Dos que estão matriculados, 84,8% concluem o ensino médio sem dominar matemática
Pedro recebeu de sua mãe uma nota de R$ 10 para pegar o ônibus e, com o troco, comprar a merenda. Quanto vai sobrar para ele depois de pagar a passagem de R$ 2,65?
Pedro recebeu de sua mãe uma nota de R$ 10 para pegar o ônibus e, com o troco, comprar a merenda. Quanto vai sobrar para ele depois de pagar a passagem de R$ 2,65?
A resposta deveria estar na ponta da língua do menino de 12 anos, aluno do 7º ano do ensino fundamental de uma escola pública de Belo Horizonte, mas o que se vê, diante da pergunta, é uma cara de espanto seguida de silêncio.
Pedro – nome fictício de um personagem real – simplesmente não conhece bem as quatro operações básicas da matemática: somar, subtrair, multiplicar e dividir. Nas salas de aula de todo o Brasil, ele não é exceção. Mais da metade dos alunos que concluem o 3º ano do nível fundamental não atingem o conhecimento esperado em matemática.
Em Minas, o cenário mais preocupante está nas séries finais, em que 76,2% dos jovens do 9º ano do fundamental e 84,8% dos que estão no 3º ano do ensino médio estão abaixo do nível adequado em matemática.
O domínio dos números e dos cálculos foi apontado como o grande desafio nas escolas pelo Movimento Todos pela Educação. Estudo divulgado ontem pela organização não governamental faz um diagnóstico da defasagem no ensino nos estados e municípios do país e traz números sobre o acesso de crianças e adolescentes às salas de aula.
Segundo a pesquisa, o Brasil tem 3,8 milhões de jovens entre 4 e 17 anos fora da escola.
Em Minas, são 363,9 mil sem matricula garantida.
Apesar dos avanços da última década, o estado tem média de 91,8% de atendimento escolar nessa faixa etária, não atingindo a meta prevista para 2010, de 93,4% da população entre 4 e 17 anos na escola.
O levantamento se baseia no cruzamento entre dados do Censo Demográfico de 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e testes aplicados pelo Ministério da Educação (MEC), como a Avaliação Brasileira do Final do Ciclo de Alfabetização (Prova ABC). O Movimento Todos pela Educação acompanha indicadores com base em metas a serem cumpridas até 2022, data estabelecida pela ONG tendo como marco as comemorações do bicentenário da Independência do Brasil.
Em Minas, o principal obstáculo para a inclusão nas salas de aula está na adolescência. Mais de 170 mil jovens de 15 a 17 anos estão fora da escola, o que equivale a 16,5% da população nessa faixa etária. A educação infantil responde pelo segundo maior déficit, com 121.544 crianças de 4 e 5 anos sem vaga garantida, o que equivale a 22,3% da população nessa faixa etária.
QUALIDADE
Mas a falta de vagas está longe de ser o maior problema da educação. Enquanto o país atinge a marca de 91,5% de atendimento escolar da população entre 4 e 17 anos e caminha para a universalização do ensino, a qualidade ainda é um obstáculo real nas salas de aula.
Mas a falta de vagas está longe de ser o maior problema da educação. Enquanto o país atinge a marca de 91,5% de atendimento escolar da população entre 4 e 17 anos e caminha para a universalização do ensino, a qualidade ainda é um obstáculo real nas salas de aula.
Em Minas, metade dos alunos do 5º ano do ensino fundamental está abaixo do nível adequado de aprendizagem em português. Em matemática, o índice é de 48,5%. O déficit atinge patamar mais ainda preocupante no último ano do ensino fundamental, em que 64,8% dos alunos sabem menos que o esperado em português e 76,2% estão aquém do desempenho adequado em matemática.
Em Belo Horizonte, apenas 16,5% dos estudantes do 9º ano do ensino fundamental atingiram nota maior que 300 pontos em matemática (média considerada adequada) na Prova Brasil aplicada pelo MEC em 2009.
Os dados, referentes ao somatório das redes municipal, estadual e particular da cidade, acendem o sinal de alerta em escolas como a Municipal Professor Pedro Guerra, no Bairro Mantiqueira, Região de Venda Nova. Com 1,2 mil alunos de nível médio, a instituição aposta em projetos de reforço escolar e aulas de xadrez para melhorar os índices de aprendizado.
“Muitos estudantes não conhecem as operações básicas da matemática e têm muita dificuldade em desenvolver o raciocínio lógico. Com essa defasagem, eles têm problemas para acompanhar todas as matérias. Por isso, usamos um programa de intervenção pedagógica para ajudá-los a se recuperar”, explica a vice-diretora Maria Elizabete Luzzi.
Frequentador das aulas de reforço escolar em matemática, o estudante Ruan Adriano Botelho, de 14 anos, do 9º ano do ensino fundamental, conta como se livrou do trauma de uma reprovação no 7º ano.
“Na intervenção são menos alunos na sala e o professor senta do nosso lado para explicar tudo com mais calma. Consigo tirar todas as dúvidas e no ano passado não perdi nenhuma média.”
Nas aulas de xadrez, jovens como Gabriela Fonseca e Ivan Rodrigues, ambos de 13 anos e alunos do 6º ano do fundamental, treinam o raciocínio lógico e trilham caminho em busca de melhores notas em matemática. “Nas partidas, exercitamos muito a concentração e isso se reflete na sala de aula”, conta Ivan, que já conquistou medalha de prata numa competição de xadrez da rede municipal de ensino.
Mesmo mal, Minas está entre os melhores
Apesar do mau desempenho dos estudantes mineiros em português e matemática, o estado ostenta um dos melhores indicadores de ensino no país, segundo levantamento do Movimento Todos pela Educação.
Apesar do mau desempenho dos estudantes mineiros em português e matemática, o estado ostenta um dos melhores indicadores de ensino no país, segundo levantamento do Movimento Todos pela Educação.
Entre as unidades da Federação, Minas tem o maior percentual de municípios que atingiram as metas do 5º ano do ensino fundamental para aprendizado nas duas disciplinas avaliadas.
No 9º ano, o estado fica em quarto lugar no ranking nacional, sendo que 58% das cidades atingiram a meta em matemática e 90,4%, em português. Os números dão a medida do desafio a ser enfrentado pelo ensino público no país.
A Secretaria de Estado de Educação preferiu não comentar dados específicos da pesquisa, divulgada na tarde de ontem. Mas, numa análise geral, afirma que o levantamento falha por não fazer a distinção entre as redes estadual, municipal e particular.
“Respeito muito o trabalho da ONG e acho que os indicadores são importantes para que a sociedade acompanhe a realidade da educação. Mas não sabemos quais elementos foram usados por eles para construir as metas e as projeções de crescimento. Além disso, na rede estadual, as avaliações não são apenas para dizer se o ensino está bom ou ruim, e sim para fazer diagnósticos e determinar os rumos da intervenção pedagógica, a fim de que a educação básica melhore”, afirma a secretária adjunta de Estado de Educação, Maria Céres Pimenta.
Procurada pelo Estado de Minas, a Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte não se pronunciou sobre o assunto.
MINAS AVAN$$A - Lingua de Trapo
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