Salinas: construção de 30 pequenas barragens incentiva 150 irrigantes na produção do Vale do Bananal
Explorando uma área aproximada de 270 hectares, mas com potencial para produzir alimentos numa área irrigável de 900 hectares, o Vale do Rio Bananal, sediado no município de Salinas, Vale do Jequitinhonha, no norte de Minas, considerado a capital nacional da cachaça, está contribuindo para a contenção do êxodo rural na região do semi-árido.
Entre 2004 e 2010, o Governo Federal, endo a parceria do Governo de Minas, viabilizou investimentos superiores a R$ 22,1 milhões num projeto de irrigação composto pela construção de 30 pequenas barragens, melhoria da via de acesso ao projeto e instalação de sistemas de irrigação.
Com os investimentos realizados, o Vale do Bananal tem se constituído numa grande fonte de produção de frutas, hortaliças e grãos. A atividade emprega cerca de 500 trabalhadores, sendo a maioria composta por agricultores familiares.
“Há seis anos não tenho unhas bonitas e nem o cabelo arrumado, mas trabalhar como agricultora é muito melhor do que os 20 anos que atuei como professora na rede pública municipal de Rubelita”, garante a ex-professora Vera Lúcia Ramos.
Aproveitando os conhecimentos obtidos no curso técnico agrícola, ela trabalha numa área de seis hectares, na companhia da mãe, Maria Ramos dos Santos, e do esposo, Vanderlúcio. “Atualmente tenho uma vida menos estressada. Além disso, por semana, obtemos uma renda média de R$ 500,00 com a comercialização de alface, rúcula, beterraba, cenoura, espinafre, agrião e couve”, comemora Vera Lúcia.
Assim como acontece com a maioria das famílias residentes no Vale do Bananal, a maior parte da produção obtida pela família de Vera Lúcia é comercializada no mercado municipal de Salinas. Mas, pelo fato da produção agrícola ser totalmente orgânica, a procura tem aumentado. Com isso, a agricultora passou a conquistar clientes fiéis, principalmente proprietários de restaurantes e lanchonetes.
Em 2011 a procura pela produção agrícola garantida pela família Ramos foi tão grande que Vera Lúcia não teve condições de fornecer cenoura e beterraba para escolas públicas, através do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). “Não tenho dúvidas de que deixar de trabalhar como professora para me dedicar integralmente à agricultura compensou”, conclui a técnica agrícola.
Emprego e renda
O presidente da Associação dos Irrigantes do Vale do Bananal, Dorivaldo Ferreira de Oliveira, comenta o projeto: “Temos conseguido assegurar a geração de emprego e renda no campo”. O líder comunitário revela que atualmente 160 famílias fazem parte da Associação dos Irrigantes, cada uma trabalhando em áreas que variam de 0,5 a 15 hectares.
A maior parte das lavouras é destinada à produção de hortaliças, mas a produção agrícola vem sendo diversificada com a introdução da fruticultura, liderada pelo plantio de banana, coco e mamão. Outra atividade de destaque é a pecuária de corte e de leite.
A produção leiteira é beneficiada pela Cooperativa de Produtores Rurais de Salinas que fornece parte do produto para o Programa Leite pela Vida, criado pelo Governo de Minas para suprir alimentação de qualidade a famílias carentes dos vales Jequitinhonha, Mucuri e Norte de Minas.
“Mesmo produzindo alimentos apenas em cerca de 30% da área irrigável atualmente ocupada, já temos uma noção clara de que o Vale do Rio Bananal tem condições de ampliar a produção agrícola e abastecer outras regiões do Estado”, assinala o extensionista da Emater, Harley Alex Soares, responsável pela prestação de assistência técnica aos agricultores.
Na mesma linha de raciocínio, o presidente da Associação dos Irrigantes entende que “a experiência do Vale do Bananal deveria ser difundida para outros municípios do Estado pois, além de garantir a perenização de uma importante bacia hidrográfica, viabiliza a contenção do êxodo rural, a geração de emprego e renda, bem como a produção de alimentos de qualidade”.
Novos investimentos
Animado com os resultados que o Vale do Bananal vêm alcançando, Dorivaldo Oliveira explica que está trabalhando para organizar a Associação dos Irrigantes com o objetivo de, futuramente, buscar novas alternativas de investimentos para a região. Uma das metas é investir na compra de máquinas e equipamentos para prestação de serviços aos agricultores, que atualmente enfrentam dificuldades para contratação de mão de obra.
Com o incremento da produção agrícola a diretoria da Associação dos Irrigantes pretende constituir uma central visando viabilizar a compra conjunta de insumos e a comercialização dos alimentos. Ciente dos desafios que os agricultores têm que enfrentar diante de um mercado cada ano mais competitivo, Dorivaldo Oliveira entende que “é preciso que a Associação seja forte para estimular os produtores rurais”.
Atualmente os agricultores do Vale do Bananal não enfrentam maiores dificuldades para a comercialização da produção agrícola, porque a maior parte é vendida na própria região. Além disso, através do apoio da Emater, vários agricultores fornecem parte dos alimentos para a merenda escolar e para entidades de assistência social por meio do Programa de Aquisição de Alimentos, que envolve prefeituras e o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA).
O extensionista Harley Soares avalia que o projeto vem apresentando bons resultados, pois além de garantir a perenização do Rio Bananal, garantiu benefícios para os produtores já instalados na própria região. “O desafio agora é conscientizar os agricultores e seus familiares sobre a importância da ampliação do aproveitamento das potencialidades do Vale do Bananal, o que já tem sido feito através de cursos e palestras ministrados a pequenos grupos de agricultores”.
Pelo fato de estar inserido numa região de terras férteis e com fartura de água, o Vale do Bananal tem passado por um processo de valorização das propriedades rurais. O técnico da Emater revela que nos últimos anos o preço médio do hectare saltou de R$ 3 mil para R$ 15 mil. E, “apesar da valorização das áreas, quem tem alguma propriedade não quer vender porque o futuro aqui é promissor”, garante.
Recentemente, através do Programa de Combate à Pobreza Rural (PCPR), o Governo de Minas entregou um micro trator para a Associação dos Moradores do Baixo Bananal, objetivando facilitar a formação dos canteiros de hortaliças.
Cachaça de qualidade
Além da produção de alimentos, os investimentos realizados no Vale do Rio Bananal, pelo Governo Federal, em parceria com o Governo de Minas, têm garantido a produção de matéria-prima para a produção da famosa cachaça de Salinas.
Dentro do perímetro irrigado existem várias áreas de cultivo de cana-de-açúcar e unidades de produção de cachaça. Parte da produção de cana é fornecida por pequenos produtores rurais, que encontram na atividade uma fonte segura de incremento da renda familiar.
Um dos empreendimentos de destaque do Vale do Bananal é a fábrica das cachaças Seleta e Boazinha, que ocupa área de 120 hectares de cana-de-açúcar. Em 2011 a produção da empresa foi superior a 1,118 milhão de litros de cachaça, com faturamento estimado em cerca de R$ 2 milhões.
O empresário e produtor rural Sabino Pinto, proprietário da Indústria, Comércio e Exportação de Cachaça Sabinosa Ltda., entende que a implantação do Projeto Bananal “trouxe novo alento para os produtores rurais”. “Fui o primeiro a irrigar uma área de 16 hectares. Atualmente tenho 14 marcas de cachaças registradas e, em 2011, obtive uma produção de 68 mil litros. Estou muito satisfeito com os resultados”, atesta. Como integrante da Associação dos Produtores de Cachaça de Salinas, Sabino Pinto revela que atualmente os 22 empresários ligados à entidade produzem anualmente cerca de dois milhões de litros de cachaça e geram mais de mil empregos diretos.
Com informações do MDA e Agência Minas
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