Teófilo Otoni: Polícia suspeita de tráfico de drogas
Medicamento irregular faz a décima vítima
Publicado no Jornal OTEMPO em 15/12/2011 - RAPHAEL RAMOS
Escondido. Lucas, gerente da Fórmula Pharma e que seria irmão do dono, tentou evitar as fotos. Foto de João Godinho
Teófilo Otoni. Uma vistoria feita ontem na sede da Fórmula Pharma, no centro de Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri, revelou mais irregularidades no funcionamento do estabelecimento, investigado pela suspeita de manipulação errada de um antiparasitário que teria provocado a morte de dez pessoas na cidade e no município vizinho de Novo Cruzeiro, entre os dias 20 de novembro e 11 de dezembro..
Ontem à noite, uma fonte da Superintendência Regional de Saúde, que pediu para não ter o nome divulgado, informou que uma idosa moradora do distrito de Pedro Versiani, em Teófilo Otoni, já seria contabilizada como a décima vítima. A informação, segundo a fonte, deverá ser confirmada hoje. Ela teria sofrido reações ao medicamento e morrido no fim de novembro.
Durante as buscas à sede da Fórmula Pharma, policiais civis e técnicos da Vigilância Sanitária encontraram grande quantidade de medicamentos de uso controlado. Entre os remédios apreendidos estão psicotrópicos, que agem como calmantes e também têm ação estimulante e que podem levar à dependência.
Como se trata de uma farmácia de manipulação sem autorização para comercializar esse tipo de medicamento, segundo a delegada Herta Coimbra, a empresa também passará a ser investigada por tráfico de drogas. A produção de outros medicamentos, ainda que autorizados, mas em larga escala, segundo o delegado regional Alberto Tadeu, também confirma que a Fórmula Pharma vinha agindo de maneira irregular, com produção de nível industrial. A empresa deveria produzir os remédios apenas mediante receitas individuais. Os nomes dos medicamentos recolhidos ontem não foram informados.
Além dos remédios, a polícia apreendeu três computadores e documentos, entre receitas médicas e uma lista com o cadastro de clientes. Os nomes, endereços e a quantidade de medicamentos fornecidos às vítimas da ingestão do remédio que teria provocado as mortes constavam nos documentos.
A suspeita é que, em vez de manipular o vermífugo Secnidazol, a empresa tenha usado o Metoprolol, indicado para hipertensão.
Promoção.
Uma outra irregularidade que será investigada é a promoção, anunciada em cartaz na Fórmula Pharma, da venda do remédio Nexium, usado contra azia e dores estomacais. Enquanto o preço normal da caixa com 28 comprimidos chega a R$ 216, na empresa era oferecido a R$ 99,80.
Análise.
A delegada Herta Coimbra encaminhou ontem à análise duas cápsulas entregues por parentes de Madalena Barbosa de Sousa, 81, uma das vítimas. A intenção é confirmar quais substâncias haviam no remédio. Como o corpo foi embalsamado, a delegada descartou a exumação.
Depoimento
Dono de farmácia depõe e fala em sabotagem Em depoimento que durou três horas, ontem, na Delegacia Regional de Teófilo Otoni, o dono da Fórmula Pharma, Ricardo Luiz Portilho, levantou a hipótese de sabotagem na formulação do Secnidazol. "Ele disse não descartar isso. Estava abatido e bastante preocupado", descreveu o delegado de Novo Cruzeiro, César Cândido, que presenciou o interrogatório feito pela delegada Herta Coimbra.
A policial não deu detalhes sobre o depoimento. Disse apenas que a situação "está mais complicada". Portilho deixou a delegacia de óculos escuros, boné e com um papel encobrindo o rosto. Ele entrou em uma caminhonete e deixou o local sem dar entrevistas.
Mais cedo, a farmacêutica Anne Pinheiro Nascimento de Souza e um gerente da Fórmula Pharma, identificado apenas como Lucas ele seria irmão de Portilho , foram ouvidos por Herta. Eles chegaram juntos à unidade e foram interrogados durante uma hora e meia. (RR)
Medo
Moradores devolvem os remédios
A notícia da interdição da Fórmula Pharma tem levado muitos moradores de Teófilo Otoni e região a procurar a Polícia Civil para devolver remédios comprados na farmácia. Diante do temor, a população tem sido orientada a não fazer uso de qualquer remédio manipulado pela empresa. "As pessoas têm que levar esses remédios para a vigilância sanitária", explicou Herta Coimbra.
Pela manhã, a dona de casa Joscelina Gomes Fernandes, 61, encarou uma viagem de duas horas de ônibus da comunidade rural de Rio Manso até a sede da Fórmula Pharma para devolver três frascos com o restante dos remédios manipulados para controle de pressão arterial, colesterol e glicose, que vinha tomando. "Sempre comprei aqui e nunca senti nada. Agora estou com medo", afirmou.
Assustado, o aposentado Heraldo Pereira de Almeida, 61, também levou os remédios que comprou na unidade. Ele disse que mesmo não tendo sido produzidos pela farmácia, prefere não usar. "Se os outros fizeram mal, esse também pode fazer". (RR)
Fonte: Jornal O Tempo
Um comentário:
Um fato lamentável. Pois vitimaram pessoas inocentes..., diante desta triste situação quero, como ex-profissional no segmento de farmácia,( pois atuei como auxiliar de farmácia por mais de trinta anos), venho expressar sentimentos ás vítimas e aos responsáveis pela farmácia.
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