Entrevero entre o jornalista Ricardo Boechat, da TV Band e o pastor Silas Malafaia gera debate sobre homofobia e linguagem chula do jornalismo.
Na última sexta (19.06), o jornalista Ricardo Boechat lavou a alma de muita gente ao dar uma resposta direta para o pastor Silas Malafaia. Entre comentários que chamavam o pastor de “tomador de grana de fiel” e “homofóbico”, Boechat também mandou que Malafaia fosse “procurar uma rola”. Mas será que rola é mesmo a solução para tudo?
Essa entidade chamada “rola” é sempre apresentada como solução, seja quando as mulheres são assertivas, quando ficam nervosas, quando as feministas reivindicam direitos ou quando uma mulher está simplesmente sendo considerada chata. Junto com as analogias que envolvem a cozinha, a rola é uma das sugestões mais citadas para supostamente apaziguar os ânimos femininos ou silenciá-los.
Aparentemente, a solução sugerida para a homofobia também é rola. Muitos enxergaram a colocação do jornalista como humorística, mas é possível argumentar, no entanto, que o próprio Boechat foi homofóbico ao fazer tal colocação; por sua própria lógica, bastava que ele procurasse uma rola e assim não gastaria mais seu tempo cometendo equívocos no meio de outras frases perfeitamente eficientes.
Essa ideia de que rola é remédio é algo bastante misógino e violento – isso passa a impressão de que o pênis deve ser forçado como cura, como uma correção para um comportamento indesejado das pessoas. Não é por acaso que existe algo chamado “estupro corretivo”, quando mulheres lésbicas são estupradas por homens que acham que elas só são lésbicas porque ainda não foram corrigidas pela rola.
Mandar procurar uma rola ou falar que alguém precisa mesmo é de um pau é algo que, por si, já soa muito incômodo. É também um argumento muito pobre, pois certamente uma pessoa homofóbica não deixará de ser só porque teve um pinto forçado contra sua cara ou corpo. E mesmo que a procura pela rola fosse intencional e totalmente consentida, pênis não é tratamento psicológico e nem política pública.
Para resolver o problema da homofobia de Malafaia, a solução precisa passar por consequências legais, incluindo a responsabilização pelo discurso de ódio que ele propaga, muita psicoterapia e pelo menos algumas aulas sobre gênero, sexualidade e Direitos Humanos. Com um time multidisciplinar e muita dedicação, quem sabe os “Malafaias” não consigam se tornar pessoas mais respeitosas.
Enquanto isso não acontece, uma boa opção é deixar de empurrar a rola como um remédio, solução ou forma de calar pessoas inconvenientes. Até porque forçar a rola em alguém ainda é – e espero que continue sendo – estupro.
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