Coisas da Vida
por Clarice Lispector
É incrível como tem pessoas que sabem exatamente o que vai na alma feminina… Na verdade, o que vai na alma humana. Com vocês, CLARICE LISPECTOR:
“Já escondi um amor com medo de perdê-lo,
Já perdi um amor por escondê-lo,
Já segurei nas mãos de alguém por estar com medo,
Já tive tanto medo ao ponto de não sentir minhas mãos.
Já expulsei pessoas que amava da minha vida,
Já me arrependi por isso…
Já passei noites chorando até pegar no sono,
Já fui dormir tão feliz, ao ponto de nem conseguir fechar os olhos…
Já acreditei em amores perfeitos,
Já descobri que eles não existem…
Já amei pessoas que me decepcionaram,
Já decepcionei pessoas que me amavam…
Já passei horas na frente do espelho tentando descobrir quem sou,
Já tive tanta certeza de mim, ao ponto de querer sumir…
Já menti e me arrependi depois…
Já falei a verdade e também me arrependi….
Já fingi não dar importância as pessoas que amava, para mais tarde chorar quieta em meu canto.
Já sorri chorando lágrimas de tristeza,
Já chorei de tanto rir.
Já acreditei em pessoas que não valiam a pena,
Já deixei de acreditar nas que realmente valiam.
Já tive crises de risos quando não podia.
Já quebrei pratos, copos e vasos, de raiva.
Já senti muita falta de alguém, mas nunca lhe disse.
Já gritei quando devia calar.
Já calei quando devia gritar…
Muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar uns, outras vezes falei o que não pensava para magoar outros.
Já fingi ser o que não sou para agradar uns,
Já fingi ser o que não sou para desagradar outros.
Já contei piadas e mais piadas sem graça, apenas para ver um amigo feliz…
Já inventei histórias de final feliz para dar esperança a quem precisava.
Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade…
Já tive medo do escuro, hoje no escuro “me acho, me agacho, fico ali”.
Já caí inúmeras vezes, achando que não iria me reerguer,
Já me reergui inúmeras vezes, achando que não cairia mais…
Já liguei para quem não queria apenas para não ligar para quem realmente queria.
Já corri atrás de um carro, por ele levar embora quem eu amava.
Já chamei pela mãe no meio da noite, fugindo de um pesadelo. Mas ela não apareceu e foi um pesadelo maior ainda…
Já chamei pessoas próximas de “amigo”, e descobri que não eram.
Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim.
Não me deem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre.
Não me mostre o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração!
Não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente!
Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras.
Não sei voar com os pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma para sempre!
Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das ideias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes. Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer:
- E daí? Eu adoro voar!”
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