Sob o título, Aumento da criminalidade contrasta com poucos militares e falta de plantão nas delegacias, reportagem do Jornal Estado de Minas de domingo (25) expõe a fragilidade do combate ao crime na região do Vale do Jequitinhonha.
Foto: Sérgio Vasconcelos
´Moradores de Araçuai realizaram passeata para pedir paz e maior combate à impunidade e à violência
Araçuaí, com 36 mil habitantes no Vale do Jequitinhonha, também sofre com a criminalidade, como Padre Paraíso e outros municípios da região. Foram 56 crimes violentos no primeiro quadrimestre deste ano, mais da metade (57%) dos 98 durante todo ano de 2014.
Os dados são da Secretaria de Estado de Defesa Social sobre as ocorrências de homicídios (tentados e consumados), estupros (tentados e consumados), assaltos, roubos, sequestros e cárcere privado. No fim de abril, a população da cidade reagiu e organizou um protesto, cobrando providências das autoridades para combater assaltos, homicídios e tráfico de drogas na região.
Nos últimos anos, houve uma diminuição do efetivo policial em nossa cidade. Também não existem mais plantões na delegacia nos feriados e fins de semana, o que dificulta o trabalho da Polícia Militar. Como consequência, houve aumento da violência e do tráfico de drogas”, afirma o empresário Cleisson Santos Ribeiro, da Associação Comercial de Araçuaí, que liderou o protesto.
O comandante da 222ª Companhia da Polícia Militar de Araçuaí, tenente Gilamarcio da Silva Rocha, diz que o aumento da violência não é exclusividade do município, “está acontecendo em todo o estado de Minas Gerais” e no país. Segundo ele, o crime está saindo dos grandes centros e migrando para os municípios menores.
Para ele, uma das principais causas do avanço da violência no interior são as leis que abrandam as penas. O militar também destaca como problema a falta de um centro de internação para adolescentes infratores na região. Na última semana, um adolescente de 17 anos matou um gari a facadas e horas depois já estava livre, devido à falta de um local adequado para abrigá-lo, informou o tenente.
ASSALTO
Em Barra de Salinas, distrito de Coronel Murta , cidade de 9 mil habitantes, no Norte de Minas, a tranquilidade foi quebrada por um assalto cinematográfico na madrugada no dia 19.
O lugarejo de Barra do Salinas, de pouco mais de 100 casas foi invadido por 13 criminosos, que roubaram 150 quilos de turmalinas e cristais do comerciante Amarildo Ferreira, de 47 anos, avaliados em R$ 1,5 milhão
A quadrilha usou três carros, um deles, roubados na BR-251, na mesma região, pintado com o letreiro da Polícia Civil. Armados, eles danificaram o sistema de telefonia do distrito e as câmeras de circuito interno de filmagem da casa de Amarildo.
“Foram momentos de terror. Fizeram minha família refém e colocaram uma arma na minha cabeça exigindo tudo”, contou o comerciante.
“Foram momentos de terror. Fizeram minha família refém e colocaram uma arma na minha cabeça exigindo tudo”, contou o comerciante.
No mesmo dia, um dos carros usados no assalto foi abandonado em um distrito de Virgem da Lapa, no Vale do Jequitinhonha. A polícia investiga o caso, mas ainda não há pistas.
Isolamento e impunidade favorecem a violência
O coordenador do Núcleo de Estudos Sociopolíticos da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), Robson Sávio Souza Reis, diz que a escalada da criminalidade no interior está diretamente ligada a uma mudança cultural nas pequenas cidades, onde as pessoas ficam cada vez mais individualistas e distanciadas, eliminando a situação em que “todo mundo conhece todo mundo”.
Ele também afirma que, nos últimos anos, houve um esforço do governo para melhorar a segurança nas grandes cidades do estado, que fez com que o crime migrasse para o interior. “Isso também aconteceu no Nordeste do Brasil”, observa.
O especialista também aponta como causa do aumento da violência nas pequenas cidades a impunidade e a lentidão da Justiça e a falta de investigação e prevenção aos delitos.“Temos um modelo em que se cuida somente da repressão, sem valorizar a prevenção dos crimes”, critica Souza Reis.
Como exemplo, ele cita as explosões dos caixas eletrônicos com dinamite que proliferam Brasil afora. “Mas ninguém investiga o roubo da dinamite usada para explodir esses caixas”. Além disso, segundo ele, no Brasil somente 8% dos homicídios são julgados até a última instância. “Mais de 90% das pessoas que matam não são julgadas”, avalia.
Fonte: Estado de Minas / Gazeta de Araçuaí
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