O músico Pedro Morais faz reapresentação de show do seu terceiro CD, Vertigem, na manhã de domingo, 01.03, no Museu da Pampulha, em BH.
Confira o belo texto de Amanda Melo, sobre Pedro, a pessoa, o artista e seu trabalho.
por Amanda Melo, no seu Blog
Eu ficava me perguntando quando seria a hora de falar sobre o Vertigem. Ei-la!
Sempre admirei a transparência do Pedro. Tanto o cara quanto o artista são meio cativos da própria honestidade. Eu acho isso fantástico.
O mais legal de acompanhar o trabalho do Pedro é ver a evolução e o caminho natural que a carreira dele toma. Isso a gente vê em vários trabalhos, claro, mas no Pedro especificamente eu acho que é uma linha bem mais delineada, talvez pintada com cores mais fortes, sei lá. Acho mais fácil ver e tocar essa linha do que na maioria dos casos.
O Vertigem é o terceiro disco do Pedro. Falei sobre o primeiro e o segundo e cada um deles é um retrato fiel dos Pedros que gravavam naquele momento da vida. Tô falando do cara e do artista. Mesmo sem conviver com o cara Pedro, você acaba percebendo muito sobre ele por causa dessa transparência. A marca de Vertigem é: A exploração e experimentação das sonoridades, da melodia como protagonista ao lado da letra. Muito, mas muito mesmo, muito mais do que no disco 1 e no 2. O Pedro aqui fala em acordes e timbres tanto quanto fala em sílabas. É gigantesca a diferença. E por utilizar mais meios para falar o que nos cala, temos um autocontrole maior sobre os sentimentos e sensações. É a pessoalidade impressa em segundo plano. Não em menor espaço e importância, mas se antes ela era exposta como pedra bruta, em Vertigem ela aparece lapidada e polida. A mesma matéria prima, só que em novo formato. Se antes o Pedro expunha suas dores e feridas abertas, aqui ele as limpou primeiro. Enfim |o|
Esse discão de 12 faixas foi lançado em 2013 com um show de lançamento que surpreendeu muito. Vamo lá conferir?
Para Repetir - Já no início do disco fica clara a continuidade da evolução do Pedro como pessoa e como artista. Talento faz toda diferença, mas investir no talento, estudar, se aprimorar é que diferencia o talento do gênio. Como pessoa o Pedro empresta tudo de si ao artista, isso é muito óbvio nos discos anteriores. Em Vertigem ele não aborda apenas (nem principalmente) temas que envolvam sua própria história. Em Para Repetir ou, se (quando) o faz, é de maneira muito mais sutil, resguardando sua particularidade e usando elementos comuns a todas as vidas. Ou seja: eu conto a minha história nas entrelinhas enquanto você lê a sua própria vida na minha arte. Intencional ou não necessariamente, é isso. Digo mais, nessa faixa, o tema não é efetivamente pessoal, mas aborda justamente a auto contemplação, o auto conhecimento. É um belo início para um terceiro disco. É um cartão de visita.
Liga - Sobre evoluir sem perder a essência. Rs aqui o melhor exemplo de imprimir a própria história sem expor a própria imagem na arte. Liga. Eu adoro essa história. É uma das mais lindas e humanas que já vi. Do lado de cá, de longe, é possível ver todo o encanto e admiração entre dois, e saber que a humanidade de cada um ao mesmo tempo aproxima e afasta o outro. É complicado mesmo ser gente. O que não tem jeito ajeitado está. Esse amor é assim, não tem jeito; está muito bem ajeitado do jeito que está. Vai ser assim sempre. Sempre os dois. E isso é fantástico! Pra quem acompanhou os discos anteriores fica mais fácil entender o contexto. Um amor tão grande que não é completamente conhecido, é descoberto à medida em que é vivido; duas pessoas e as limitações de ser. A união, a separação, a dor. A possibilidade da reaproximação. É fascinante.
Bilhete - Se não me engano Bilhete foi feita para uma espécie de trabalho de mestrado que o Pedro cursou há um tempo. É um poema do Mário Quintana que, pelo menos da versão à qual fui apresentada, sofreu uma leve alteração de "não grite de cima dos telhados" para "não grite de cima dos teus telhados" a fim de caber na métrica da canção. Tenho certeza que o poeta aprovaria a variação. Não sei se é mesmo a versão original a que conheci. Sendo ou não, também não importa. A questão é a canção ficou demais! E no show é super divertido o momento de Bilhete. O refrão tem umas palmas que, durante o show, fazem da faixa um teste de dislexia para o público! Haha pouca gente é aprovada. =p vá ao show e entenda a piadinha cretina (e igualmente ridícula). Haha
Vertigem - Agora sim, cá está o motivo desse disco nesse formato. Vertigem é a exata sensação que atravessa o álbum do início ao fim. Vertigem foi o que representou a fase do Pedro durante a gestação e nascimento desse trabalho. Vertigem. Todas as sensações ao mesmo tempo, um eterno incômodo de dentro pra fora. O Pedro é bem isso, sempre afoito. A faixa é puro deleite. Metais e graves em doses cavalares. Um verdadeiro abismo no qual o ouvinte é lançado assim que aperta o Play. A história é, naturalmente, autobiográfica, mas com uma pessoalidade muito mais sutil do que nos discos anteriores. Há muito do artista em cada coisa e um pouco do cara no muito do artista. Excelência é a palavra de ordem.
A Eternizar - Essa sim, tem o Pedro do segundo disco com o coração estraçalhado mas desta vez não mais focado no drama, mas no todo. Isso, senhoras e senhores, quer dizer solução! Nitidamente o que quer que tenha dado errado já não importa, já não tem tamanho suficiente para fazer morrer o que havia antes."O tempo vai nos guiar pra o dia que toda essa agonia nos evaporar."
Nuvem - Nuvem foi uma das minha preferidas logo que comecei a devorar esse disco. Ela é muito harmoniosa em todo sentido. As vozes ficaram muito coesas e a melodia é ao mesmo tempo estranha e simpática. Talvez seja tudo viagem minha ou tudo pela própria essência da canção. Quem quer que tenha dado nome a ela devia ganhar o Prêmio Interplanetário de Excelência dos Colocadores de Nome em Música. Porque Nuvem é a melhor referência que ela poderia ter. A canção passa-se assim mesmo. É densa e leve, e passa rápido. Tem um instrumental aos 02:16' que falta só pingar as gotas na gente porque é uma chuva aos ouvidos. E assim ela vem e vai. Como nuvem.
Curva da Noite - A ovelha negra do disco. Este é o ponto decisivo para a percepção de mudança e amadurecimento do Pedro. Completamente avessa às demais, essa é uma música plenamente racional. Neste ponto o Pedro consegue desvincular todo o turbilhão de sensações e pessoalidade e aplicar todo o talento e técnica num ponto fixo. A cidade. Talvez um pequeno universo em torno dela, mas objetivamente isso. Um elemento o todos os elementos de que ele é feito. Não há carga emotiva nem traços de intimidade. O que é bom. Na medida certa (que é o caso) é um atestado de evolução a passos do tamanho necessário. Despir-se de si e vestir a camisa de um único elemento sobre o qual se quer divagar e o primeiro passo para despir-se de si e vestir-se do outro. E na pele do outro fica fácil entendê-lo e portanto tocá-lo. É tocando o outro que o artista é. E esse processo só pode existir a partir do processo de auto conhecimento, o mesmo que a gente vê em todas as cores e texturas nos 3 discos do Pedro. Top, né?
O Amanhã - Ironia do destino ou propósito, logo após Curva da Noite, O Amanhã
Às Vezes Só - Nessa faixa você encontra o mesmo moleque do primeiro disco só que com a técnica e o aperfeiçoamento que aprendeu no caminho que fez até aqui. Aquilo que falei sobre manter a essência. Em Às Vezes Só você percebe nitidamente o Pedro do primeiro disco, que esteve também no segundo e agora se apresenta em um look infinitamente mais trabalhado e pensado. A simpatia é marcante na faixa, sempre ele, sempre Pedro. A melodia não. Apesar de sempre bem produzida hoje ela é muito mais explorada do que antes e cada instrumento tem extraído de si tudo o que cabe nessa canção. O áudio também é mais limpo, sinal de melhor qualidade na gravação.
O Grão - Enquanto isso, O Grão vem na contra mão da faixa que lhe antecede. Às vezes Só traz o Primeiro Pedro (!) Do passado para o presente, O Grão traz o Pedro de amanhã, que ainda será, à raiz. A faixa questiona o valor físico e potencial de um simples grão. No maior dos concretos, princípios e verdades abstratos. Valor ou preço? Vale ou custa? Grão ou árvore? Pessoa ou Gente? Pedro primeiro, segundo ou terceiro? Pedro, Sol ou Vertigem? Uma infinidade de questionamentos abstratos. Não estão ali literalmente, mas estão. Junto a todos os outros que o ouvinte projetará de si na faixa."Oh, meu pai, nunca me perguntei: como pode o grão frente a tanto poder?"
Ê Camarada - A faixa Blues Rap Soul (???) deste disco de vários Pedros. São quase 7 minutos sendo quase 3 APENASMENTE instrumentais. É de levantar e dançar! Sem mais definições e divagações. Qualquer ser que tenha corpo vai se matar dançando a todo e qualquer momento em que essa música tocar. Da série Verdades Universais da Música Brasileira: "O tempo é curto pra quem faz o que gosta."
Dubwise feat Victor Rice - É um processador de todos os Pedros até este disco. Um misto de ideias e ideais que submergem todos os Pedros do mundo. Tantas referências, tantas citações que não podem ser delineadas. Muitas texuras e cores num só som. É quase um sinopse, uma apresentação (no fim do disco), um resumo ou talvez até release de todos os Pedros que são, que serão e que se foram até hoje.
Vamos ao que interessa? O disco do Pedro pode ser adquirido por aí em BH, nos shows ou em contato pela internet.
Seguem links importantes para seguir esse som:
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Tem pra baixar naqueles sites de download e (MILHARES DE) vídeos naquele site de vídeos que todo mundo conhece! ;)
Certeza que cês vão amar! ;* mil beijos.
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Texto publicado no Blog Prepare os fones:
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