Queima de Judas ainda é tradição no interior
Um antigo costume trazido pelos portugueses e espanhóis para a América Latina, desde os primeiros séculos da colonização européia, a Queima ou Malhação de Judas, ainda é mantido em muitas cidades mineiras.FOTO: Divulgação Prefeitura de Jaboticatubas.
Pelas ruas, fantasias e muita animação
O boneco representa o personagem bíblico Judas Iscariotes, que traiu Jesus Cristo e o entregou ao Sinédrio - conselho supremo e representação dos judeus perante os romanos - por 30 moedas. Com a prisão de Jesus, o traidor arrependeu-se, tentou restituir o dinheiro, mas, repelido pelos sacerdotes, enforcou-se numa corda. A brincadeira seria uma maneira de os católicos se vingarem da traição contra o filho de Deus. Antes de o boneco “morrer” enforcado, como o traidor, tem que apanhar e ser bastante xingado.Malhação do Judas, na Rua dos Lavapés, no bairro Cambuci, em São Paulo-SP
Para alguns historiadores, a tradição seria uma transfiguração da perseguição que os judeus sofreram na época da inquisição. Para outros, o Judas queimado seria uma personalização das forças do mal, vestígio de cultos realizados em várias partes do mundo para obter bom resultados no início e no fim das colheitas. Há ainda alguns historiadores que afirmam o costume ser remanescente da festa pagã dos romanos.
A brincadeira, que em muitas cidades se perdeu principalmente por falta de lugar apropriado e pelo perigo, acontece na Semana Santa, especificamente no sábado de Aleluia ou Domingo de Páscoa. Os bonecos são vestidos com paletó velho, camisa, calça, sapatos, meias colocadas nas mãos e gravata. Normalmente, o corpo - recheado com trapos, panos velhos, raspas de madeira e jornais - é pendurado em postes de iluminação pública, galhos de árvores, porteiras, currais, e depois apanham, são rasgados e queimados.
De algum tempo pra cá, personalidades do mundo político, econômico, artístico ou esportivo, que caem no desagrado popular, têm sua fisionomia estampada no Judas para serem ridicularizadas e tripudiadas.FOTO: Divulgação Prefeitura de Jaboticatubas.
Mascarados se reúnem à população para malhar o traidor
Outra curiosidade é o “testamento”. Trata-se uma sátira das pessoas e coisas locais, preferencialmente escrita em versos. É colocado no bolso do boneco, e alguém deve tirá-lo e ler para todos. A brincadeira só tem graça para o povo da cidade que vive o seu dia-a-dia e conhece os personagens com quem ou a quem o Judas se refere:
“Deixo o sapato rosa com bolinhas azuis para o João
O José me pediu o chapéu de fitas, deixou pra ele
A gravata borboleta deem ao Pedro, como garçom fará bom uso
O paletó já havia prometido para o Carlos, ele usará pra procurar emprego
O cinturão é a cara da Maria, os filhos dela que se cuidem
A camisa social vai para o Geraldo, quem sabe agora ele para de enrolar e se casa
A calça tamanho 56 serve no Antônio”.
Em Jaboticatubas, a 63 quilômetros de Belo Horizonte, uma das cidades que mantém a tradição, o Bando de Judas circula pelas ruas da cidade com suas máscaras extravagantes, ao som de caixas, violas e cavaquinhos, pedindo auxílio para a queima do Judas. À noite, a população, já ansiosa pela leitura dos testamentos, se reúne na praça onde os bonecos são amarrados em suportes de bambus. Devido ao grande número de fogos de artifício colocados dentro dos bonecos, ao atear fogo, eles explodem soltando faíscas coloridas para alegria das crianças.
Divulgado pelo IEPHA-MG
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