Secretário Nacional da Economia solidária, Paul Singer, defende mobilização pelo emprego.
Economista Paul Singer aponta o fim do ciclo de
pleno emprego na economia brasileira e defende medidas urgentes de
inclusão social e combate à desocupação.
"Com a mobilização da sociedade
civil e uma ampliação das políticas nacionais de assessoramento
técnico, de crédito, de apoio à comercialização e à organização
comunitária das finanças, poderemos contribuir para uma saída autônoma e
coletiva organizada pelos próprios trabalhadores desempregados", diz
ele
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O economista Paul Singer publicou artigo neste domingo, 04.10, na Folha de S. Paulo, em que aponta o
fim do ciclo de pleno emprego na economia brasileira e defende medidas
urgentes de inclusão social e combate à desocupação.
"Com a mobilização da sociedade
civil e uma ampliação das políticas nacionais de assessoramento técnico,
de crédito, de apoio à comercialização e à organização comunitária das
finanças, poderemos contribuir para uma saída autônoma e coletiva
organizada pelos próprios trabalhadores desempregados", diz ele. Confira
abaixo:
Um combate positivo ao desemprego
É necessário envidar
esforços mais amplos para combater o desemprego. Com mobilização, a
saída poderá ser organizada pelos próprios trabalhadores
Depois de anos de pleno emprego, de
que gozamos desde 2005, o desemprego voltou a afetar o país com
virulência. As estatísticas a respeito do número de postos de trabalho
têm revelado que a perda deles vem superando amplamente a quantidade de
novos criados, o que significa que o número de pessoas que perderam seu
emprego cresce e é improvável que muitos já tenham conseguido outro
trabalho.
O aumento de pessoas em situação de
desemprego é preocupante, pois são vítimas quase sempre inocentes de um
processo extremamente doloroso de exclusão social que começa com a perda
de contato com os colegas de trabalho e de sindicato com os quais
haviam tecido ao longo de anos laços de companheirismo e amizade.
Para a maioria dos desempregados, o
prolongamento da situação de procura sem sucesso de novo emprego provoca
a perda da moradia, causada pela falta de renda salarial, quase sempre a
única fonte de dinheiro para a subsistência própria e dos dependentes.
Em situações como essas, torna-se
habitual que as famílias despejadas acabem morando na rua, o que provoca
frequentemente a dissolução dos laços familiares.
Situações de desemprego de longa
duração acabam afetando a saúde física e mental das vítimas, muitas das
quais apelam ao suicídio. Em países como a Espanha e a Grécia, o
fenômeno do "suicídio econômico" se tornou uma importante causa de
morte, devido exclusivamente ao prolongamento da situação de desemprego.
O Brasil passou por situação
semelhante quando, após o segundo choque do petróleo, em 1981, os países
importadores se viram amplamente endividados, impossibilitados de
cumprir seus compromissos com os credores por falta de moeda forte (na
época, os chamados "petrodólares").
O governo brasileiro, ainda sob o
comando dos militares, entrou em regime de austeridade, o que provocou a
falência de muitas empresas e desemprego em massa.
Naquela ocasião, quem veio em
socorro dos desempregados foram as organizações populares, as pastorais e
o movimento sindical, que apoiaram a organização de milhares de
coletivos, associações e cooperativas de desempregados.
O curioso é que, na época, essa ação
de resgate humano foi totalmente ignorada pela mídia e, portanto, do
público eventualmente interessado. Eu tomei conhecimento graças a um
convite da ONG Cáritas na época para visitar uma cooperativa por ela
patrocinada.
Depois dessa experiência,
convenci-me de que essa ação humanitária –além dos méritos éticos–
constituía uma maneira eficiente de enfrentar o gigantesco drama humano
que o desemprego em massa acarreta.
Tive então a ideia de publicar um
artigo que provocou uma enxurrada de cartas de leitores, o que
contribuiu para o nascimento no Brasil da economia solidária, que hoje
se tornou um movimento mundial.
Muitos anos depois, como secretário
nacional da Economia Solidária, venho coordenando ações para fortalecer
estas iniciativas da sociedade civil. No entanto, neste novo contexto de
crise, é necessário envidar esforços mais amplos para combater o
desemprego.
Com a mobilização da sociedade civil
e uma ampliação das políticas nacionais de assessoramento técnico, de
crédito, de apoio à comercialização e à organização comunitária das
finanças, poderemos contribuir para uma saída autônoma e coletiva
organizada pelos próprios trabalhadores desempregados.
Acho que chegou a hora de o Brasil
lançar mão dessa experiência histórica e organizar um movimento do
governo em parceria com a sociedade civil para o resgate humana das
vítimas do desemprego. Para um país que se orgulha de ter começado a
erradicação da miséria, é o mínimo que se deve esperar.
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