Salinas: Família Santiago recupera nome da cachaça Havana
Disputa acontece há dez anos com o fabricante do rum de mesmo nome Numa decisão de 26 páginas, o juiz da 8ª Vara da Justiça Federal, Renato Martins Prates, deu fim a uma luta de dez anos ao garantir o registro da famosa cachaça "Havana", de Salinas, no Vale do Jequitinhonha, no norte de Minas, junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).
Agora a família do criador da bebida, Anísio Santiago, vai poder usar o nome Havana sem precisar de liminar. No processo, a família Santiago pedia a propriedade da marca Havana, que o produtor do rum Havana Club, da Havana Clube Holding S/A, impedia. A decisão ainda cabe recurso.
O neto de Anísio Santiago, Roberto Santiago, disse que a decisão da Justiça representa uma vitória para a família e para a cachaça. "É o resgate de uma tradição, de um modo de fazer cachaça artesanal", comemorou. Atualmente, a família de Anísio, que morreu há nove anos, comercializa mil garrafas por mês, sendo 20% delas da cachaça Havana e o restante da marca Anísio Santiago.
A produção restrita na fazenda Havana, em Salinas, é de um cachaça orgânica, sem aditivos químicos, que a família não pretende aumentar a produção. "Continuará de 15 mil litros por safra para as duas marcas", disse Roberto Santiago.
O dono do restaurante Xico da Kafua, Muraí Caetano de Oliveira, disse que o público consumidor da Havana é formado por empresários. "É uma cachaça seletiva. São empresários de São Paulo, Rio de Janeiro que ficam sabendo da história da cachaça e compram pela lenda", contou Muraí que vende a Havana desde 1984.
Um dos donos da Ronaldo Queijos e Cachaças, no Mercado Central, Ronaldo Garcia Filho, vende 24 garrafas por ano. "As pessoas e as empresas compram para presentear. A Belotur comprou cinco garrafas para dar de presente ao pessoal da Fifa", contou Ronaldo, que tem um exemplar de 1980 que custa R$ 1.500. O presidente da Associação de Produtores Artesanais de Cachaça de Salinas, Nivaldo Gonçalves das Neves disse que o grande impacto da decisão judicial é que restitui à família e a Salinas o nome Havana, que é pioneiro na fama da cachaça na região. "Era uma briga injusta que a família empreendeu durante dez anos para retomar aquilo que era seu de direito", disse.
O presidente da Coopercachaça, Gilmar Pereira de Freitas, representante de 113 produtores que produzem a cachaça Terra de Ouro, disse que, se a família perdesse a marca, seria muito ruim para os produtores da região. "Porque a Havana é a marca mais famosa do Brasil", afirmou Gilmar.
O dono da distribuidora Savana Oswaldo Bernardino Júnior, que trabalha com 550 marcas de cachaça do Brasil, disse que a liberação do nome Havana acaba com uma dor de cabeça para a família. "Caso não fosse deferido, o rum Havana Club poderia entrar com ação obrigando a família a retirar todo o produto do mercado", contou Oswaldo.
O presidente do Centro Brasileiro de Referência da Cachaça José Lúcio Mendes considerou o fato um marco histórico. "Era a briga de um gigante (o rum Havana Club) contra um pequeno, a
família Santiago", comparou José Lúcio, também um apreciador da bebida. Para José Lúcio, o criador da cachaça, Anísio Santiago se transformou em um mito e referência na área de distribuição. "Como uma pessoa simples que ele era, sem ambição, não aumentou a produção para manter a qualidade", disse José Lúcio.
Estilo
Anísio Santiago passou a receita para o filho
Na década de 1970, Anísio Santiago colocou um cadeado na porteira da fazenda para "frear" a curiosidade das pessoas e jornalistas que queriam entrevistar o criador da cachaça Havana. Quem contou a história sobre o estilo introspectivo de Anísio foi o próprio neto, Roberto Santiago. "Ele corria das pessoas. Não gostava de divulgar a cachaça", disse.
Anísio Santiago preferiu produzir a cachaça Havana em pequena escala, envelhecer por dez anos o produto e agregar valor, contou o neto. "Até o surgimento da marca Havana, as cachaças em Salinas eram de origem informal. Meu avô foi o primeiro a legalizar a cachaça como uma atividade econômica", contou Roberto.
Anísio Santiago comprou a fazenda Havana – hoje com 12 empregados onde tudo é feito –, em Salinas, no Norte de Minas Gerais, em 1942 sendo pioneiro ao engarrafar a cachaça em 1946. "A Havana é um legado do meu avô e a gente procura manter o ideal dele com um produto artesanal de qualidade", explicou Roberto, da terceira geração. O segredo da receita da Havana é lendário e foi passado por Anísio para um dos sete filhos, Osvaldo. (HL)
Reportagem do Jornal O Tempo, 09.06.2011
Disputa acontece há dez anos com o fabricante do rum de mesmo nome Numa decisão de 26 páginas, o juiz da 8ª Vara da Justiça Federal, Renato Martins Prates, deu fim a uma luta de dez anos ao garantir o registro da famosa cachaça "Havana", de Salinas, no Vale do Jequitinhonha, no norte de Minas, junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).
Agora a família do criador da bebida, Anísio Santiago, vai poder usar o nome Havana sem precisar de liminar. No processo, a família Santiago pedia a propriedade da marca Havana, que o produtor do rum Havana Club, da Havana Clube Holding S/A, impedia. A decisão ainda cabe recurso.
O neto de Anísio Santiago, Roberto Santiago, disse que a decisão da Justiça representa uma vitória para a família e para a cachaça. "É o resgate de uma tradição, de um modo de fazer cachaça artesanal", comemorou. Atualmente, a família de Anísio, que morreu há nove anos, comercializa mil garrafas por mês, sendo 20% delas da cachaça Havana e o restante da marca Anísio Santiago.
A produção restrita na fazenda Havana, em Salinas, é de um cachaça orgânica, sem aditivos químicos, que a família não pretende aumentar a produção. "Continuará de 15 mil litros por safra para as duas marcas", disse Roberto Santiago.
O dono do restaurante Xico da Kafua, Muraí Caetano de Oliveira, disse que o público consumidor da Havana é formado por empresários. "É uma cachaça seletiva. São empresários de São Paulo, Rio de Janeiro que ficam sabendo da história da cachaça e compram pela lenda", contou Muraí que vende a Havana desde 1984.
Um dos donos da Ronaldo Queijos e Cachaças, no Mercado Central, Ronaldo Garcia Filho, vende 24 garrafas por ano. "As pessoas e as empresas compram para presentear. A Belotur comprou cinco garrafas para dar de presente ao pessoal da Fifa", contou Ronaldo, que tem um exemplar de 1980 que custa R$ 1.500. O presidente da Associação de Produtores Artesanais de Cachaça de Salinas, Nivaldo Gonçalves das Neves disse que o grande impacto da decisão judicial é que restitui à família e a Salinas o nome Havana, que é pioneiro na fama da cachaça na região. "Era uma briga injusta que a família empreendeu durante dez anos para retomar aquilo que era seu de direito", disse.
O presidente da Coopercachaça, Gilmar Pereira de Freitas, representante de 113 produtores que produzem a cachaça Terra de Ouro, disse que, se a família perdesse a marca, seria muito ruim para os produtores da região. "Porque a Havana é a marca mais famosa do Brasil", afirmou Gilmar.
O dono da distribuidora Savana Oswaldo Bernardino Júnior, que trabalha com 550 marcas de cachaça do Brasil, disse que a liberação do nome Havana acaba com uma dor de cabeça para a família. "Caso não fosse deferido, o rum Havana Club poderia entrar com ação obrigando a família a retirar todo o produto do mercado", contou Oswaldo.
O presidente do Centro Brasileiro de Referência da Cachaça José Lúcio Mendes considerou o fato um marco histórico. "Era a briga de um gigante (o rum Havana Club) contra um pequeno, a
família Santiago", comparou José Lúcio, também um apreciador da bebida. Para José Lúcio, o criador da cachaça, Anísio Santiago se transformou em um mito e referência na área de distribuição. "Como uma pessoa simples que ele era, sem ambição, não aumentou a produção para manter a qualidade", disse José Lúcio.
Estilo
Anísio Santiago passou a receita para o filho
Na década de 1970, Anísio Santiago colocou um cadeado na porteira da fazenda para "frear" a curiosidade das pessoas e jornalistas que queriam entrevistar o criador da cachaça Havana. Quem contou a história sobre o estilo introspectivo de Anísio foi o próprio neto, Roberto Santiago. "Ele corria das pessoas. Não gostava de divulgar a cachaça", disse.
Anísio Santiago preferiu produzir a cachaça Havana em pequena escala, envelhecer por dez anos o produto e agregar valor, contou o neto. "Até o surgimento da marca Havana, as cachaças em Salinas eram de origem informal. Meu avô foi o primeiro a legalizar a cachaça como uma atividade econômica", contou Roberto.
Anísio Santiago comprou a fazenda Havana – hoje com 12 empregados onde tudo é feito –, em Salinas, no Norte de Minas Gerais, em 1942 sendo pioneiro ao engarrafar a cachaça em 1946. "A Havana é um legado do meu avô e a gente procura manter o ideal dele com um produto artesanal de qualidade", explicou Roberto, da terceira geração. O segredo da receita da Havana é lendário e foi passado por Anísio para um dos sete filhos, Osvaldo. (HL)
Reportagem do Jornal O Tempo, 09.06.2011
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