sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A fuga para o suicídio

A fuga para o suicídio
por Filipe Pinheiro

Tema difícil de se tratar em tão poucas linhas.
Acrescento meu depoimento:
EU passei por uma depressão muito forte, dessas de não abrir a porta de casa por dias, eventualmente sair, pegar comida e voltar à reclusão por outros dias. Colocar lençóis nas janelas pra não ver o Sol e poder dormir, dormir. Sentindo-me inútil. Achando que tudo que já havia feito tinha dado errado e racionalizando que não adiantava fazer mais nada, porque ia dar errado de novo.
Um belo dia, meu pai (com quem tenho um relacionamento distante) simplesmente disse que ia me levar a um psiquiatra, eu não recusei.
Já estou no segundo psiquiatra, agora acho que acertamos nos remédios, isso não quer dizer que esteja vibrando de alegria, mas que voltei a FUNCIONAR como pessoa, trabalho, estudo e reencontrei meus amigos, e alguns novos.
Já se passaram 6 anos de tratamento. Só depois de um ano veio o diagnóstico como transtorno depressivo bipolar. Gosto de pensar que um dia não precisarei mais dos remédios, mas reconheço que foi a intervenção do psiquiatra que me trouxe de volta ao jogo da vida e por isso continuo no esquema dele.
Esta introdução é para fundamentar o que quero dizer a seguir:
Ao longo dos últimos dez anos o pensamento do suicídio foi recorrente. Na verdade consegui alcançá-lo em áreas abstratas: cometi suicídio social ( me isolando, matando minha personalidade junto às pessoas); cometi suicídio profissional (abandonando trabalhos pelo meio, coisas bonitas até…); acadêmico (quase fui jubilado, hoje estou as vésperas de terminar meu curso de engenharia)
Pra mim o suicídio não é uma opção e nunca foi. É sim a falta de opção, a fuga extrema! A maioria vê um filme romântico e esquecem por duas horas dos seus problemas…e depois retomam suas vidas aliviados. Aquele que está imerso na angústia não consegue esse efeito. Sim porque depressão é angústia à enésima potência.
Parece que nada apaga essa dor no peito, e de repente meio que sorrateiramente vem a pergunta, E SE… aí não vai mais doer…
Entendo hoje que a questão é que aquele que está imerso nesta angústia perde o contato com as pessoas e por isso perde o parâmetro de que todos convivem com isso e que há muitas maneiras de lidar com isso, e ainda que errar faz parte do processo. Devemos nos permitir cometer erros.
Neste sentido a família de um suicida talvez tenha perdido uma oportunidade de mostrar-lhe alternativas. Não que seja culpada das escolhas de outra pessoa, em absoluto! Aqui talvez a dor seja de querermos tanto sermos compreendidos e nem tanto querermos compreender. E aí talvez a família tenha um pouco de suicida dentro de si. Ninguém gosta de se perceber egoísta
Desculpem se meu comentário se estendeu muito mas não podia deixar passar esta oportunidade e tenho a pretensão de colaborar com o tema, sobretudo por saber que há muitos deprimidos que não recebem o mesmo apoio técnico que eu. E talvez oferecer uma leitura útil às famílias de modo geral.

Quem quiser participar de debate sobre o texto-depoimetno acesse o Blog do Luis Nassif
http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2009/11/08/a-fuga-para-o-suicidio/

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