verídica ou imaginária?
Cidade se armou para
se defender de Exército de Israel Pinheiro, o governador, que era adversário político do prefeito de Jordânia.
Era 1967, do outro lado do mundo ocorria a Guerra dos Seis Dias, entre Israel x Egito.
Causo gerou o filme "O primeiro tiro" e o cordel "Israel x Jordânia", de Tadeu Martins.
Era 1967, do outro lado do mundo ocorria a Guerra dos Seis Dias, entre Israel x Egito.
Causo gerou o filme "O primeiro tiro" e o cordel "Israel x Jordânia", de Tadeu Martins.
Poucos mineiros ficaram sabendo, mas a cidade de Jordânia,
no Vale do Jequitinhonha, nordeste de Minas, bem na divisa com o Sul da Bahia,
já foi abalada por uma guerra.
É o que conta o filme “A hora do primeiro tiro”,
do cineasta mineiro Gustavo Jardim, de 36 anos, que marcou presença na primeira
exibição do projeto Tela Viva, em 2012, em Cataguases, Zona da Mata de Minas Gerais.
Mas, para muitos, tudo não passa de mais um causo dos grotões de Minas. Era junho de 1967 e as rádios divulgaram que Israel havia declarado guerra e anunciava a invasão da Jordânia, com dezenas de tanques e milhares de soldados.
Mas, para muitos, tudo não passa de mais um causo dos grotões de Minas. Era junho de 1967 e as rádios divulgaram que Israel havia declarado guerra e anunciava a invasão da Jordânia, com dezenas de tanques e milhares de soldados.
Acreditando que se tratava do então governador de Minas, Israel Pinheiro, que
tinha o prefeito de Jordânia como inimigo político, a cidade se mobilizou para
se defender da tropa e dos tanques de guerra, jamais imaginando que a
verdadeira guerra estava do outro lado do mundo, no Oriente Médio.
“É um
documentário ligado à ficção e verdade", conta o cineasta, que escutou a
história de um morador de Jordânia e resolveu levá-la para a tela. “Na década
de 1960, você tinha aquela coisa de polarização do prefeito com a ditadura
militar. Ou você estava junto, ou era inimigo. E o prefeito de Jordânia era
declaradamente contra o então governador de Minas Israel Pinheiro. Jordânia era
um lugar problemático, com a violência do cangaço”, disse Gustavo.
Enquanto
isso, do outro lado do mundo, em 1967, no Oriente Médio, começava a Guerra dos
Seis Dias, entre Israel e Egito.
Notícia de invasão pelo rádio.
Em Minas, segundo Gustavo, o acesso às notícias
internacionais era basicamente pelo rádio, principalmente o "Repórter Esso", noticiário informativo, que
anunciou que Israel iria invadir a Jordânia com tanques de guerra e 2.500 soldados.
Um jordanense que morava em Belo Horizonte escutou a notícia e entrou
em pânico, acreditando que a sua cidade seria varrida do mapa. “Ele voltou para
Jordânia e armou toda uma defensiva, com todo mundo de garrucha, cavando
trincheiras, esperando a chegada do governador com sua tropa. Um pacifista da
cidade, segundo contam, tentou convencer o povo de que não haveria guerra e
teria sido morto”, disse Gustavo. Na história contada pelos próprios moradores
de Jordânia, dona Juliana, personagem que tinha 98 anos na época das filmagens,
em 2004, e que morreu dois anos depois, sem ver o filme terminado, relata com
detalhes uma guerra imaginária em sua cidade. “Quando veio o primeiro avião,
uma mulher estava fazendo biscoito no forno. Disse que o mundo vinha acabando.
Ela tocou dentro do forno e morreu torrada (sic)”, relatou a idosa.
VIOLÊNCIA LOCAL
Para alguns, a verdadeira guerra na cidade era promovida
pelo “cangaço desgraçado” e também pelas pessoas que matavam outras, sem
piedade, por um pedacinho de terra. “Matavam com pau, carabina. Era um açougue
de matar gente", afirmou dona Juliana. Na época, segundo os moradores,
bandidos do Sul e do Norte da Bahia se escondiam em Jordânia, que fica as
margens do rio Jequitinhonha que divide os dois estados.
Para o poeta e compositor do Vale do Jequitinhonha, Geovane
Antunes Figueiredo, o Nenguinha, que também aparece nas filmagens e dá seu
depoimento ao som da música Mentir, de Noel Rosa, “aquele que só acredita no
que vê e no que pegar, para as coisas mentirosas a luz dos olhos é cega. E é um
burro cargueiro que grande peso carrega”.
O documentário, lançado na Mostra de Cinema de Tiradentes
de 2008, já recebeu três prêmios. Ele é todo legendado, pois o sotaque
das pessoas é bastante carregado e cheio de expressões típicas da região.
Veja aqui o filme:
Cordel de Tadeu Martins
Este causo gerou um cordel do Tadeu Martins, professor, poeta, agente cultural,
contador de causos e militante político.
Ele é natural de Itaobim, no Médio Jequitinhonha, nordeste de Minas, um dos fundadores do jornal
GERAIS e do Festivale - Festival de Cultural Popular do Vale do Jequitinhonha,
evento que se realiza há 40 anos, na região.
ISRAEL x JORDÂNIA
Companheiros me escutem
prestem bastante atenção
nessa estória acontecida
lá na minha região.
Quando se passava um ano
da “gloriosa” revolução
Ainda tinha validade
o título de eleitor
pois o povo ainda podia
votar para governador
escolher quem bem
quisesse
para ser seu defensor.
Era uma disputa braba
como não podia deixar de
ser
pois só tinha dois
partidos
para o povo escolher
de um lado a UDN.
do outro lado o PSD.
Cá nas Minas Gerais
esse Estado Brasileiro
ao Palácio da Liberdade
um queria chegar primeiro
Roberto Resende pela
UDN.
pelo PSD Israel
Pinheiro
Na cidade de Jordânia
onde esse fato se deu
o prefeito era udenista
Roberto Resende venceu
mas no resto do Estado
pra Israel Pinheiro ele
perdeu.
Passados quinze dias
da posse do eleito
o povo de Jordânia
ainda estava insatisfeito
pela sofrida derrota
do candidato do prefeito.
No outro lado do mundo
a coisa empretava
dessa vez no Oriente
Médio
uma guerra estourava
fato que o prefeito de
Jordânia
nem sequer
imaginava.
da Rádio Guarani
o repórter anunciou
essa manchete aqui:
EXÉRCITO DE ISRAEL FOI
PARA JORDÂNIA
PRONTO PRA INVADIR.
O prefeito quase desmaia
quando ouviu aquela
notícia
chamou o seu secretário
e ordenou com malícia
“Avisa pro Delegado
pôr de prontidão a
polícia”.
Mandou a família pra roça
foi pro correio
telegrafar
pro deputado majoritário
mandar homens lhe ajudar
pois Dr Israel Pinheiro
vinha pronto pra brigar.
E explicou ao
telegrafista
que ouvia tudo a sorrir
“Dr Israel Pinheiro não
gostou
de ter perdido a eleição
aqui
e agora que tomou posse
mandou o exército
invadir”.
O vigário que estava presente
lhe pôs a par da situação
que se tratava de uma
batalha
travada em outra nação
que não tinha cabimento
essa sua preocupação.
Olhando pro vigário
disse o prefeito aliviado
“ Se Dr Israel viesse
mesmo
ele ia voltar
desmoralizado
nós arrasava o exército
dele
eu , dez jagunços ,
um cabo
e três soldados .”
Fontes: Pedro Ferreira – Estado de Minas , publicado em 13 de julho de 2.009; e Jequitinhonha - Antologia Poética, 1982.
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