quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Jequitinhonha: Cidades-pólos concentram benefícios

Cidades-pólo concentram poder e benefícios
Araçuaí e Diamantina são citados como exemplos negativos
Um dos problemas do desenvolvimento sustentável regional é a concentração de poder econômico, social, técnico-institucional e intelectual que as chamadas cidades-pólo querem ter.
No Vale do Jequitinhonha, estas cidades são Diamantina, Minas Novas e Capelinha, no Alto Jequitinhonha; Araçuaí, no Médio Jequitinhonha; Almenara e Pedra Azul, no Baixo Jequitinhonha; Salinas, Taiobeiras e Grão Mogol, no norte de Minas.
O problema surge na distribuição de benefícios que o Estado propõe que seja regional. Estas cidades recebem a estrutura, nomeiam os chefes e funcionários e querem usufruir de tudo o que tem e o que não tem direito. Tudo elas querem que seja no seu território. As pequenas cidades que gravitam em torno delas acabam funcionando em torno dos seus interesses, os da cidade-pólo.
Aí, o individualismo exacerbado, o olhar só pro seu umbigo passa a ser um comportamento das lideranças destas cidades e até da própria população. Araçuaí e Diamantina são cidades citadas pelos prefeitos e lideranças políticas regionais que ficaram antipatizadas com tanta mesquinhez e voracidade no trato de coisas públicas e projetos regionais. Esta constatação se deu com consultas informais, na grande reunião de prefeitos acontecidas em Itaobim, na fundação da UmVale, dia 12 de novembro.

Araçuaí
Segundo os prefeitos do Médio Jequitinhonha, Araçuaí não consegue coordenar uma política regional de saúde, não encaminha soluções para o Hospital que poderia ser regional. Quando recebe recursos para o fortalecimento dos serviços para vários municípios dá golpes baixos, querendo só pra si. Foi assim coma implantação dos serviços de Saúde Mental, com a Policlínica, o Pró-Hosp. Há alguns anos atrás, o CISMEJE – Consórcio Intermunicipal de Saúde do Médio Jequitinhonha prestava quase 50% dos serviços para Araçuaí, quando o município contribuía com apenas 22% dos recursos. As dívidas dos municípios com a Ameje, sempre Araçuaí foi a mais inadimplente.
As conseqüências são a reorientação de AIHS para Itaobim, Salinas e Teófilo Otoni; a Hemodiálise e a Central de Órtese-prótese para Itaobim; e o crescimento do CISMEJE que se estabelece no vácuo para tapar as falhas e deficiências de um sistema regional de saúde.

Itaobim
Itaobim vem se destacando como novo pólo regional, com a influência sobre os municípios vizinhos e novas estruturas de serviços públicos e privados. Lá está o principal entronamento rodoviário do Vale: o cruzamento da BR 116, a Rio-Bahia, com a BR 367 que corta todo o Vale. A localização da cidade favorece a atração de estruturas de serviços regionais que atendem o Médio e Baixo Jequitinhonha. A sede da UmVale será lá.
Porém, começa a praticar vícios de outros pólos. Recentemente, inverteu uma decisão do Plenário do Território da Cidadania, se elegendo como cidade a receber um Entreposto de Derivados da Mandioca. Os maiores produtores de mandioca da região estão concentrados na microregião de Araçuaí-Novo Cruzeiro-Berilo-Francisco Badaró-Minas Novas, onde há mais de 30 mil agricultores familiares. Esta postura caminha na contra-mão da integração regional.

Diamantina
O vício de Diamantina é ainda pior. Desde o século XVIII, a cidade abocanha investimentos que deveriam vir para o Vale. Autodenomina-se portal do Vale mas não deixa nada chegar até o nosso quintal. A cidade se considera parte da região Central de Minas e assim age. Em muitas reuniões, lá na cidade, já ouvimos expressões tipo “vocês, lá do Vale”, excluindo-se da região. Quando há projetos para o Vale ou justificar busca benefícios para si somos o primo pobre que serve como um pedidor de esmolas que ficam todos na cidade.
Exemplos recentes: os recursos do Prodetur ficaram todos lá e algumas migalhas para o Serro e São Gonçalo do Rio Preto. A UFVJM aprovou há poucos dias extensões universitárias em Curvelo e Governador Valadares, esquecendo-se, de forma traiçoeira, que foi implantada para contribuir no impulso do desenvolvimento regional do Vale do Jequitinhonha e Mucuri.
Agora, Diamantina trava uma luta surda para implantar o curso de Medicina na cidade. Teófilo Otoni, com a liderança política da Prefeita Maria José já tem o Ministério da Educação como aliado.
Para o Vale, a UFVJM só disponibiliza cursos à distância, que devem ser bons, mas são temporários. Estruturas permanentes em cidades como Minas Novas, Araçuaí, Itaobim, Almenara, de jeito nenhum.
Até o Presidente JK, cantado e decantado como do Vale, não teve um projeto arrojado para a nossa região. Tudo o que ele fez foi para Diamantina.
Enfim, cidades que crescem, se organizam e se propõem a ser referência regional, como Itaobim, Turmalina, Itamarandiba e Jequitinhonha, devem olhar os péssimos exemplos
e equvocados caminhos de Diamantina e não seguí-los.
Cabe às lideranças destas cidades repensarem o seu modo de agir e se relacionar com os outros municípios para corrigir rumos e até mesmo se beneficiar com eles.
Em tempo

Aqui não contém nenhum tipo de rejeição a estas duas cidades. Pelo contrário, adoro as duas. Morei, por dois anos, em Araçuaí, fiz e mantive diversos amigos lá. Acredito que as lideranças e o povo devem ter mais respeito e serem solidários com as pessoas da sua vizinhança e com os desejos de desenvolvimento local.

Um comentário:

Pedro Afonso disse...

Nós, itamarandibanos, somos solidários de seu pensamento Bano. A hierarquia da rede urbana do Jequitinhonha,ainda em fase de desenvolvimento, demonstra muito bem como as Cidades de Diamantina(aquela que tudo quer e tudo come), Araçuaí e Almenara gozam de privilégios no Jequitinhonha. De forma irrefutável, isto se deve, em boa medida, da própria organização do Estado brasileiro, que por lei, define estratégias para a regionalização e conseguinte alocação de recursos a partir destes centros urbanos. Contudo, quando deslocamos nossa atenção para as cidades do Jequitinhonha, todas compartilham, todavia, de indices de desenvolvemento humano e PIB semelhantes, quando comparados os municípios com mais 25 mil habitantes, como é o caso de Pedra Azul, Itamarandiba, Almenara ou Araçuaí, enfim compartilham dos mesmos aspectos sintomáticos do Jequitinhonha... entretanto, nossa preocupação é que ao centralizar a prestação de serviços públicos em 3 OU 5 municípios do Jequitinhonha inclui uma parcela da população, ao tempo que também se exclue outrasm], tornando-as obsoletas e implicando em maior onerosidade para essas populações, que são colocadas às margens das prestações civilizatórias. Ainda que, para o estado brasileiro isto pareça interessante já que tem em mente a economicidade e a regionalização, como pressupostos essenciais para a gestão de mico ou macroregiões, se olvidando de outros princípios, como tratar a todos com igual respeito e consideração.
Abraço

Pedro Afonso
Itamarandiba-MG

Postar um comentário