Moradores exibiram cartazes de protesto contra a Copanor –
Foto: Gazeta de Araçuaí
Indignação e revolta deram o tom da audiência pública realizada nessa sexta-feira (09/10/2015) no salão da Paróquia Santo Antônio de Itinga, no Vale do Jequitinhonha, para cobrar uma solução da Copasa Serviço de Saneamento Integrado do Norte e Nordeste de Minas (COPANOR). Há 20 dias os moradores estão sem água..
Parte da cidade, de 7 mil habitantes, já não possui mais reservas de água. Um galão de água mineral de 20 litros, cujo valor médio é de R$ 10, chega a ser vendido R$ 32 reais no comércio local.
Na prefeitura, por exemplo, os banheiros foram todos interditados e os hotéis da cidade estão recusando o recebimento de hóspedes. Como medida emergencial, a administração municipal colocou um caminhão pipa para abastecer os bairros mais afetados.
O advogado Nicolau Laborão criticou a empresa pelo fato dos consumidores não terem sido avisados do desabastecimento e defendeu o abatimento de valores nas próximas contas, referente aos dias que a população não foi servida pelo serviço que paga.
A cidade é banhada pelo rio Jequitinhonha, mas a captação da água que abastece a cidade é a feita no Córrego Água Fria, a 7 km do Centro. O córrego está secando. “Ainda temos abundância de água, mas falta gestão”, observou o Padre Carlos Magno, ao se referir ao rio Jequitinhonha.
Audiência pública
Pelo menos 300 pessoas participaram da audiência convocada por entidades da sociedade civil, entre elas, Organização de Ministros e Pastores da cidade, Paróquia Santo Antônio, Sindicato dos Servidores Municipais, dos Produtores Rurais e Associação dos Amigos de Itinga (AMAI). A reunião durou cerca de 3 horas e a frase mais ouvida foi “queremos água”.
De acordo com os moradores, o problema vem se arrastando desde 2012 e já provocou outros protestos contra a empresa que pouco tem feito para melhorar o sistema de abastecimento do lugar. Ela tem a concessão dos serviços por 30 anos.
No inicio da audiência foi lida uma carta aberta à população, repudiando o descaso da Copanor para com o sistema de distribuição de água na cidade.
A carta assinada pelas entidades que convocaram a audiência criticou a Câmara dos Vereadores e a administração municipal que, segundo as entidades, não tomaram providências emergenciais para solução do problema, como por exemplo, disponibilizar caminhão pipa para atender a população. O fato gerou debate acalorado.
O prefeito municipal e o presidente da Câmara se defenderam alegando que não eram responsáveis pelo abastecimento de água do município e que não possuem poder de gestão da empresa.
“Temos 4 caminhões-pipa para atender principalmente a zona rural. Apesar da grande demanda, não deixamos de acudir a população da cidade”, disse o prefeito, Ademar Marques (PSDB), lamentando que alguns setores não estavam interessados na solução do problema mas, apenas em retirar proveito político da situação.
O Procurador Jurídico do município, João Bosco Versiane Gusmão lembrou que desde que a Copanor assumiu o serviço em 2011, já foram feitas 23 notificações judiciais contra ela e que em 2014 foi ajuizada uma Ação Civil Pública para normalizar o serviço de abastecimento de água. Segundo ele, atualmente tramitam na Justiça, duas ações contra a empresa.
Ele disse que uma das ações se refere à taxa de cobrança de tratamento de esgoto cuja obra não foi feita integralmente, com pedido de devolução dos valores cobrados dos contribuintes, nos últimos 12 meses.
A empresa não enviou nenhum representante para dar explicações.
Seca
A falta de chuva em níveis normais acentuou o problema do fornecimento de água de Itinga cuja captação fica a 7 km da cidade. De acordo com Sandro Chaves, operador do Sistema da Copanor na cidade, o desabastecimento vai continuar por pelo menos 10 dias.
Ele afirmou que a falta de investimentos em infraestrutura prejudica o abastecimento. “Usamos uma antiga adutora da prefeitura e as manilhas que conduzem a água tem mais de 40 anos. Muitas estouram e o abastecimento fica prejudicado.”, disse Chaves. Ele afirmou que apesar dos problemas, a água servida é de boa qualidade.
Para o presidente da Associação dos Amigos de Itinga (AMAI) Pierre Gusmão, a falta de manutenção do canal condutor da água provocou o entupimento das manilhas com areia e folhas e por isso a água esta chegando em conta gotas para os consumidores.
Segundo a comerciante Sueli Mendes, não existe vigilância no local de captação e tratamento. ”Qualquer um pode entrar lá e fazer o que quiser. Muitas vezes a água chega suja nas torneiras”, disse ela.
A informação foi confirmada pela proprietária da área. “O local está muito sujo. Já encontraram até cobras mortas.”, lamentou Maria Inês Ramalho de Oliveira. Ela mora próxima à área de captação da água.
Para o pastor Thiago, o problema de água em Itinga é maior que a Copanor e que é preciso pensar em soluções para preservar os mananciais e as matas ciliares dos córregos e rios que estão sendo destruídas.
Soluções emergenciais
Ao final da audiência foram tomadas medidas emergenciais. A Copanor autorizou a contratação de caminhões pipa para atender a população em caráter de urgência.
Uma empresa de Almenara se comprometeu a fazer a obra de extensão de 150 metros da adutora, com suporte da Copasa, além da construção de mais uma adutora para captar água do rio Jequitinhonha.
Participantes da audiência defenderam a suspensão do contrato de concessão da Copanor.
O procurador jurídico da prefeitura João Bosco Versiani, informou que a empresa investiu R$ 15 milhões no município e que o cancelamento do convênio obrigaria o município a arcar com os prejuízos.
Após a audiência pública, manifestantes realizaram ato simbólico
em favor das águas, em uma das margens do rio Jequitinhonha –
Foto: Gazeta de Araçuaí
Pelo menos 300 pessoas participaram da audiência pública
– Foto: Gazeta de Araçuaí
Estudantes participaram de protesto contra a Copanor –
Foto: Gazeta de Araçuaí
Fonte: Gazeta de Araçuaí
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