio.
Pois bem, Zé Dirceu teria que ganhar o Prêmio Dunga da política.
A capacidade de fazer tudo errado e não compreender o cenário é de espantar. Um caso de autismo político que deveria ser estudado nos cursos de ciência política.
Como pode uma liderança nacional, sendo julgado culpado por liderar o desvio de recursos públicos para pagamento de propina a políticos que recebiam para votar com o governo, resolve aceitar um emprego de uma empresa cujo proprietário é um laranja?
Zé Dirceu criou uma saia justa em todo campo petista, jogou por terra toda argumentação que os acusados nunca estiveram envolvidos em maracutaias e tráfico de influência.
Fico imaginando que esta dificuldade cognitiva venha do atual momento da política nacional que sugere que um Aécio Neves tenha condições de se propor dirigente maior do nosso país. Há algo mais anódino que um Aécio? Alguém, em são consciência, o indicaria para gerir seus negócios?
Mas vivemos esta fase gloriosa dos Dungas e seleções brutamontes de Rubens Minelli na política nacional. Dilma, Fernando Haddad, ACM Neto, Eduardo Paes, Sérgio Cabral, Márcio Lacerda, a lista é de encher os olhos de lágrimas. Não sobra um. São todos duros de cintura e quase exigem que o mundo se organize para atender seus planejamentos lastreados pelo Power Point do momento.
O autismo político é uma contradição em termos.
Mas nada é tão ruim que perdure para sempre.
Aliás, poucos se lembram dos jogos do Dunga. Mas dificilmente alguém esquece a Seleção de 1982. Frase feita, mas que traduz a filosofia de Garrincha.

Postado por Rudá Ricci, cientista político em seu Blog De esquerda em esquerda.

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