quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Expedição Vale do Jequitinhonha: Araçuaí de riqueza, crianças e tradições

 

QUARTO E QUINTO DIAS 

Andanças por Araçuaí, no Médio Jequitinhonha. 

Após uma breve pausa nos ‘trabalhos’ da Expedição em virtude do feriado de 1o de janeiro, estamos de volta ao Blog e à estrada para exaltar as maravilhas de Araçuaí.


K-iau é uma cidade mágica. Possivelmente o melhor local para servir de exemplo na contraposição ao estigma de “Vale da miséria”… Apesar do sol escaldante, da seca recorrente e dos problemas sociais, as pessoas criam suas resistências culturais, sociais e profissionais e seguem adiante, com determinação, trabalho e arte. Sim, muita arte!
São tantas opções que nem sabíamos por onde começar. Tem as artesãs Zefa, Lira e muitas outras, o grupo de teatro Ícaros do Vale, os corais Araras Grandes e Trovadores do Vale, o Centro Cultural Luz da Lua, o Centro de Referência Afro-Indígena (Quingem), os grupos de folias de reis, os multiartistas Meninos de Araçuaí e muitas outras manifestações e expressões autênticas da cultura regional e popular.
São crianças, jovens, adultos e idosos que se expressam através da música, dança, pintura, cinema e artesanato, mantendo vivas as tradições dos seus antepassados, valorizando a produção cultural local e se formando de maneira mais humana, solidária, coletiva e sensível.
Ainda na noite do dia 1o conversamos com Luciano Silveira, ator, cantor e produtor cultural, que nos deu um panorama geral da riquíssima cultura da cidade, contando da infinidade de apresentações realizadas constantemente em Araçuaí e em várias outras localidades, envolvendo centenas de pessoas que acabam por encontrar na arte uma forma saudável de aprendizado, sociabilidade e oportunidade.
Crianças artistas e artistas crianças
E essa profusão de produção artística foi observada por nós na prática com outro grupo na manhã do dia 2. Os famosos Meninos de Araçuaí além de cantar e dançar também fazem e exibem cinema, e são, na verdade, parte de um projeto mais amplo. E quem nos mostrou um pouco de tudo foi Yuri Miranda, um alegre e inteligente educador que foi um dos primeiros jovens a participar do pequeno projeto de Tião Rocha que deu origem a tudo isso, e depois de crescido e de ter estudado música fora, optou por voltar para Araçuaí para ajudar na condução dessa revolucionária iniciativa.
Os Meninos de Araçuaí fazem parte do Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento (CPCD), instituição idealizada pelo educador Tião Rocha – e que tem atuação em várias outras cidades – para contribuir com um aprendizado infantil mais criativo, humano e feliz. Além dos Meninos – que são um grupo de teatro e de coral e ainda uma produtora e exibidora de cinema, cuja sede se localiza propositalmente no degradado centro histórico da cidade -, o CPCD tem ainda em Araçuaí, vinculados ao ARASEMPRE, projetos como o Ser Criança – que na verdade é a base da proposta e envolve dezenas e dezenas de crianças que exercitam o “ser criança” de maneira diferente do convencional -, as Fabriquetas de produção de tecnologias populares - de softwares, de reciclagem artística de ferro, de pintura com tinta de terra, de marcenaria, de produção audiovisual e de turismo comunitário – e os trabalhos ambientais, com, por exemplo, permacultura e proteção de nascentes.
Ficamos encantados não só com a quantidade de jovens envolvidos e com a qualidade dos trabalhos, mas com a lógica aberta, participativa e saudável em que se desenvolvem os projetos, e com a visão amplificada, de pensar, por exemplo, uma cidade sustentável, que plante árvores e que eduque a cidade para o bem coletivo.
Ficamos positivamente incomodados com o que conseguiram fazer e onde conseguiram chegar partindo de muito pouco. Por que não há iniciativas semelhantes nas outras cidades do Vale e do Norte de Minas, que aliás muitas vezes possuem muito mais estrutura e oportunidade do que Araçuaí?

Lá na Venda do Seu Lidirico
Já tínhamos tomado uma cerveja na Venda do Seu Lidirico quando chegamos, mas como o bar estava muito cheio, tivemos que voltar em um dia de menos movimento para escutar as histórias do simpático e famoso casal Seu Lidirico e Dona Iaiá. A famosidade é sobretudo em virtude da música composta por Miltinho Edilberto, que canta os diversificados produtos que se encontrava naquela vendinha. Clique aqui para escutar.
Mas a Venda impressiona não só pela quantidade de produtos – que aliás não é mais tanto assim, conforme inclusive admitido pelo dono. Chama a atenção a antiguidade do local - aberto desde 1948, ou seja, há quase 70 anos, que aliás é quase o mesmo tempo que Lidirico e Iaiá estão casados -, a força dos dois para continuar diariamente abrindo o comércio, repondo as mercadorias e atendendo os clientes e o charme e aconchego do local.
Seu Lidirico ficou super entusiasmado com nossa Expedição e contou várias histórias sobre cidades da região que ele conhecia, sem é claro deixar de falar da vida dos 15 filhos, dezenas de netos e bisnetos e um encomendado tataraneto.
Seguindo trecho, entramos um pouco em Itaobim e em Jequitinhonha, passando por uma estrada que incomoda por tanto buraco mas a todo momento margeia o Rio Jequitinhonha, nesta altura já caudaloso.
Também há de interessante no caminho os artesanatos de barro de Pasmado, comercializados na beira da BR 367, pertinho de Itinga e Itaobm. Já há muita produção industrializada, mas grande parte é feita pelas próprias famílias do povoado, muitas das quais tem naquelas vendas seu sustento. Compramos cinco panelas de barro pelo baixo preço de R$ 65,00.
Estamos agora em Almenara, e vamos atrás das famosas lavadeiras.

Fonte: OTEMPO / Blog Expedição Vale do Jequitinhonha

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