sexta-feira, 29 de abril de 2011

Degradação faz deserto avançar sobre o Vale do Jequitinhonha

Degradação faz deserto avançar sobre o Vale do Jequitinhonha
Em 20 anos 1/3 das terras serão improdutivas se não houver controle sobre desmatamento

Um terço do território mineiro corre o risco de virar deserto se nada for feito para combater a degradação do solo.A ameaça, que pode se concretizar em 20 anos, recai sobre 142 municípios que ocupam 177 mil quilômetros quadrados na Região Norte e nos vales do Jequitinhonha e Mucuri, onde predominam os climas semiárido e subúmido seco e de entorno.

As áreas, de baixa precipitação pluviométrica, já são suscetíveis à desertificação, que torna inviável o uso delas para fins econômicos e sociais.

Para piorar, o processo é acelerado pela ação do homem, como indica o Plano de Ação Estadual de Combate à Desertifi cação e Mitigação dos Efeitos da Seca em Minas Gerais (PAE/MG). O estudo foi elaborado pelo Governo do Estado, conforme exigência do Ministério do Meio Ambiente.

Atividades intensas de agricultura e pecuária, desmatamento indiscriminado, irrigação mal planejada e cultivo de monoculturas em ecossistemas frágeis, de baixa capacidade de regeneração, levam à perda da capacidade produtiva do solo e da biodiversidade. De acordo com o engenheiro agrônomo Djalma Marcelino Duarte, os municípios de Francisco Sá, Verdelândia, Monte Azul, Mato Verde e Espinosa, no Norte do Estado, além de Santo Antônio do Jacinto, Pedra Azul e Rubim, no Vale do Jequitinhonha, já se encontram em processo de desertificação.
Rio Jequitinhonha no município de Itinga, no Médio Jequitinhonha. O pasto toma conta até das ilhas, área federal da Marinha.

BIOMAS
Djalma explica que estas regiões, onde se encontram os biomas Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica, apresentam distribuição irregular de chuva. Desta forma, sofrem com o prolongado e rigoroso período de seca, agravado por altas temperaturas. O solo, frágil, ainda é danificado por atividades agropecuárias insustentáveis, queimadas e uso de agrotóxicos.
Com o passar dos anos, a terra fica sem nutrientes, impossibilitando o crescimento de qualquer tipo de vegetação - florestas naturais ou plantações feitas pelo homem. Somado a isso, o desmatamento contribui para deixar o solo liso. Sem a cobertura vegetal, que serve para amortecer as gotas de chuva, a água carrega a terra, abrindo sulcos no terreno.
Matas ciliares do rio Jequitinhonha pouco existem. Aqui, na região de Diamantina, é uma mostra.

“O uso irregular começa, principalmente, a partir dos anos 1970, com a introdução de tratores. Isso contribuiu para o agravamento da situação nestes municípios”, diz o engenheiro agrônomo.
Além da questão ambiental, a perda da capacidade produtiva influencia no desenvolvimento econômico e social destas regiões. “Sem terra para cultivar, famílias precisam se deslocar para
outras regiões”, explica.
No Brasil, o fenômeno da desertificação acontece em todo o Nordeste do país, no Norte de Minas e do Espírito Santo. Desde 2003, ações do Ministério do Meio Ambiente tentam conter o processo.
A Organização das Nações Unidas (ONU) de fine desertificação como danos em áreas de clima semiárido, árido e subú-mido seco. As terras perdem o potencial produtivo devido a variações climáticas, como o aquecimento global, à escassez de chuvas e a atividades humanas degradantes, com impactos ambientais, sociais e econômicos.

Texto do Sérgio Vasconcelos, da Gazeta de Araçuaí

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