terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Filme de cineasta do Vale é visto por 230 mil pessoas, 48 anos após o lançamento


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"O Homem do corpo fechado", longa metragem gravado em 1972, escrito e dirigido por Schubert Magalhães, tem feito sucesso entre os filmes do cinema mineiro, após trabalho exaustivo de recuperação dos originais. Lançado no You Tube, em 2017, teve a audiência e visualização de mais de 230 mil pessoas.
As gravações do filme se deram na região de Conselheiro Mata, distrito de Diamantina, e Monjolos, em paisagens do rio das Velhas. Mas, a fuga do personagem principal, João de Deus, tinha o destino de Cachoeira do Pajeú, terra natal do diretor. 

Sinopse e detalhes
Um vaqueiro de corpo fechado, João de Deus, é contratado para ser o capanga de um magnata dos latifúndios. Apaixonado pela sobrinha do chefe, ele decide fugir com a moça. O patrão, furioso com a história, decreta a prisão dos dois e dá início à uma caçada pelo casal de apaixonados.
“O homem de corpo fechado” (1972) – Roteiro e direção de Schubert Magalhães. Duração: 1h 31 min – Atores: Roberto Bonfim, Esther Mellinger, Angelito Mello.  Participação do violeiro Renato Andrade. Música de Tavinho Moura.

Um cineasta do Vale
O cineasta Schubert Magalhães nasceu, em 1936, no município de Cachoeira do Pajeú, no Médio Jequitinhonha, nordeste de Minas Gerais. Faleceu em Belo Horizonte , em 1984.
Schubert fez parte do movimento de cineclubistas mineiros principalmente na década de 60 e 70. Envolveu-se com o chamado Movimento Marginal do Cinema brasileiro, quando jovens procuravam criar filmes, principalmente curtas-metragem, em preto e branco, com produção independente. O movimento tinha um viés político, de crítica social.
Além do conhecido "O homem do corpo fechado", outro longo metragem dirigido pelo cineasta do Vale foi “Ela e os Homens” (1985), um drama, com duração de 1h 23 min, com roteiro do escritor Alcione Araújo, de Januária, do norte de Minas.  Como  atores participaram Teuda Bara, Cláudia Campos, Jussara Costa. Ganhou o prêmio de Melhor Filme, em 1985, no Festival de Gramado.

Schubert Magalhães será um dos homenageados no IX Encontro de Comunicadores do Vale que acontece na cidade de Araçuaí, dias 17 e 18 de janeiro.  

O Homem do Corpo Fechado (1972)

Produção: Minas Gerais - Brasil
Direção: Schubert Magalhães

História: Schubert Magalhães
Música: Tavinho Moura    
Fotografia: Oswaldo de Oliveira    
Edição: Mário Carneiro
Produção: Victor de Almeida e Flávio Werneck
Direção de produção: Ivan de Souza
Cia. Produtora Del Rey Filmes

Roberto Bonfim - João de Deus
Esther Mellinger - Dinorah
Renato Andrade - Sinhô violeiro
e com Angelito Mello, Milton Ribeiro, Lorival Pariz, Jorge Karan, Ruy Polanah, Emmanuel Cavalcanti, Antônio Araújo, Alvaro Cordeiro, Jota D'Ângelo, Ivan De Souza, Assis A. Horta, Ernesto Moura, Geraldo Neves, Zenon Pinto, Geraldo Prudêncio, Waldomiro Reis e Sérgio Ricci.


Sempre considerado e incluído entre os filmes característicos do Cinema Marginal brasileiro. Mas, com o passar do tempo a crítica já não o trata como uma obra que se filie a esse movimento, marcadamente paulista e carioca, mas que manteve relações com ele, na medida em que foi contemporânea e apoiou-se na mesma base de produção.
O filme foi rodado em 1972, numa região compreendida entre Curvelo e Diamantina, tendo como protagonista o ator Roberto Bonfim, no papel do vaqueiro João de Deus, quando já se esgotava o Cinema Novo. A produção cinematográfica nacional buscava outros rumos, pressionada pela censura do regime militar e pela necessidade de se auto-sustentar, oferecendo ao público um produto mais comunicativo e menos politizado.
Sendo uma produção de concepção totalmente mineira, resultado de um movimento tardio de cineclubistas e críticos que se aventuravam na realização cinematográfica, imaginávamos um filme que tivesse a ver com o nosso substrato cultural.

A inspiração que imediatamente nos conduziu foi a grande literatura de Guimarães Rosa e o universo mítico do Grande Sertão, que já tinham rendido um bom filme paulista, rodado em Minas, com gente mineira no elenco e na produção: “A hora e a vez de Augusto Matraga”, de Roberto Santos.
“O Homem do Corpo Fechado” optou, porém, mais pelo rústico e barroco mundo do Grande Sertão Brasileiro, do que pelos dilemas metafísicos e existenciais de costume. Ao contrário, o conflito fundamental foi buscado no cotidiano mineiro, mas solucionado à maneira dinâmica do western, com muitas cavalgadas, lutas corporais e duelos, tendo por fundo a geografia inóspita e o horizonte imenso assim como no Espagehtti Western Europeu. 

A opção se mostrou acertada em todos os sentidos.

O filme foi visto na época e a avaliação que resiste até hoje é de uma obra genuinamente mineira, com características originais da nossa humanidade e do nosso ambiente natural e cultural, magnificamente traduzidas pelos elementos constitutivos da obra cinematográfica, como atuação, fotografia, música, cenários e figurinos, ordenados por uma direção e uma montagem vigorosas.
Um Espaghetti Western à Brasileira, mas muito realista narrando e mostrando uma história típica de poder e vingança. 

A trilha sonora, a propósito, foi assinada por Tavinho Moura e contou, em sua execução, com nomes como Toninho Horta, Sirlan Antônio, Aécio Flávio, Novelli e o próprio violeiro Renato Andrade, entre outros.
Um final surpreendente com a morte de um poderoso coronel, Trajano dos Reis, que põe pistoleiros contratados para caçar um ex-empregado de sua fazenda por ele ter sequestrado uma jovem que vivia em cárcere privado por ele. 

Uma sina de sangue e vingança atrás de João de Deus, um vaqueiro destemido e corajoso que supostamente teria sequestrado Dinorah, sem saber que ela poderia ser a filha do coronel. O final fica para a interpretação do espectador.
As soberbas atuações de Roberto Bonfim como o vaqueiro João de Deus e do coronel Trajano dos Reis interpretado pelo espetacular Angelito Mello [o Fernando Sancho brasileiro] é inesquecível.



Isso só foi possível porque pudemos contar, para montar a produção em bases profissionais, com a infra-estrutura do cinema brasileiro daqueles anos, instalada no Rio e em São Paulo, que nos forneceu quadros e metodologias do Cinema Novo, da pornochanchada e do Cinema Marginal.
Uma produção feita com carinho e um resultado magnífico que marcaria uma mudança radical na forma de se fazer cinema no Brasil explorando a vida natural do campo. 

Exitem cópias hoje disponíveis na Web como no Torrent e Youtube.
Filme Completo no You Tube:
https://www.youtube.com/watch?v=__f8lgONBgc

Fonte: http://bangbangitaliana.blogspot.com/2015/07/o-homem-do-corpo-fechado-especial.html

Inspiração literária
O jornalista e produtor do filme, Victor de Almeida, explica que o mote que serviu de inspiração a Schubert foi a frase "tudo ali, pelo dito, quer que deva reger não o devido, mas o dado", proferida por Riobaldo " personagem que conduz "Grande Sertão: Veredas", de Guimarães Rosa.
"Com essas palavras, o vaqueiro Riobaldo denuncia a opressão que domina o "Grande Sertão" e que só o homem, na luta pela sua afirmação humana, é capaz de superar. A partir dessa indicação, o cineasta Schubert Magalhães construiu seu primeiro longa-metragem", escreve.
Ele ressalva, porém, que "O Homem do Corpo Fechado" optou mais pelo patos roseano do que pelos dilemas metafísicos e existenciais com os quais o autor lida.
"O conflito fundamental foi buscado no cotidiano da vida mineira, mas solucionado à maneira dinâmica do western norte-americano, com muitas cavalgadas, lutas corporais e duelos a tiros. A opção se mostrou acertada em todos os sentidos. O filme foi visto à época " avaliação que resiste até hoje " como uma obra genuinamente mineira, com características originais da nossa humanidade e do nosso ambiente natural e cultural, magnificamente traduzidas pelos elementos constitutivos da obras cinematográfica, como atuação, fotografia, música, cenários e figurinos, ordenados por uma direção e montagem vigorosas", aponta.
Uma curiosidade é a presença, no elenco, do violeiro Renato Andrade, que, ainda nos primeiros passos de sua carreira musical, interpretou o personagem Sinhô Violeiro.
"Poderão ser feitas novas cópias do filme para cinema, vídeo e televisão, o que atenderá ao público em geral e também a historiadores, pesquisadores e estudiosos interessados no cinema brasileiro e sobretudo mineiro", diz Victor.
Fonte: https://www.otempo.com.br/diversao/magazine/faroeste-mineiro-1.323670

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