quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Remédio manipulado matou oito pessoas. Três são de Novo Cruzeiro

Remédio preparado em farmácia de manipulação mata 8 pessoas

Três são da cidade de Novo Cruzeiro

A suspeita é de que a matéria-prima tenha sido trocada e as pessoas tenham ingerido anti-hipertensivo em dosagem 40 vezes maior.
Oito pessoas morreram em Minas Gerais após ingerirem cápsulas que supostamente seriam de Secnidazol, medicamento antiparasitário usado no tratamento de doenças ginecológicas. A Secretaria da Saúde tenta localizar 62 cápsulas de Secnidazol, manipulado pela Fórmula Pharma, farmácia de manipulação que tem sua sede em Teófilo Otoni, a 430 quilômetros de Belo Horizonte.

A secretaria suspeita que a matéria-prima do medicamento tenha sido trocada. Pelos sintomas das pessoas que morreram, há possibilidade de elas terem ingerido anti-hipertensivo (metaprolol) em uma dosagem até 40 vezes maior que o indicado. Os sintomas são queda de pressão arterial (hipotensão), batimento cardíaco reduzido (braquicardia), dor no peito, arroxeamento da pele (cianose) e sensação de desmaio.

“Suspeitamos que a matéria-prima seja de um anti-hipertensivo e com isso tenha havido superdosagem. Normalmente, se toma 50 miligramas deste medicamento, metaprolol. Se for 2 gramas (2 mil miligramas), isso significa 40 vezes mais. A suspeita é de que eram comprimidos de metaprolol, de 500 gramas cada. E geralmente as pessoas ingeriram quatro comprimidos para o tratamento de doenças como candidíase”, explicou o subsecretário de Vigilância e Proteção à Saúde, Carlos Alberto Pereira Soares.



Um exame detalhado em cápsulas apreendidas está sendo realizado, mas não há data para um resultado final.
A Fórmula Pharma mantinha estoque de medicamentos manipulados, o que é proibido. Este tipo de procedimento é ilegal porque o remédio, no caso da farmácia de manipulação, é feito sob medida para o paciente. Para manter um estoque, o estabelecimento emitiu remédios em nome de pessoas que já morreram. “Encontramos uma receita em nome de uma pessoa que morreu há quatro meses, mas não podemos dizer que esta pessoa morreu por causa da ingestão de algum medicamento da Rede Pharma”, explicou o subsecretário.

O dono da Fórmula Pharma, Ricardo Luis Portilho, não foi localizado para comentar o caso. Em perfil na internet, ele afirma ser formado em Farmácia pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), desde 1995. Professor de química da rede pública estadual licenciado, ele também seria proprietário de uma farmácia na periferia de Teófilo Otoni, de acordo com investigações da polícia mineira.

Nesta outra farmácia, a secretaria localizou equipamento para produção de medicamento, o que é ilegal, já que o estabelecimento, ao contrário da Fórmula Pharma, não estava autorizado a manipular remédios. A responsável pela manipulação dos medicamentos da Fórmula Pharma é a farmaceutica Anne Pinheiro Nascimento Souza.
Sede da empresa
Nesta terça-feira (13), o governo mineiro encaminha o caso ao Ministério Público estadual. A Polícia Civil mineira investiga o caso e os responsáveis, após identificados, serão indiciados por homicídio culposo (sem intenção de matar). “Precisamos da ajuda da imprensa para salvar vidas. É um caso de polícia, de desvio pessoal, pois estavam produzindo medicamentos ilegalmente”, afirmou o secretário estadual da Saúde, Antônio Jorge.

O subsecretário de Vigilância e Proteção à Saúde ressaltou que, de 180 cápsulas do lote que apresentou problema (do dia 14 de novembro), foram localizadas 50 na Fórmula Pharma. As duas farmácias de Portilho, tanto a de manipulação e a na periferia de Teófilo Otoni, foram interditadas pela polícia, após o caso vir à tona, com denúncias de familiares das vítimas.

O subsecretário explicou que foram encontradas 11 receitas, correspondentes a 68 cápsulas. Com isso, resta agora localizar outras 62 cápsulas do lote considerado letal. “É preferível as pessoas ficarem com medo a morrerem por ingerir este medicamento”, frisou, ao deixar a entrevista coletiva concedida no final da tarde desta segunda-feira (12).

Das oito pessoas que morreram, duas são de Teófilo Otoni, três de Novo Cruzeiro, uma de Itaipé e duas de Ladainha. As cidades ficam no Vale do Mucuri, a cerca de 400 quilômetros da capital mineira. A Polícia Civil mineira promete exumar corpos de pessoas que ingeriram o medicamento da Fórmula Pharma em busca desvendar o caso. O primeiro óbito relacionado ocorreu no dia 26 de novembro e, o último, no último sábado. Um casal permanece internado em Teófilo Otoni, seno um deles em Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Fonte: Secretaria de Saúde de Minas Gerais, via Blog do Jequi

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