“Existe muita resistência à ideia de avanços sociais e de extensão de direitos às minorias. A rejeição ao PT deriva também de ser, até então, o partido mais comprometido com a ideia de igualdade”, avalia a professora de Ciências Políticas e coordenadora do grupo, Helcimara Telles. A maior parte dos manifestantes era branca, com ensino superior completo e renda acima de cinco salários mínimos. Esse último dado, no entanto, acabou não sendo compilada, porque as pessoas começaram a evitar revelar a renda “para não parecer que só tem rico protestando”, disse a professora.
Pelo menos um terço dos manifestantes (36,1%) acha que negros, mulheres e homossexuais “têm direitos demais”. A pesquisa mostra que 70,1% são contra as cotas raciais, 77,8% avaliam que os programas assistências deixam as pessoas preguiçosas e 70,7% são contra o programa Mais Médicos. A maioria do grupo também avalia que pobres são desinformados (75,6%) e que os nordestinos têm menos consciência política (56,8%).
Para 78%, o Brasil está pior do que estava há dez anos, o que seria culpa do PT, que faz “um grande mal para o país”, segundo 90,6% dos que protestavam domingo. Somente 33,6% declararam ter ido protestar contra a corrupção e 92% querem o impeachment da presidenta Dilma Rousseff.
“O sentimento é derivado de uma falha do partido, do próprio governo, de ser mais efetivo no combate à corrupção. Mas existe uma parcela dos manifestantes que resiste fortemente ao PT por conta das políticas desenvolvidas nesse tempo no poder. O partido é odiado pelo que fez de ruim, mas também pelo que fez de bom”, explicou Helcimara.
Para a professora, chama a atenção a inserção de pautas conservadoras no discurso dos manifestantes, ao mesmo tempo em que defendem certos valores tidos como democráticos. São 92,6% os que consideram a liberdade de expressão fundamental para a sociedade e 91,2% são contra o fechamento do Congresso Nacional.
Ao mesmo tempo, 46,6% defendem que seja aplicada pena de morte no país, e 61,4% do total defendem o porte de armas para os cidadãos. Defendem a redução da maioridade penal 81,5% e 42% apoiam uma intervenção militar em caso de caos social. Outros 30% acreditam que todos os partidos políticos deviam ser extintos para a criação de novas legendas.
“Temos um perfil, ideologicamente, bastante conservador. É clara a descrença no sistema político, inclusive no próprio resultado da eleição. Temos um caldo autoritário que está crescendo no país e que pode levar ao surgimento de lideranças e de candidatos 'outsiders', que consigam articular esses sentimentos”, explicou a professora.
Segundo Helcimara, é difícil saber quem seria o herdeiro político dessa insatisfação, caso os protestam cresçam e atinjam o objetivo declarado, que é o impeachment da presidenta Dilma.
O candidato derrotado à Presidência da República pelo PSDB, Aécio Neves, foi o escolhido na última eleição por 81% dos manifestantes. Mas, no domingo, somente 50% declararam que votariam nele novamente. Ao mesmo tempo, são expressas intenções de voto no ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa e no deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ).
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