quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

R$ 20 bilhões de brasileiros estão escondidos em contas do HSBC no exterior.

Por que 8 mil contas de brasileiros em paraísos fiscais não saem no Jornal Nacional?

fevereiro 16, 2015 12:45 - Revista Fórum


Desde segunda-feira, os telejornais do mundo inteiro noticiaram o escândalo mundial do 
banco HSBC ter ajudado milionários e criminosos a sonegar impostos em seus países, 
usando sua filial na Suíça. Mas no Jornal Nacional da TV Globo, nenhuma palavra sobre 
o assunto
Por Helena Sthephanowitz, na RBA
Desde segunda-feira, os telejornais do mundo inteiro noticiaram o escândalo mundial do
banco HSBC ter ajudado milionários e criminosos a sonegar impostos em seus países,
sando sua filial na Suíça. Mas no Jornal Nacional da TV Globo, nenhuma palavra sobre
o assunto.

Não se pode dizer que a notícia é apenas de interesse estrangeiro, pois 8.667 correntistas
são associados ao Brasil, despontando como a quarta maior clientela, com cerca de US$ 7 
bilhões 
– quase 20 bilhões de reais.
O ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco Filho, por exemplo, confessou em depoimento 
à Polícia Federal, ter mantido dinheiro de propinas neste HSBC Suíço durante um período.

No Brasil, não é só a TV Globo que parece desinteressada nesta notícia. O resto da
imprensa tradicional brasileira também reluta em divulgar até nomes que já saíram na
imprensa estrangeira.Um portal de notícias de Angola noticiou a presença na lista da
portuguesa residente no Brasil,

Maria José de Freitas Jakurski, com US$ 115 milhões, e do empresário que detém concessões
de ônibus urbanos no Rio de Janeiro, Jacob Barata, com US$ 95 milhões. A notícia traz dores
de cabeça também para o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB-RJ), pois Barata é chamado
o “rei dos ônibus” e desde junho de 2013 é alvo de protestos liderados pelo Movimento Passe
Livre.

O dinheiro nas contas pode ser legítimo ou não. No caso de brasileiros, a lei exige que o saldo
no exterior seja declarado no Brasil e, se a origem do dinheiro for tributável, que os impostos
sejam devidamente pagos, inclusive no processo de remessa para o exterior. Porém é grande a possibilidade de esse tipo de conta ser usada justamente para sonegar impostos, esconder renda, patrimônio e dinheiro sujo vindo de atividades criminosas. O próprio HSBC afirma que mudou
seus controles de 2007 para cá, e 70% das contas na Suíça foram fechadas.
A receita federal Inglaterra, onde fica a matriz do HSBC, identificou 7 mil clientes britânicos
que não pagaram impostos. A francesa avaliou que 99,8% de seus cidadãos presentes na lista praticavam evasão fiscal. Na Argentina, a filial do HSBC foi denunciada em novembro de
 2014, acusada
de ajudar 4 mil cidadãos a evadir impostos. Segundo a agência de notícias Télam, o grupo de
mídia Clarín (uma espécie de Organizações Globo de lá) tem mais de US$ 100 milhões sem
declarar.
Os dados de mais de 100 mil clientes com contas entre 1988 e 2007 foram vazados pelo ex-funcionário do HSBC Herve Falciani. O jornal Le Monde teve acesso e compartilhou com o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, na sigla em inglês), formado por
 mais de 140 jornalistas de 45 países para explorar as informações e produzir reportagens,
 compondo o projeto SwissLeaks.
No Brasil, o jornalista Fernando Rodrigues do portal UOL é quem detém a lista e deveria
 revelar o que encontrou. Porém sua postura tem sido mais de esconder do que de revelar o
que sabe. Segundo ele, revelará nomes que tiverem “interesse público” (portanto,
independentemente da licitude) ou nomes desconhecidos sobre os quais venham a ser
provadas irregularidades.
Mas o próprio Rodrigues disse que há nomes conhecidos de empresários, banqueiros, artistas, esportistas, intelectuais e, até agora, praticamente não publicou nenhum. Nem o de Jacob
Barata, de claro interesse jornalístico. Só publicou dois nomes já divulgados no site internacional
do SwissLeaks (contas do banqueiro falecido Edmond Safra e da família Steinbruch), o de
Pedro Barusco, também já divulgado antes, e de outros envolvidos com a Operação Lava
Jato, como Julio Faerman (ex-representante da empresa SBM), o doleiro Raul Henrique
Srour, e donos da Construtora Queiroz Galvão.

Rodrigues não publicou nenhum nome de artista, esportista, intelectual, político ou ex-político, contradizendo sua política editorial de revelar tudo que seja de interesse público. Jornalistas
do ICIJ de outros países divulgaram os nomes de celebridades, políticos, empresários. Há atores, pilotos de Fórmula 1, jogadores de futebol, o presidente do Paraguai etc.
A cautela no Brasil é contraditória com o jornalismo que vem sendo praticado pela imprensa tradicional de espalhar qualquer vazamento, sem conferir se tem fundamento, quando atinge
alguém ligado ao governo da presidenta Dilma Roussef ou ao Partido dos Trabalhadores. Esta blindagem de não publicar o que sabe só costuma ser praticada quando há nomes ligados ao
PSDB ou ligados aos patrões dos jornalistas e grandes anunciantes.
Um caso recente não noticiado pela mídia tradicional foi o discurso em 29 de abril de 2013
do ex-deputado Anthony Garotinho (PR-RJ), no plenário da Câmara, em que disse sobre um
 dos donos da TV Globo: “(…) O Sr. João Roberto Marinho deveria explicar porque no ano
de 2006 tinha uma conta em paraíso fiscal não declarada à Receita Federal com mais de R$
100 milhões (…)”. Tudo bem que o ônus da prova é de quem acusa, mas se fosse contra
qualquer burocrata na hierarquia do governo Dilma, estaria nas primeiras páginas de todos
os jornais e o acusado que se virasse para explicar, tendo culpa ou não.
O período que abrange o SwissLeaks, de 1988 a 2007, pega a era da privataria tucana e dos
 grandes engavetamentos na Procuradoria Geral da Republica, enterrando escândalos de
grandes proporções sem investigações.
É só coincidência, mas o próprio processo de transferência do controle do antigo banco
Bamerindus para o HSBC no Brasil se deu em 1997, durante o governo FHC. Reportagens
da época apontaram que foi um “negócio da China” para o banco britânico.
Foto de capa: Divulgação

Nenhum comentário:

Postar um comentário