sábado, 28 de maio de 2011

Súplicas, poesia de Haydée Murta

Súplicas

Ó meu Ribeirão, das malvas malvinas!...
Das gangorras, das corredeiras.
Onde estão tuas águas cristalinas,

Tuas cascatas e cachoeiras?

O homem incrédulo ou desavisado
Destruiu teu leito, tua nascente.

Tristonho, hoje, olha desolado,

Procurando o verde da tua vertente.


Comunidade imprevidente,
Grandes e pequenos fazendeiros,
Prejudicam tanta gente inocente,
Na irrigação de vastos cafeeiros.

Ó meu querido Ribeirão,
Não ligues pra essa gente não,

Mostra a tua valentia de então,
Com galhardia levanta teu tufão.

Destemido, quebra todas as barragens,
Arranca cercos, tudo, tudo que impede,

Tua vida, tua livre passagem.
O povo aflito te implora e pede.


Lembra-te daquele chuvoso dia
Quando ainda eu era criança?
Chegaste cheio, levanto tudo que havia,
Teu furor nunca me sai da lembrança.


Em pânico, corri, abracei meu pai
Estavas insano, louco, bravio demais.
Avante camarada! Repete este gesto, vai.
Intrépido, provocarás euforia, uai!

Olha bem, mira em tua volta,
Quanta secura, quanta tristeza,
Ressequidos ingazeiros, com certeza,
Abrigam famintas gaivotas.

Secaram as goiabeiras e assa-peixes,
As flores silvestres, as aquáticas violetas,
Triste destino dos girinos e peixes,
Das abelhas, beija-flores e borboletas.

É triste, dolorido, mas pura verdade.

Teu leito desnudo, sapos e peixes perecendo...
Água sumindo, a vida se esvaindo...
Reage querido, afoga todo tipo de maldade!

Ó meu Ribeirão, meu amigo,

Não te acomodes não!...
Volta a correr, viver com teus irmãos,
Volta!... irriga este chão.

Acalma o meu coração!...

Publicado no http://www.barkaca.com

Haydée Almeida Murta, 83 anos, poetisa, professora aposentada de Berilo, no Médio Jeuqitinhonha, nordeste de Minas.

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