Perdemos a oposição no Brasil
Não é possível mais esconder: perdemos qualquer estrutura partidária oposicionista no Brasil. Não que todos sejam situacionistas ou apoiem o lulismo. Mas os partidos não conseguem catalisar o que há de contrário ao governismo federal.
São vários motivos. Um deles é a forte concentração orçamentária na União, que obriga grande parte dos entes federativos a perder sua identidade e força política. Ser da coalizão governista aumenta a chance de entrar na fila por um bom convênio.Não é possível mais esconder: perdemos qualquer estrutura partidária oposicionista no Brasil. Não que todos sejam situacionistas ou apoiem o lulismo. Mas os partidos não conseguem catalisar o que há de contrário ao governismo federal.
Há, nesta mesma direção, o grande atrativo dos recursos provindos do BNDES, que aumenta a margem de risco das empresas que se aventuram a apoiar as intenções oposicionistas.
Também não pode ser negado que o sistema partidário brasileiro é frágil e pouco representativo. E aí já podemos avançar sobre os problemas específicos dos partidos de oposição. Sem partidos inseridos no cotidiano nacional, há pouco protagonismo social. Explico: os partidos parecem fechados nos seus velhos esquemas de contrapeso, de chantagens, pressões, trancamento de pautas parlamentares e composições. Fecham-se em si mesmos, se alimentando deste sistema que se auto-promove. Assim, acabam por gerar um pêndulo que se bifurca entre as eleições e os jogos palacianos.
Os jogos palacianos têm nos parlamentares seus protagonistas, quase sempre avalistas de ministros ou que chantageiam diariamente os governos. O índice de produtividade dos parlamentares brasileiros (tal como demonstra análises da Transparência Brasil) é baixíssimo, ou seja, não ultrapassam os factoides e jogos de cena que preparam terreno para as eleições (como nomes de ruas e definição de dias comemorativos). Os laços de lealdade abundam e não mantém qualquer relação com o mundo real dos eleitores.
Em época de eleição, os marketeiros entram em cena. E é neste momento que a falta de ritmo de jogo fica explícito. Muitos não conseguem entabular um sorriso convincente. As falas ficam entre o grosseiro e banal e o barroco. As pautas são mais que óbvias. Porque ser medíocre é o menos arriscado.
Obviamente que os candidatos menos experientes estão mais próximos dos eleitores (um paradoxo aparente) que os já eleitos e, portanto, é daí que nascem as inovações, como os tiriricas de plantão. Porque a experiência parlamentar pasteuriza, distancia da rua.
E é exatamente este veneno que matou a oposição brasileira. Ela é absolutamente parlamentar. Não possui lideranças reais das ruas. Não possui vínculos com o cotidiano real da vida social. E procura desesperadamente manter intimidades com a grande imprensa de maneira a assegurar seus quinze minutos de fama.
O problema da oposição é a clausura parlamentar.
Texto de Rudá Ricci, cientista político
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