domingo, 31 de março de 2019

Ditadura Nunca Mais! Brasileiros protestam contra a opressão










Manifestações "descomemoram" golpe e homenageiam vítimas da ditadura


Caminhadas, manifestações, aulas-públicas e atividades culturais foram realizadas em várias cidades do país para marcar os 55 anos do golpe de 1964 e para homenagear as vítimas da ditadura militar que dele resultou.




Foto: Rebeca Belchior/ Cuca da UNE
  
No Rio de Janeiro, a manifestação reuniu 4 mil pessoas para "descomemorar" golpe de 64. Os manifestantes se encontram na Cinelândia, no Centro do Rio, para repudiar torturas e mortes ocorridas durante a ditadura militar / Flora Castro / Brasil de Fato

A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ), presente ao ato, afirmou que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) viola a Constituição de 1988 ao provocar as Forças Militares a celebrarem o golpe de 1964. “Estamos de preto, não por acaso, porque esse dia rompeu com o que havia de democrático no Brasil. Fez democratas, socialistas e comunistas desaparecerem, pessoas que simplesmente queriam liberdade para lutar, pensar e noticiar. Isso tudo foi cerceado. Até hoje famílias procuram seus filhos, maridos, irmãos e companheiras”, destacou. Ela lembrou que o Partido Comunista do Brasil foi o que mais perdeu, proporcionalmente, militantes, sobretudo durante a Guerrilha do Araguaia.

Deputada Jandira Feghali (Foto: Rebeca Belchior)

Uma das primeiras medidas do golpe militar, assim que foi instalado no país, foi queimar a sede da União Nacional dos Estudantes (UNE), localizada na Praia do Flamengo, no Rio de Janeiro. Também presente à manifestação, Leonardo Guimarães, diretor de universidades públicas da UNE e aluno de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), afirmou “os ditadores já entendiam que das universidades viria uma forte resistência ao autoritarismo e à escalada do fascismo”. Ele enxerga com preocupação o fato do presidente eleito indicar que os quartéis deveriam comemorar esta data e explicou que para a entidade o 31 de março é sinônimo de “repressão, perseguição e tortura”. 

O historiador Paulo César Pinheiro atuou na clandestinidade contra o regime liderado pelos militares na organização VAR-Palmares. Preso e torturado durante a ditadura, Pinheiro destacou que em todos os países existem lutas por verdade, memória e justiça. “Infelizmente não conseguimos ter julgamentos e condenações daqueles que mataram, torturaram e exploraram o nosso povo de maneira atroz. Não só os que foram assassinados ou desaparecidos, mas também milhares de indígenas, camponeses e todo o povo que teve arrocho salarial e seus direitos cassados.” Na sua avaliação, é necessário que haja uma grande unidade popular dos setores progressistas, além da esquerda, no sentido de recuperar as conquistas do povo brasileiro, antes e depois de 1964.
Militantes se encontram na Cinelândia, no Centro do Rio, para repudiar torturas e mortes ocorridas durante a ditadura militar / Flora Castro / Brasil de Fato

A professa aposentada Sandra Chaves tinha dez anos quando a ditadura foi instaurada e teve atuação na resistência ao regime enquanto estava na Universidade. “Esse ano nós vivemos um governo muito ruim, com perspectiva de volta da ditadura. Ouvir dizer que não houve ditadura é cruel para quem viveu”, desabafa.

A estudante Raíssa Nascimento, de 26 anos, também participou do protesto. Ela vestia uma camiseta em homenagem à militante Helenira Rezende, vice-presidenta da UNE que foi torturada e morta pelos militares. “Os jovens da zona oeste e da Baixada Fluminense vivem à mercê da milícia, por isso a gente luta contra essas formas de organização que querem reprimir os jovens, da mesma forma que aconteceu na ditadura, no passado, quando os estudantes começaram a ser perseguidos”, comparou Raíssa que é diretora do Diretório Central dos Estudantes (DCE) do Centro Universitário Estadual da Zona Oeste (UEZO) e aluna de Biotecnologia.

O ato foi convocado por MST, Levante, MPJ, FBP, FPSM, ABDRJ, AJDRJ, OAB, PCdoB, PT, CTB e CUT.

Manifestações pelo país

João Vicente Goulart participou da manifestação em Brasília (Foto: Orlando Brito)

Em todo o Brasil foram registradas manifestações que repudiaram o golpes e a ditadura. 
Manifestantes protestam contra a ditadura militar em Brasília — Foto: Sergio Lima/G1

Brasilia
Pela manhã, cerca de mil manifestantes ocuparam parte do Eixão Norte, em Brasília, para protestar contra os 55 anos do golpe militar de 1964. Os manifestantes foram ao local vestidos de branco, com flores nas mãos e fotos de presos políticos mortos ou desaparecidos durante a ditadura. O protesto foi marcado por discursos de representantes de partidos políticos e organizações do movimentos popular, uma caminha e performances artísticas que representavam os métodos de tortura aplicados nos porões dos órgãos de repressão. 

Entre os presentes, destacavam-se João Vicente Goulart, filho do ex-presidente João Goulart, deposto pelo golpe, e Ana Maria Prestes, neta do histórico líder comunista, Luis Carlos Prestes, o Cavaleiro da Esperança. 

Frente pela Democracia mobilizou manifestação em Porto Alegre

Porto Alegre
Em Porto Alegre (RS), 700 militantes políticos se reuniram no Parque da Redenção. O ato unitário teve como mote a denúncia da ditadura e a repulsa a governos autoritários como o instaurado em 1964. 
Na ocasião foi inaugurada uma escultura em memória aos mortos e desaparecidos gaúchos e de todo Brasil. 

Também na região sul, um ato em Curitiba (PR) percorreu as ruas da capital.

Aula sobre a ditadura reuniu centenas de pessoas em Fortaleza (Foto: Bernadete Souza)

Fortaleza
No Ceará, uma aula pública sobre ditadura reuniu cerca de 500 pessoas na praia de Iracema, em Fortaleza. Entoando palavras de ordem, manifestantes gritavam “Silêncio nunca mais”, em referência à censura da época. O evento contou com depoimentos dos professores José Machado, Paulo Emílio e Nelson Campos, perseguidos pela ditadura. 
Ato na Praia de Iracema em memória das vítimas da ditadura militar em Fortaleza — Foto: Kid Júnior/ SVM

A manifestação teve ainda a participação de professores como Anna Karina Cavalcante, André Vinícius, Fabiano Sousa, Zilfran Varela e Nilo Sérgio, que contextualizaram desde a concepção do golpe até a volta da democracia no País. Presente à atividade, a professora universitária Bernadete Sousa afirmou em suas redes sociais: 

“A ideia da aula-ato é espetacular. Sim, professores reinventam tempo e espaço.E hoje vi a reinvenção de nossas resistência. Foi bom ouvir cada relato, cada canção, cada nome ali citado e honrado. Senti vontade de ir sempre encontrar essa gente que luta com honra e gratidão, que grita, canta e silencia”. 

Por outro lado, segundo o jornal O Povo, apoiadores do golpe tentaram organizar um ato, mas apenas duas pessoas compareceram.

Milhares de pessoas se reuniram em Belo Horizonte para protestas contra o golpe (Foto: Anderson Pereira)

Belo Horizonte
Em Minas Gerais, uma manifestação reuniu 5 mil
pessoas contra a ditadura militar e em protesto contra o presidente Bolsonaro por ter convocado uma comemoração do golpe de 64. 

Manifestantes protestam contra a ditadura militar em Belo Horizonte — Foto: Washington Alves/Reuters

Os manifestante vestiram roupas pretas para expressar o luto pelos assassinatos praticado pela repressão política. Os manifestantes se concentraram na Praça da Liberdade, centro da capital mineira, e seguiram para a antiga sede do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), na Avenida Afonso Pena, que deverá ser transformado em Casa da Liberdade. Os manifestantes também se posicionaram contra a Reforma da Previdência, contra o golpe de 2016 e ainda pediram a liberdade do ex-presidente Lula.
Em Uberlândia, centenas de pessoas vestidas de luto saíram em passeata pelas ruas da cidade. 

Caminhada em São Paulo homenageou as vítimas da ditadura

São Paulo
Em São Paulo, o ato aconteceu na Praça da Paz, no Parque do Ibirapuera. Com velas, flores e fotos das vítimas da violência estatal, os manifestantes fizeram uma caminhada silenciosa em direção ao Monumento pelos Mortos e Desaparecidos Políticos.

Curitiba
Manifestação contra a ditadura militar em Curitiba, neste domingo (31) — Foto: Filipe Rosa/RPC


Um grupo fez um ato contra a ditadura militar na Praça 19 de Dezembro, em Curitiba. 
Segundo a organização o ato reuniu mil pessoas.

Recife
O ato deste domingo (31.03) foi realizado ao redor do Monumento 
Tortura Nunca Mais, o primeiro construído em todo o Brasil 
para homenagear e guardar a memória daqueles que lutaram 
contra o regime militar. 500 manifestantes , vestidos de 
preto, os participantes depositaram flores no monumento e nas
lápides que simbolizam os desaparecidos durante a ditadura.
Ato lembra vítimas da ditadura militar no Recife — Foto: Pedro Alves/G1
Um dos organizadores do evento, Welber Galdino, 
participante do movimento Nova Esquerda Pernambucana, 
afirma que cerca de 350 pessoas participaram do ato. Na ocasião, 
foi feita uma chamada dos nomes de vítimas pernambucanas 
registradas. 
A leitura de cada nome era sucedida por um grito de "presente" e 
uma salva de palmas.
"Nosso objetivo é prestar memória às vítimas da ditadura e
fortalecer o sentimento de democracia e livre expressão no
Brasil. Fomos motivados pela fala do presidente Jair Bolsonaro
(PSL), que quis comemorar festivamente o golpe que deu início a
tudo isso. Estamos, então, numa contracomemoração", afirma
Galdino.
Aos 79 anos de idade, o professor aposentado Roberto de Araújo
Faria lembra vividamente do período conhecido como "anos de 
chumbo". Ele, que era seminarista e estudava na Universidade 
Federal de Pernambuco (UFPE), foi espancado durante uma 
investida dos militares a uma igreja católica onde membros de 
movimentos estudantis estavam refugiados.
Santa Catarina

Florianópolis, Joinville e Balneário Camboriú registraram manifestações contra a ditadura militar. Em Joinville, a organização do protesto afirmou que havia 150 pessoas. Em Balneário Camboriú, os organizadores também informaram que o número de participantes era de 150. Em Florianópolis, o ato reuniu cerca de 30 pessoas.
Balneário Camboriú tem manifestação neste domingo (31) contra a ditadura militar — Foto: Beto Espercot/NSC TV

Novas atividades estão programadas para esta semana. Veja abaixo:

Segunda-feira 1o de abril

Salvador - BA
14h - Praça da Piedade
Marcha do Silêncio

Fortaleza - CE
16h Secretaria de Cultura
Rua Pereira Filgueras, 4
Marcha do Silêncio

Vitória - ES
18h Praça Costa Pereira
Ato Ditadura Nunca Mais

São Luis - MA
17h Auditório da Faculdade de Arquitetura da Universidade Estadual
Diálogos Insurgentes: 55 anos do Golpe de 1964

Dourados - MS
19:30 Auditório 1 Fadir-UFGD
Ditadura Militar: 55 anos do golpe no Brasil 

Belém - PA
14h - Auditório ICJ da Universidade Federal do Pará
Audiência Publica: 1964 nada a comemorar

Recife - PE
55 anos de impunidade do golpe
9h - Praça Padre Henrique
Caminhada
18:30 - Auditório Unicap
Ato político-cultural

Rio de Janeiro - RJ
16h - Rua da Relação com Rua dos Inválidos
Descomemorar os 55 anos do golpe
17:30 Capela Ecumênica da UERJ
Entrega da Medalha Chico Mendes de Resistência

Porto Alegre - RS
12h - Esquina Democrática
Apresentação “Onde? Ação No 2, pelo grupo Óinóis Aqui Traveiz

Campo Grande - MS
17h, em frente ao Ministério Público Federal - Avenida Afonso Pena, 4.444.
Ato Ditadura Nunca Mais

Cuiabá - MT
12h - Restaurante da Universidade Federal do MT
(Des)comemorando a ditadura militar

19h - Saguão do IL-UFMT

Ato Ditadura Nunca Mais





Terça-feira, 2 de abril


Fortaleza - CE
14h - Auditório Luiz Gonzaga (UFC)
Disputas de Memórias
Lançamento do livro Pavilhão Sete: presos políticos da ditadura cicil-militar, de Airton Farias

Brasília - DF
9h - Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados
Audiência sobre a situação dos anistiados políticas no Brasil

Fontes: Portal Vermelho, Brasil de Fato, G1, Brasil247 e OTEMPO.

quarta-feira, 27 de março de 2019

Militares e privilégios: não abrem mão de 65 bilhões de pensões para suas filhas e mulheres

Reforma militar poupa 6 vezes menos que 

extinguir pensão de filhas. 


segunda-feira, 25 de março de 2019

Reforma da Previdência: Governadores do Nordeste estão com os pobres. Os do sul/sudeste, com os ricos.


Fórum de Governadores do Nordeste, no Palácio dos Leões, em São Luis, no Maranhão.
 (Foto: Karlos Geromy)

Em reunião na cidade de São Luís na quinta-feira (14.03.19), os nove Estados do Nordeste elaboraram e divulgaram uma carta com posicionamentos sobre temas importantes para a sociedade brasileira. O documento foi redigido durante o Fórum dos Governadores do Nordeste, no Palácio dos Leões, sede do Governo do Maranhão.

O governador Flávio Dino recebeu sete governadores e um vice-governador do Nordeste. Todos os nove Estados, portanto, estavam representados.
Estiveram presentes no Fórum os governadores Flávio Dino (Maranhão), Rui Costa (Bahia), Paulo Câmara (Pernambuco), Camilo Santana (Ceará), João Azevedo (Paraíba), Wellington Dias (Piauí), Fátima Bezerra (Rio Grande do Norte), Belivaldo Chagas (Sergipe) e o vice-governador José Luciano Barbosa da Silva (Alagoas).

A carta tem cinco pontos principais. Um deles é sobre a proposta de desvinculação de receitas do Orçamento, tramitando na esfera federal. Essa proposta, caso seja aprovada, permitiria a redução de gastos que hoje são obrigatórios em educação e saúde, por exemplo.

“Achamos que resultaria num desastre social para o país. Iria haver diminuição de investimentos em saúde e educação, sobrecarregando ainda mais Estados e municípios, que são obrigados a manter suas redes de atendimento, as escolas, os hospitais, as UPAs”, afirmou Flávio Dino, que falou em nome dos demais governadores.

“A desvinculação não produziria nenhum efeito a não ser a eventual diminuição de repasses para Estados e municípios”, acrescentou. Os governadores também voltaram a defender que a reforma previdenciária é um debate necessário, mas é preciso fazer mudanças para não prejudicar os mais pobres.

Entre os pontos do texto da reforma em que é necessário fazer mudanças, de acordo com os governadores, estão a retirada das regras previdenciárias da Constituição; a adoção do regime de capitalização; e medidas restritivas de direitos dos mais pobres, incluindo os trabalhadores rurais e a redução do valor do Benefício de Prestação Continuada (BPC).

Desenvolvimento
De acordo com a carta, é preciso preservar a existência do Banco do Nordeste, da Sudene e da Chesf (Companhia Hidrelétrica do São Francisco).

O governador Flávio Dino disse que esses mecanismos regionais de desenvolvimento “são fundamentais não apenas para o Nordeste, mas para o Brasil, uma vez que superar desigualdades regionais não é um direito dos nordestinos, é um dever do Brasil inscrito na Constituição. Por isso somos contrários a qualquer proposta de privatização ou extinção desses importantes organismos da vida política do Nordeste”.

Segundo ele, o Fórum de Governadores defende o amplo diálogo com todas as esferas de poder: “Nossos Estados têm no Congresso Nacional 27 senadores e 153 deputados federais. O primeiro trabalho é que haja uma sensibilização das bancadas federais em relação a esses pontos”.

“A agenda que apresentamos é de amplo diálogo, com outros governadores de outras regiões também. São pontos de vista que interessam a Nação e outros Estados. E diálogo também com as bancadas federais no Congresso, de modo suprapartidário, e com o governo federal”, acrescentou.
Os governadores defenderam, ainda, o Estatuto do Desarmamento e se mostraram contrários a regras que ampliem a circulação de armas, mediante posse e porte.
Consórcio
Assinatura do protocolo de criação do Consórcio Nordeste (Foto: Gilson Teixeira)
No Fórum, também foi assinado o protocolo de criação do Consórcio Nordeste. Com o consórcio, os Estados nordestinos terão, por exemplo, mais poder de negociar preços, já que serão feitas compras conjuntas, com um volume muito maior. Também poderão ser feitas cooperações policiais muito mais intensas que as de hoje.
Agora, cada Assembleia Legislativa estadual terá de aprovar a criação do Fórum. A partir daí, ele passa a funcionar.

Veja a íntegra da Carta dos Governadores do Nordeste:

CARTA DOS GOVERNADORES DO NORDESTE 

São Luís (MA), 14 de março de 2019. 

Os Governadores dos Estados do Nordeste, reunidos nesta data, em São Luis (MA), manifestam-se à sociedade brasileira, nos seguintes termos: 

1. Assinamos hoje o Protocolo que resultará na criação do Consórcio Nordeste, importante instrumento político e jurídico para o fortalecimento da nossa região e para melhorar a prestação de serviços públicos aos cidadãos e cidadãs. Acreditamos que a cooperação assim intensificada resultará em diversas conquistas, por exemplo parcerias na aquisição de produtos e na execução de ações conjuntas em áreas como Segurança Pública. 

2. No mesmo sentido de proteção e promoção dos direitos do povo do Nordeste, sublinhamos que vamos dialogar com os 153 deputados federais e 27 senadores dos nossos estados para que não haja qualquer retrocesso quanto a mecanismos essenciais para o desenvolvimento regional, notadamente o Banco do Nordeste, a CHESF e a Sudene. 

3. Sobre propostas atualmente em debate no país: 
a) Registramos que não concordamos com a ideia de desvinculações de receitas para fazer face às despesas obrigatórias com saúde, educação e fundos constitucionais, que resultariam em redução de importantes políticas públicas. Em vez disso, desejamos discutir realmente o Pacto Federativo, inclusive no tocante à repartição constitucional de receitas e competências.

b) Quanto à Reforma Previdenciária, consideramos que se trata de um debate necessário para o Brasil, contudo posicionamo-nos em defesa dos mais pobres, tais como beneficiários da Lei Orgânica da Assistência Social, aposentados rurais e por invalidez, mulheres, entre outros, pois o peso de déficits não pode cair sobre os que mais precisam da proteção previdenciária. Também manifestamos nossa rejeição à proposta de desconstitucionalizar a Previdência Social, retirando da Constituição garantias fundamentais aos cidadãos. 
Do mesmo modo, consideramos ser imprescindível retirar da proposta a previsão do chamado regime de capitalização, pois isso pode inclusive piorar as contas do sistema vigente, além de ser socialmente injusto com os que têm menor capacidade contributiva para fundos privados. 
Em lugar de medidas contra os mais frágeis, consideramos ser fundamental que setores como o capital financeiro sejam chamados a contribuir de modo mais justo com o equilíbrio da Previdência brasileira. 

4. Por fim, defendemos o atual Estatuto do Desarmamento e somos contrários a regras que ampliem a circulação de armas, mediante posse e porte de armas. Tragédias como o assassinato da vereadora Marielle e a de Suzano, no Estado de São Paulo, mostram que armas servem para matar e aumentar violência na sociedade. Somos solidários à dor das famílias, destas e de outras tragédias com armas, e é em respeito à memória das vítimas que assim nos manifestamos. 

5. Ratificamos nosso empenho conjunto em favor de uma nação justa e soberana, renovando mais uma vez nossa disposição para o diálogo amplo, conducente a dias melhores para o Brasil.

Fonte: 

domingo, 24 de março de 2019

Bolsonaro quer cortar 13,7 cargos de Universidades Federais

O decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro que extingue 21 mil cargos e funções gratificadas na administração federal atinge especialmente as universidades públicas federais. Do total de vagas que serão extintas até 31 de julho deste ano, 13,7 mil estão ligadas às instituições de ensino. O número corresponde a 65% dos postos que serão eliminados. Para as entidades ligadas ao setor, a medida é um ataque às universidades e faz parte de um projeto para promover o desmonte do estado.
Ao divulgar o detalhamento sobre os cortes, na última quarta-feira (13.03), o governo não informou quais áreas seriam as mais afetadas pelos cortes. Pelo decreto, serão extintas imediatamente 2.449 vagas em instituições de ensino que atualmente estão em aberto. Outros 11.261 cargos, que atualmente estão ocupados, deixarão de existir até o final de julho e seus ocupantes serão dispensados ou exonerados.
Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, o diretor da Associação nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes), Antonio Gonçalves, afirmou que a extinção dos cargos deverá desestimular os professores, que já trabalham com salários defasados, e "explicita a política educacional do governo, que é de ataque às instituições de ensino superior. Estão colocando esse plano em curso".

sexta-feira, 22 de março de 2019

Dia Mundial da Água: Descuidos com a água e meio ambiente ameaçam rios do Jequitinhonha


Falta de projetos de preservação, descaso governamental e avanço do garimpo ilegal colocam em risco os mais importantes rios do Vale do Jequitinhonha.

Foto: Bruno LagesMineração ilegal, desmatamento,esgoto e lixo ameaçam rios do Vale  do Jequitinhonha
Rio Araçuai, afluente do Jequitinhonha está ameaçado pelas agressões humanas



A devastação do  Rio  Jequitinhonha, cenário que inspira música, artesanato e formas de cultivo, avança em direção à cabeceira, que começa a ser castigada pouco mais de um quilômetro depois de brotar nos chapadões do cerrado mineiro, onde o rio começa sua saga de mazelas ambientais e sociais até chegar à Bahia e desaguar no mar, na altura do município de Belmonte, depois de percorrer 1.082 km.


Nascente do Rio Jequitinhonha, no Pico do Itambé, na Serra do Espinhaço, em Serro.
Nascente do Rio Jequitinhonha, no Pico do Itambé, na Serra do Espinhaço, em Serro.


O isolamento manteve praticamente intocada a nascente do Rio Jequitinhonha, no Serro, a 320 quilômetros de Belo Horizonte. Mas ela desce cristalina, sem a ação nociva do homem por apenas 1.300 metros. Já nessa altura, o igarapé precisa transpor a canalização do aterro da rodovia BR-259, onde recebe resíduos carreados da via, como combustível, óleo e cargas que vazam pelas canaletas de drenagem. Passados mais 10 quilômetros, a paisagem da nascente dá lugar ao fluxo intenso de esgoto do distrito de Pedro Lessa, que é carregado pelo Córrego Acabassaco e mancha o manancial com mais poluentes.


A derrubada das matas que levavam até a área da nascente do Rio Jequitinhonha e o lançamento de esgoto, lixo, garimpo ilegal e animais mortos em seus afluentes, estão afetando o modo de vida de  milhares de moradores da região.


Nos últimos anos, o mau cheiro e a imundície têm descido as corredeiras do Córrego Acabassaco com cada vez mais volume, chegando até o Rio Jequitinhonha.


Cachoeira do Sumidouro na nascente do Rio Araçuai, na Serra do Gavião, em Diamantina.
Cachoeira do Sumidouro na nascente do Rio Araçuai, na Serra do Gavião, em Diamantina.


O Rio Araçuaí, maior afluente do Jequitinhonha, também é o retrato de algumas dessas agressões e está ameaçado pelas dragas da extração de areia, pelo lançamento de esgoto, desmatamento das matas ciliares e pelo lixo jogado nas suas margens, como ocorre no município que divide com o rio seu nome e seus detritos.

Córrego São Domingos, em Virgem da Lapa.
Córrego São Domingos, em Virgem da Lapa.


A situação  vem se  agravando com o desaparecimento de muitos córregos da região que são afluentes do Rio Araçuai. Um deles é o São Domingos, que atravessa a área urbana de Virgem da Lapa. Ali, uma grande ponte revela que um dia o São Domingos correu forte. Hoje, a travessia virou viaduto: debaixo dela sobrou um imenso leito seco. Onde falta água, agora sobra lixo e esgoto. Por causa do cultivo do eucalipto, desmataram áreas perto da nascente. Acabaram com a biodiversidade e com a água”, afirmam os moradores.

Rio Jequitinhonha percorre 1.082 km até desaguar no mar em Belmonte, na Bahia.
Rio Jequitinhonha percorre 1.082 km até desaguar no mar em Belmonte, na Bahia.



O último levantamento do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), mostra que o Índice de Qualidade das Águas (IQA) bom do Jequitinhonha caiu de 50% para 42% .

Os fatores que mais contribuíram para os índices foram o lançamento de esgoto e o mau uso do solo. A barragem de Irapé contribuiu para aumentar a vazão do Jequitinhonha e facilitou o trabalho de um grupo de mulheres que integram o cenário do rio: as lavadeiras. Mas a usina que beneficiou as lavadeiras incomoda os pescadores. “Depois da usina, os peixes sumiram”, protestam. Os pescadores  dizem  não encontrar mais espécies como piau, piabanha e surubim.


Material que poderia ser reciclado está indo parar no leito do rio Araçuai,devido a ineficácia da prefeitura no recolhimento do lixo e ausência de campanhas educacionais..
Material que poderia ser reciclado está indo parar no leito do rio Araçuai,devido a ineficácia da prefeitura no recolhimento do lixo e ausência de campanhas educacionais..


Mais agressões

Nas margens altas dos rios Araçuai e Jequitinhonha, grandes plantações de banana, capim e eucalipto estão substituindo  áreas de proteção permanente (APP) que vão sendo engolidas pelo desbarrancamento e as erosões.

A devastação que sofre a Bacia do Jequitinhonha, com desmatamento, invasões, lixo, esgoto e garimpo ilegal é um resumo da grande dificuldade que se tem em regenerar as suas áreas de preservação, mesmo sendo esse o mais importante manancial de abastecimento da região. 

Garimpo de Areinha, no rio Jequitinhonha, nas proximidades de Diamantina.
Garimpo de Areinha, no rio Jequitinhonha, nas proximidades de Diamantina.

Um dos maiores desafios para se recompor as  áreas degradadas é reverter o desmatamento histórico trazido pela ocupação dessas áreas, para dar lugar às pastagens e acabar com o garimpo ilegal, principalmente na região do Alto Vale do Jequitinhonha, que assassina o rio um pouco por dia.

Para o engenheiro Josias Gomes Ribeiro, natural de Araçuai e membro do Comitê da Bacia Hidrográfica do Jequitinhonha, são décadas de desprezo, agressões e crimes ambientais aos nossos rios Araçuaí e Jequitinhonha. "E claro ,essa brutal estiagem e seca dos últimos anos, podem levar tempo para a completa revitalização .Mas temos que começar imediatamente", diz o engenheiro. 

Segundo ele, uma das propostas é construção de barragens ao longo dos seus 397 km de extensão do rio Araçuai que banha 19 cidades e abastece 23  municípios da região. “ Já existem estudos preliminares para três barragens. Creio que uma Audiência Pública bem trabalhada e convocada pela Assembléia Legislativa poderá alavancar esse processo. Contamos para isso com os deputados majoritários na região da Bacia”, acredita Gomes Ribeiro.


Barragem de Irapé no Rio Jequitinhonha, em Berilo
Barragem de Irapé no Rio Jequitinhonha, em Berilo


Deputados se manifestam

No  Dia Mundial da Água ( 22 de março ) criado pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas(ONU), o deputado estadual dr. Jean Freire (PT),  filho do Vale do Jequitinhonha, ocupou a tribuna da Assembléia Legislativa, para denunciar a grave situação dos mananciais de água do Vale do Jequitinhonha. Ele lembrou que apesar da região estar no semiárido, as chuvas chegam mas que a água é mal aproveitada porque não há dispositivos para armazena-la. Ele condenou a proliferação de poços artesianos que podem afetar gravemente os lençóis freáticos e que a solução seria a construção de pequenas barragens.
“ Existem barragens para irrigar plantações de eucalipto mas não para matar a sede do povo. Os córregos estão morrendo. Em Lelivéldia, povoado de Berilo a 7 km da Hidrelétrica de Irapé, a população ainda sofre com a falta de água. Agora querem construir um mineroduto para retirar o minério de ferro da região, com a água de Irapé.Um absurdo”, disse o deputado, argumentando que é preciso fortalecer os Comitês das bacias hidrográficas para salvar as águas.

O deputado federal do Podemos, Igor Timo, também filho do Vale do Jequitinhonha, percorreu a região e afirmou que sua maior preocupação é com a preservação das nascentes e que vai defender projetos neste sentido.

Sérgio Vasconcelos, Repórter da Gazeta de Araçuaí, em 22.03.19